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Foto do escritorEduardo Salvalaio

Uma Lição de Esperança: quando a criatividade e a inteligência burlam os horrores de uma guerra

O filme opta por sensibilizar usando mais diálogos cruciais em troca de cenas muito violentas e cruéis a todo instante.

Foto: BBC


Para alguns cinéfilos, filmes que retratam a Segunda Guerra podem não trazer mais tantas novidades e, de certa forma, talvez a temática já foi sugada demais e agora esteja estagnada. Entretanto, existe quem considere que o tema pode ainda ser muito bem aproveitado e render uma produção que chegue com um diferencial a mais em sua trama.


Trazendo uma sinopse bem interessante, Uma Lição de Esperança (Persian Lessons, 2020) do diretor ucraniano radicado canadense Vadim Perelman chega para se provar que existem sim muitas ideias inovadoras que o Cinema pode usar quando o assunto são tramas baseadas em guerras, sobretudo quando o assunto envolve a cruel Segunda Guerra Mundial.



O ano é 1942. O belga Gilles (Nahuel Pérez Biscayart) está no interior de um caminhão rumo a um campo de concentração. Após uma troca com um dos prisioneiros, o jovem fica com um livro de língua persa. Mal sabe ele que esse será um item que poderá salvá-lo da morte. Exatamente é o que acontece após ser poupado de um fuzilamento dizendo ser persa e não judeu.



Gilles, se passando por persa e assumindo o nome falso de Reza Joon, pode ser agora um recurso valioso para o austero e arrogante cozinheiro nazista Klaus Koch (Lars Eidinger). O oficial deseja aprender o idioma para executar alguns planos após o término da guerra e coloca toda sua confiança em Gilles, apesar das reclamações e das suspeitas de outros soldados e oficiais.


Com Gilles, o filme reverencia o uso da criatividade e da inteligência para vencer os horrores da guerra. Sem apelar para a brutalidade ou uso da força física, o prisioneiro garantirá sua sobrevivência ludibriando Klaus, ao mesmo tempo em que gradualmente vai conquistando a confiança do oficial, garantindo sua sobrevivência.


Mas passar por Klaus não será nada fácil. Tipo de oficial que tem o respeito de todos, que é capaz de criticar até a caligrafia mal feita de uma subalterna e que não aceita ser enganado.


O jovem começa a criar um repertório de palavras seja quando está alimentando outras pessoas, seja quando fica responsável pela lista de prisioneiros que chegam ao campo de concentração (tarefa essa que posteriormente trará uma cena que nos passa um frio na barriga).


Embora não exagere na violência, Perelman consegue trazer cenas chocantes que ficarão grudadas na mente mesmo após o término do filme: um prisioneiro que abraça seu irmão para receber golpes de cassetete no lugar dele ou quando Gilles olhando pela janela de sua prisão e observa mais um grupo de prisioneiros ser fuzilado.


Entretanto, também existe uma abordagem tomando como base o lado dos alemães. O diretor igualmente mostra o Nazismo começando sua ruína, seja pela aproximação cada vez maior dos aliados (como os ingleses), seja pelo próprio clima conturbado entre os nazistas dentro do campo de concentração. Um ambiente que começa a se deteriorar por invejas, ciúmes, boatos e desconfianças. Tudo bem que esse cenário garante uma maior dinâmica a personagens secundários como Max (Jonas Nay) e Elsa (Leonie Benesch).



Num filme com um elenco sólido, é preciso ressaltar a atuação de Nahuel Pérez Biscayart e Lars Eidinger. Uma carga dramática realçada pela interpretação de ambos os atores. O filme opta por sensibilizar usando mais diálogos cruciais em troca de cenas muito violentas e cruéis a todo instante.


É a construção gradual da relação entre esses personagens que cria a tensão necessária. Desconfiamos que essa relação não está segura sobretudo quando a o cerco contra os alemães começa a mudar a estrutura do sistema nazista. Com o nervosismo à flor da pele e com os nazistas começando a fugir dos campos, será que Klaus e Gilles continuarão nessa relação de confiança?

E o que seria de um filme de Guerra/Drama sem o final que costuma ficar ecoando em nossos cérebros por um bom tempo ainda? A exemplo de filmes como Platoon (1986), A Lista de Schindler (1993) e O Pianista (2002), aqui não é diferente.



Minutos derradeiros que passam impacto e emoção, que mais uma vez caem como uma bela mensagem, um aviso necessário para que esses horrores não voltem a se repetir. Novamente, soltamos mais algumas lágrimas com as falas finais que o filme deixa.

 

Uma Lição de Esperança

Persian Lessons


Ano: 2020

Direção: Vadim Perelman

Roteiro: IIja Zofin

Gênero: Drama/Guerra

Duração: 127 min

Elenco: Nahuel Pérez Biscayart, Nahuel Pérez Biscayart


 

NOTA DO CRÍTICO: 7,5

 

Trailer:




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