Além disso, ele nos lembra do sabor reconfortante de ter a presença de pessoas agradáveis ao nosso redor.
Wonka, sob os cuidados da caprichada direção de Paul King, consegue magistralmente transformar essa experiência cinematográfica em algo belo, peculiar e nostálgico, recheada de novas músicas, elementos criativos e atuações memoráveis, como no caso de Timothée Chalamet, que brilha em um deleite festivo um tanto divertido.
Essa nova imersão no mundo mágico, por vezes sombrio, do icônico Wonka imprime uma sensação aparentemente doce ao personagem. O diretor tem o devido cuidado ao introduzir camadas divertidas com cenas que, no mínimo, nos fazem refletir por alguns instantes sobre a vida. É como se ele estivesse nos transmitindo a importância de celebrar os prazeres da vida com o sabor delicioso dos chocolates.
Dessa forma, o filme abre portas para a reflexão sobre a exaustiva rotina diária que cada um de nós enfrenta atualmente. Além disso, ele nos lembra do sabor reconfortante de ter a presença de pessoas agradáveis ao nosso redor, acrescentando um toque mais leve e doce à jornada chamada vida. Embora essa noção não seja revolucionária, ela continua reconfortante e tão agradável quanto degustar uma barra de chocolate.
E não poderia existir momento mais oportuno para a chegada dessa obra; fim de ano, estamos próximos ao Natal, e nesse período do ano, todos adoramos extrapolar um pouco mais no açúcar, não é verdade?
Inspirado no notável protagonista de Charlie e a Fábrica de Chocolate, obra infantil marcante de Roald Dahl e um dos livros para crianças mais vendidos de todos os tempos, Wonka narra a fascinante jornada do maior inventor, mágico e produtor de chocolates, revelando como ele se transformou no adorado Willy Wonka que é reconhecido nos dias de hoje.
Outro aspecto que merece destaque na obra de King é a trilha sonora. Wonka se revela como um espetáculo musical que nos brinda com sete novas canções originais compostas por Neil Hannon, cantor e compositor irlandês conhecido por fundar a banda The Divine Comedy no Reino Unido. As músicas não apenas constituem uma notável homenagem à Era de Ouro de Hollywood, mas também trazem o frescor pomposo característico dos clássicos do passado. No âmbito musical, é essencial mencionar a notável versão de Hugh Grant para o clássico 'The Oompa Loompa Song'.
Entretanto, mais uma vez, é necessário voltar os olhos para a incrível atuação de Chalamet, que demonstra ser um cantor e dançarino bastante competente. Ele apresenta um estilo vocal nítido e discreto, detalhe que aponta e sinaliza algo positivo para seu papel no próximo filme biográfico de Bob Dylan. Sua interpretação de Willy Wonka é ousada, generosa e ocasionalmente intrigante, proporcionando uma experiência divertida que contribui para suavizar os elementos peculiares na trama.
Um jovem ambicioso, totalmente consciente de sua capacidade singular de transformar sonhos em deliciosos chocolates, cuja postura contra o establishment talvez seja mais motivada por interesses pessoais (e por um vazio insaciável que reside em sua alma) do que por uma genuína inclinação altruísta.
O caminho do jovem é árduo, e nele, ele irá se deparar com uma bruxa obstinada, Sra. Scrubbit, muito bem representada pela talentosa e carismática Olivia Colman. Outra atuação que agracia os olhos do telespectador. É sempre muito bom ver Colman em ação nas telas. No entanto, esse é apenas um dos obstáculos no caminho do jovem entusiasta dos chocolates. Para Willy alcançar seus objetivos, ainda terá que lidar com um grupo de três poderosos empresários corruptos do setor de cacau - Fickelgruber (interpretado por Mathew Baynton), Prodnose (interpretado por Matt Lucas) e Slugworth (interpretado por Paterson Joseph) - que exercem influência sobre o chefe da polícia da cidade (interpretado por Keegan-Michael Key), mantendo-o sob controle.
Muito do gosto nostálgico e das reviravoltas na trama são méritos do co-roteirista Simon Farnaby, que escreveu o roteiro ao lado de Paul. Juntos, conseguem criar uma ideia inicial para Willy Wonka, que chega a uma cidade europeia luxuosa e extravagante com o sonho de estabelecer sua própria boutique de chocolates e guloseimas na elegante Galeries Gourmet. Até mesmo a ingenuidade do jovem é muito bem articulada e desenvolvida por Chalamet com primor; mesmo nas partes mais sombrias, o ator consegue imprimir fielmente as emoções de seu personagem.
Diferente do doceiro seguro interpretado por Wilder, Wonka de Timothée é um tanto estranho e descentralizado, cheio de sonhos e ambições que são narrados entre cantos e danças durante o espetáculo musical. Cenas que são banhadas por uma ótima fotografia conseguem retratar as emoções de cada momento e aspiração do personagem. Ainda sobre ótima atuação de Grant como um atrevido Oompa Loompa laranja em busca do chocolate de Willy, rouba a cena muitas vezes no filme. Grant, que desempenhou o papel de vilão na notável obra de King, Paddington 2, incorpora totalmente o cenário antes de projetá-lo na tela com maestria.
Assim como nos filmes de King relacionados a Paddington, Wonka é elegante, apresentando seu próprio conjunto distinto de regras visuais. Os cenários, que incorporam diversas influências europeias, são vibrantes, divertidos e frequentemente desafiam as convenções físicas. Sua estética parece mais teatral do que cinematográfica, uma característica que King explora com efeitos práticos e cenários magníficos que servem como pano de fundo para grandiosos números musicais. Dada a natureza musical, as performances são expansivas, alegres e por vezes extravagantes, mas tudo se traduz em uma experiência muito divertida. O filme emana charme e calor, evocando a mesma alegria cativante vista em Paddington e sua sequência.
Wonka
Wonka
Ano: 2023
País: EUA/Reino Unido
Gênero: Aventura, Fantasia
Direção: Paul King
Roteiro: Simon Farnaby, Paul King
Elenco: Timothée Chalamet, Olivia Colman, Hugh Grant, Jim Carter e outros
Duração: 116 min
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