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Youth Lagoon transforma memórias em música em Rarely Do I Dream

Foto do escritor: Marcello AlmeidaMarcello Almeida


Um disco que reafirma Trevor Powers como um dos artistas mais inventivos de sua geração

 Trevor Powers
Imagem: Reprodução

Quando Trevor Powers anunciou o fim do Youth Lagoon em 2016, parecia que aquele capítulo havia sido encerrado de vez. Nos anos seguintes, ele explorou caminhos mais experimentais sob seu próprio nome, deixando para trás a melancolia etérea que marcou seu projeto mais icônico. Mas, em 2023, o Youth Lagoon ressurgiu com Heaven Is a Junkyard, um disco introspectivo, guiado pelo piano, que trouxe um artista mais maduro e centrado.


Agora, dois anos depois, Powers retorna com Rarely Do I Dream (2025), um álbum que não só sintetiza todas as suas fases anteriores, mas também amplia sua paleta sonora. É um trabalho que revisita o passado de forma quase literal, incorporando trechos de fitas VHS da infância do músico e transformando lembranças em canções profundamente pessoais.


Dessa vez, Powers trocou o piano pela guitarra como instrumento principal de composição, o que já diz muito sobre a abordagem do disco. Se Heaven Is a Junkyard era pastoral e contido, Rarely Do I Dream é mais expansivo, carregado de texturas e variações de intensidade. A faixa de abertura, Neighborhood Scene, dá o tom dessa jornada nostálgica: um tributo aos amigos de Idaho, costurado por melodias melancólicas e trechos de conversas gravadas, que soam como fragmentos de um sonho perdido no tempo. Esse conceito se repete ao longo do álbum, com Powers equilibrando momentos introspectivos e atmosferas grandiosas.



No meio desse fluxo de memória e experimentação, surgem algumas das faixas mais ousadas de sua carreira. Speed Freak joga sintetizadores estridentes e batidas aceleradas na mistura, flertando com uma sonoridade quase clubber. Perfect World mergulha no shoegaze, enquanto Lucy Takes a Picture combina orquestrações e batidas quebradas em uma atmosfera que remete ao trip-hop noventista. Já Saturday Cowboy Matinee insere elementos de um pop noir, brincando com gravações caseiras e ruídos de fita cassete, reforçando a estética de um diário sonoro repleto de memórias.


Mas Rarely Do I Dream também sabe ser delicado. My Beautiful Girl, ancorada no piano, resgata a fragilidade emocional que sempre esteve presente na obra de Powers, com um refrão que ressoa sua melhor tradição melódica. O álbum se encerra com Home Movies (1989-1993), uma colagem de diálogos que sintetiza o espírito do projeto: um arquivo pessoal transformado em música. E talvez essa seja sua única armadilha – por vezes, Rarely Do I Dream soa como um disco feito para uma audiência de um só. Mas é exatamente essa entrega honesta, quase despretensiosa, que faz com que o trabalho tenha tanto impacto.


No fim, Rarely Do I Dream não é apenas um retorno ao passado; é a prova de que o Youth Lagoon nunca foi um projeto preso no tempo. É um trabalho que olha para trás, mas não se limita à nostalgia. Ao contrário, ele se move, se expande e desafia suas próprias origens, reafirmando Trevor Powers como um dos artistas mais inventivos de sua geração.

 

 

Rarely Do I Dream

Youth Lagoon


Ano: 2025

Gênero: Indie Pop

Ouça: Speed Freak, Perfect World, Rarely Do I Dream

Pra quem curte: Chanel Beads

Humor: Reflexivo, Atmosférico, Etéreo

 

NOTA DO CRÍTICO: 7,5

 

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