O Galope do Tempo, Marcelo Nova: Conversas com André Barcinski
Marcelo Nova pode ser considerado um “dinossauro do rock brasileiro”. Um verdadeiro anarquista, antissocial e conservador. É também o fundador e vocalista da banda Camisa de Vênus, uma das mais emblemáticas e importante para o Rock brasileiro. Dono de uma extensa carreira solo, Marcelo Nova lançou discos formidáveis se consagrando como um ótimo letrista brasileiro.
Em sua vasta discografia, destaca-se O Galope do Tempo, um álbum temático importante na música pop brasileira e tido como um dos seus melhores trabalhos. Um álbum ousado, pessoal e incomum, e que levou uma década para ser lapidado.
Já o livro O Galope do Tempo foi elaborado a partir de entrevistas conduzidas pelo jornalista André Barcinski. O livro resgata a imaginação artística de um dos maiores nomes do rock brasileiro de uma forma às vezes meio acida, por hora irônica, mas acima de tudo verdadeira e honesta.
Um verdadeiro aficionado por discos, fã de Bob Dylan, Marcelo Nova é um colecionador incansável de discos de Rock, Blues, Jazz e amante de filmes Noir. Nascido no longínquo ano de 1951, antes do início do rock, Marcelo vem dos primórdios. Quando Bill Haley gravou a clássica “Rock Around the Clock” ele já estava por aqui.
No livro, ele faz revelações diversas, como de que o primeiro disco que o marcou foi Here’s Little Richard: “Eu ouvia esse ritmo totalmente alienígena e não sabia falar inglês. Eu não sabia que diabo era esse Little Richard”. E que acha o grunge desnecessário, com letras melosas e medonhas (risos).
O músico conta de forma aberta e sincera sua história pessoal e profissional. De forma inusitada, por meios de entrevistas que levaram cerca de três anos, fala da infância, da adolescência e como foi crescer em Salvador, “a cidade do Axé”; a relação com os pais e as influências musicais que de certa forma o moldaram desde criança.
A banda Camisa de Vênus também é citada: as histórias do primeiro álbum – intitulado por ele de “tosco” -, e do efêmero sucesso de canções como “Só o Fim”e “Eu Não Matei Joana D’Arc”. Também estão no livro declarações sobre a carreira solo, a parceria e amizade com Raul Seixas, com detalhes de produção dos discos, processo de composição, e como ele se cobra nesse processo de compor. Tudo isso diluído em diversos temas e assuntos.
Esse é um livro obrigatório a todos fãs não só do músico, mas também de cultura pop, literatura e Rock’n’Roll. Para além da música, há aqui assuntos diversos: explanações sobre cinema, Brasil, Carnaval, drogas, tatuagens e muito mais. Sim, Marcelo de fato tem muita coisa para contar. É como já no prefácio, o próprio Barcinski afirma: “Tem gente que fala muito e não diz nada. Marcelo fala muito e diz muito”.
Consolação: Carlos Messias
Consolação é um romance aventurado pela cultura pop, narra a vida de Marcos Camargo e sua rotina conturbada, regada a drogas, álcool, sexo, mulheres e trabalho. Uma jornada de desventuras em séries.
Marcos é um jornalista na faixa dos trinta anos, que perde o emprego na redação em que trabalha e leva um tremendo pé na bunda da namorada ao mesmo tempo. Em meio a esse turbilhão de acontecimentos que explodem em sua mente, ele descobre que sua ex já está em um novo relacionamento.
Diante dessa premissa, Marcos se lança em uma empreitada, uma espécie de desafio com o próprio ego masculino, de levar cem mulheres para a cama. Ele se muda com seu cachorro para o bairro paulista Consolação, e sua nova vida de solteiro vai transformar sua rotina em noites regadas por muito sexo, drogas e Rock’n’Roll.
É nessa crise dos trintas anos, que Marcos vai descobrir que o mundo não é mais o mesmo. As mulheres não são mais as mesmas, e a maneira de conversar, interagir, até mesmo persuadi-las para uma noite frenética de sexo, também não é mais como antes.
Ambientado em uma era digital totalmente contraria ao machismo, a narrativa expõe Marcos em sua desajustada tentativa de se adequar e sobreviver a uma era moderna movida a likes, curtidas e noitadas de sexo, bebidas, e uma boa dose de música pop. Ao mesmo tempo, em que assiste a crise no Jornalismo e da Política, presencia de camarote o futebol brasileiro levar para casa os 7 a 1 da Alemanha.
Com uma linguagem acelerada recheada de referências a cultura pop, ao cinema e a internet, o romance de Carlos Messias expõe a fragilidade e liquidez de relacionamentos supérfluos movidos por aplicativos como o Tinder. Ao mesmo tempo, em que serve de prefácio para a crise política e ideológica do país.
Sem Volta: Charles Burns
Sem Volta é uma compilação da alucinante trilogia de Burns reunida em um só volume: X’ed Out, The Hive e Sugar Skull. Narra a trajetória do jovem Doug, um personagem que aparentemente tenta se recuperar de um trauma e tenta compreender e encaixar as peças do quebra-cabeças que se tornou a sua vida.
Numa atmosfera bucólica e alucinante, Doug mergulha em suas lembranças do passado, ações irresponsáveis que marcam a futilidade de sua geração. Uma viagem sem volta por lembranças de amores e convívio com os pais. Entre realidades distópicas, somos apresentados a seres inusitados, criaturas existentes no delírio da mente de Doug.
Burns faz um olhar crítico e sombrio sobre a monstruosidade humana através de alucinações para dizer o quanto estamos caminhando para um mundo sem volta. As representações gráficas são maravilhosas e entregam uma envolvente e louca viagem pelos cantos escuros da própria alma. O universo dos quadrinhos inserido em uma atmosfera gráfica representada por sonhos e realidade distorcida.
Sobre Marcello Almeida
É editor e criador do Teoria Cultural.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com
Os textos dessa matéria foram publicados originalmente no site Urge!
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