26 de jan. de 20233 min de leitura

'Turn The Car Around'; quarto disco solo de Gaz Coombes é primoroso e expansivo

Atualizado: 26 de jan. de 2023

O melhor momento da carreira solo do vocalista do Supergrass até o instante.

Gaz Coombes pode ser aquele músico o qual a carreira solo possa ter passado despercebida aos diversos ouvidos e holofotes da vida. Se formos parar para analisar, são mais de 30 anos à frente do grupo Supergrass e mais de dez em carreira solo. Acontece que Coombes não fez tanta polêmica quanto um Gallagher e nem se mostrou ser prolífico quanto um Damon Albarn, apesar de Coombes ter uma linha memorável de composições que balançam entre baladas tristes e outras mais enérgicas, em qualquer circunstância, ele pode te fazer sair cantando por aí, seus versos líricos e pontuais que são muito bem ancorados por sua voz agridoce e agradável.

A prova, disso tudo, está no seu mais novo trabalho solo (o quarto na discografia), ‘Turn The Car Around’, um disco predestinado a se tornar um grande tesouro desse 2023, que precisa ser desbravado e descoberto por outros vários ouvidos e amantes de uma boa música adocicada por vocais profundos e instrumentais vibrantes com aquele terno poder de te fazer viajar por inúmeros lugares e mundos sem sair do seu lugar, quarto ou sala de estar.

“Overnight Trains” é daquelas canções que começam vagarosamente e aos poucos vai crescendo se entregando por completo ao ouvinte. Pronto, a conexão de ouvinte com a obra está feita e Coombes acerta ao já deixar explícito ao que o disco propõe logo nos primeiros minutos. Você mal respira entre o intervalo de uma faixa para outra e já é socado por uma canção poderosa e harmoniosa, “Don’t Say It’s Over” cria uma paleta de cores noturna um tanto familiar, mas com espírito aventureiro e destemido. Vocais e melodias em completa sintonia. “Feel Loop (Lizard Dream)” pode ir de Radiohead a Beck em instantes, sem perder o equilíbrio do álbum. Pode ser aquela faixa mais ousada e experimental de ‘Turn The Car Around’, que deixa aquela nostalgia de anos 90 com 2000.

Pulamos uma faixa e temos a linda e emocional “Not The Only Things” composta para sua filha autista. A faixa começa com dedilhados acústicos e, depois, cresce com floreios de camadas e harmonia, enquanto os ritmos fora de ordem e chocalhos de “This Love” dão lugar a uma linha de refrão central que se aproxima do eterno David Bowie.

São inúmeros pontos referenciais, mas ‘Turn The Car Around’ os usa com sabedoria para seguir sua distinta e própria estrada sonora com uma qualidade musical que vai fazer essas melodias ficarem por horas e horas em sua cabeça, este com certeza é o melhor momento e conquista do vocalista do Supergrass.

Apesar de em alguns momentos a obra tender para traços do Supergrass, este é um álbum maduro, com inspirações e emoções. 'Turn The Car Around' pode ser resumindo em uma única frase: 'uma busca por uma alma cativante e apaixonada', é isso que essas 9 faixas transmitem em torno de pouco mais de 37 minutos. Um conjunto de canções que refletem sobre a vida moderna, experiências e lutas que enfrentamos diariamente em um mundo veloz e tecnológico.

Cada faixa deste disco parece mergulhar profundamente em uma ambientação cinematográfica, traduzindo aquele sentimento nostálgico, assombroso e emocionante. Um bom exemplo disso se encontra em "Sonny The Strong", uma canção que narra a luta de um boxeador contra os seus próprios demônios. Uma mistura agradável de pianos e guitarras que criam uma textura rica e misteriosa com elementos e batidas lo-fi.

O disco está repleto de mudanças sutis de camadas e texturas, o que torna o trabalho distinto dos álbuns anteriores de Gaz, mas, ao mesmo tempo, ele contém um instinto viajante e libertador, o que faltou em ‘World’s Strongest Man’ de 2018. Esses temperos enaltecem a doçura de faixas pop como “Dance On” que fecha esse belo registro de um músico destemido que consegue expandir sua música sem muitos esforços e sem sair por aí gritando seu talento de composição. Tudo que Coombes não quer nesse momento é fazer barulho e com isso de alguma maneira ele consegue soar jovial novamente feito um adolescente ouvindo "Alright".