O filme busca criar uma atmosfera retrô, homenageando o longa de 96 e a era de Hollywood da época
O gênero de cinema desastre é uma categoria de filmes que explora catástrofes e desastres naturais em larga escala, sempre visando um amplo grau de destruição com consequências dramáticas. Muitas vezes, esse gênero tem um grande número de bilheterias nos cinemas devido à proposta e ao uso de CGI para recriar cenas realistas e fidedignas, mas muitos acabam recebendo críticas mistas. É aquele tipo de filme para passar o tempo e se divertir em uma tarde de domingo com a família.
No entanto, muitas dessas obras também aproveitam sua temática e o alcance do público para trazer mensagens e até mesmo críticas ao sistema capitalista, que frequentemente visa lucrar com as tragédias de pessoas e comunidades inteiras. Twisters (2024), do diretor Lee Isaac Chung (Minari), traz um pouco dessa visão de grandes corporações que almejam ganhar cada vez mais com os desastres causados pelos tornados e com as dores de várias pessoas.
Mas o que mais é necessário em um filme de catástrofe para conquistar o público, além de um drama envolvente? Sim, bons personagens, pelos quais o telespectador deve criar afinidade e passar a torcer por eles; e cenas aterrorizantes, para que o público possa sentir na pele um pouco da tensão envolvida. Twisters entrega muitos desses elementos, mas não é tão relevante e bom quanto o original de 1996. O filme até busca criar uma atmosfera retrô, como uma espécie de homenagem e nostalgia ao longa de 96, ou até mesmo uma ode à era de Hollywood da época.
Comparado ao original de 96, muita coisa mudou em Twisters. Por um lado, o elenco é significativamente mais jovem, o que pode refletir o público-alvo, e é curioso observar por que se atribui a responsabilidade do estudo da física meteorológica a uma empresa tão jovem. No entanto, algo que não é mais aceitável hoje em dia é ignorar as mudanças climáticas em nosso planeta. Embora existam algumas referências sutis, como “mais tornados nos últimos anos” ou “a ração para animais de estimação ficou mais cara”, ninguém está realmente abordando as questões essenciais sobre por que esses desastres naturais também são consequências das mudanças climáticas.
Na trama, acompanhamos Kate (Daisy Edgar-Jones) e seus amigos caça-tornados tentando testar seu protótipo de desacelerar e parar um tornado. Os primeiros momentos do filme são bem tensos, e é claro que algo vai dar muito errado com esse experimento. Alguns anos se passam, e um de seus amigos, Javi (Anthony Ramos), funda a Storm Par, uma empresa que faz mapeamento em 3D de tornados, e convence Kate a voltar para as perseguições de tempestades. Nessa nova empreitada, ela conhece um caipira, Tyler Owens (Glen Powell), em Oklahoma, e seus amigos, conhecidos como os "vaqueiros de tornados."
Além de toda a ação e aventura, não pode faltar aquele clima de romance. O roteiro de Mark L. Smith faz isso muito bem em Twisters. Temos aquela atmosfera romântica instaurada no ar, ao estilo de Nicholas Sparks, com um triângulo amoroso que acaba fazendo o público se interessar pelos personagens e torcer por um desfecho entre eles, ao mesmo tempo que revela as verdadeiras intenções de cada um na narrativa da história.
O carisma de Powell é um dos grandes destaques desse filme, ele é um ator genuíno e torna tudo mais divertido durante a saga pelas estradas atrás de grandes tornados. A química entre ele e Daisy funciona, mas por algum motivo o longa optou por não acender a faisca, que por um lado é positivo, sempre fica aquela espectativa do que vai rolar entre eles e ao mesmo tempo não tira o foco da ideia principal de Twisters.
Recentemente, houve episódios reais de tornados em Oklahoma que deixaram caos, mortes e destruição total. Nesse ponto, Twisters tenta levar ao seu público um pouco da dimensão e fúria de um tornado. Os efeitos de CGI agradam na maioria das vezes, porém o filme sempre corta uma cena eletrizante quando ela vai atingir seu ápice. Talvez isso seja algo proposital para aflorar a imaginação de quem está do outro lado da tela, mas muitas vezes pode causar um certo descontentamento, porque você quer ver o "trem pegar fogo", quer ação, adrenalina e a famosa luta pela sobrevivência.
Twisters agrada, prende a atenção durante seus 122 minutos, o carisma de Powell diverte e leva o filme nas costas, Kate por sua vez se mostra ser uma ótima heroina, destemida e convicta de que aquilo realmente pode funcionar. A trama também tem aquela façanha de sempre colocar seus personagens diante de situações nas quais eles precisam tomar decisões complicadas e difícies, mas não era de se esperar menos tendo a produção por conta de Steven Spielberg e Frank Marshall.
Twisters é um blockbuster agradável e divertido, que cumpre muito bem sua função de entreter. Boas cenas, uma fotografia que agrada e age perfeitamente para a ambientação do longa. Twisters naturalmente se beneficia dos avanços técnicos das últimas três décadas, com o uso de computação gráfica para trazer cenas de destruição impressionantes para a tela.
Se você apreciar esses efeitos, certamente achará que vale a pena o tempo investido, especialmente considerando que filmes de desastre de grande orçamento se tornaram uma raridade. Embora os temas sociais e pessoais tentem conferir profundidade ao filme, você pode simplesmente relaxar e aproveitar um clássico sucesso de bilheteria de verão, que ainda trata o cinema como um grande evento.
Twisters
Ano: 2024
Gênero: Ação, Aventura
Direção: Lee Isaac Chung
Roteiro: Mark L. Smith
Elenco: Glen Powell, Anthony Ramos, Daisy Edgar-Jones
País: Estados Unidos
Duração: 122 min
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