Apesar de a primeira temporada ser insuperável, "True Detective: Terra Noturna" possui seu charme, incentivando o espectador a continuar assistindo.
Criada em 2014 por Nic Pizzolatto, True Detective tinha muitos aspectos que garantiram seu sucesso e que lhe favoreceram outros temporadas. Pra começar, o seriado resgatava o prazer das tramas criativas ligadas à investigações do passado. Recheada de elementos instigantes, simbologias, cliffhangers e reviravoltas, a série trouxe frescor a cada novo episódio, oferecendo soluções nada fáceis e segurando o espectador até os segundos finais.
Não podemos nos esquecer dos personagens. Eles conseguiram trazer muito do nosso lado humano, racional e reflexivo, sobretudo na figura de Rust Cohle (Matthew McConaughey) que, modéstia a parte, deve entrar em qualquer lista dos melhores personagens que marcaram a história dos seriados de TV. Foi nos diálogos de Cohle que a produção conseguiu reunir Cinema com Literatura, Filosofia e Psicologia, da melhor forma possível como precisa acontecer.
Duas temporadas viriam a seguir. Apesar disso, mesmo priorizando uma trama diferenciada com investigações policiais cheias de tensão e contendo sempre com elenco de peso (Colin Farrell, Rachel McAdams, Vince Vaughn, Mahersala Ali, Stephen Dorf), elas não chegaram com o mesmo impacto.
Com o título de True Detective: Terra Noturna, a quarta temporada chegou agora em 2024, com 6 episódios. Dessa vez, a criação ficou a cargo da diretora mexicana Issa López. Essa foi a primeira temporada em que Nic Pizzolatto não se envolveu na produção. Também é a única temporada que até agora ganhou um subtítulo.
Na trama, acompanhamos duas policiais, Liz Danvers (Jodie Foster) e Evangeline Navarro (Kali Reis) que trabalham na fictícia cidade de Ennis, um lugar isolado localizado no Alasca. Elas saem em busca de uma resposta para o desaparecimento misterioso dos integrantes de um centro de pesquisa da região.
Nada será fácil para as duas protagonistas. Ambas possuem poucas pistas sobre o evento ocorrido, não recebem muita ajuda de fora ou mesmo das autoridades locais, passam por um momento turbulento com parte da população fazendo protestos contra a poluição extrema de uma mineradora, além disso, precisam enfrentar a escuridão e o frio intenso (pois a trama acontece justamente a partir do último por do sol do ano da região).
O trabalho em equipe entre Danvers e Navarro também não chega logo. Um caso do passado separou as duas mulheres e agora elas precisam esquecer muita coisa se querem desvendar o crime atual. Essa é uma relação difícil que passará por vários momentos a cada episódio, bem pautada pela própria índole forte e pelo temperamento impulsivo das policiais.
O ambiente gélido, escuro e isolado sintoniza bastante com a trajetória dos personagens. Muitos deles ainda enfrentam seus fantasmas do passado, carregam culpas e remorsos mostrados através de flashbacks enigmáticos, ou por meio de simbolismos e até por aparições. Essa ambientação acaba acrescentando também mais tensão ao mistério do caso, inclusive quando a nevasca torna-se mais forte conforme os dias avançam.
True Detective: Terra Noturna não quer exageros em sua trama, não se limita em cair na Ação sem fundamento. Deseja explorar e instigar nosso consciente, trabalhar com os sentimentos humanos, nos fazer identificar com muito da nossa rotina: relações familiares em conflito, o amigo ou irmão que precisamos acolher, relações amorosas frágeis e efêmeras. O quarto episódio reflete bem essa passagem da resenha e, no final de 1 hora de duração, difícil não se emocionar com o que se passou na tela. O poder catártico que o Cinema deve provocar.
Não somente o Drama e o Policial, a quarta temporada também abraça vários gêneros e se embrenha por muitos caminhos. Sobretudo nos primeiros episódios, fácil sentir algo próximo do Terror, fica uma sensação que existe aquela influência do clássico O Enigma de Outro Mundo (1982) de John Carpenter.
Entretanto, Issa cria uma boa estratégia ao utilizar outros recursos. Algumas teorias e explicações para o ocorrido podem trazer algo de Sci-Fi. Ou então, a tarefa de adicionar elementos que indicam um fator sobrenatural ao evento e que é cercado de lendas e da mitologia da região cria algo ainda mais sufocante. A resposta chega inesperada, tal qual um soco no estômago. Um final que nos faz pensar em todos os episódios e o que julgávamos ter visto .
Como toda série assim, cercada de muitas polêmicas, claro que não deixarão de existir reclamações. Ou então, quem tenha optado por boicotar a produção por conta das duas protagonistas mulheres. Ledo engano. Basta pensar no personagem Peter Prior (Finn Bennett). Apesar do estereótipo de policial novato e de ser submisso a Danvers, é dele uma das cenas de maior impacto na narrativa. Igualmente, é interessante mostrar sua evolução e maturidade durante os episódios.
Ainda que a primeira temporada continue imbatível, True Detective: Terra Noturna tem seu charme, sabe prestigiar o cinema que favorece o espectador em seguir adiante, capaz de deixá-lo confuso no melhor dos sentidos, de gerar inúmeras hipóteses e teorias, isso até o arrebatamento final. Certamente lembraremos da série por muito tempo ainda, inclusive quando o frio, a escuridão e a busca pela verdade estiver rondando nossos corações.
True Detective: Terra Noturna
True Detective: Night Country (Original)
Em andamento (2014-2024)
Ano: 2024
Criado por: Nic Pizzolatto, Issa López
Gênero: Drama, Mistério, Thriller
Elenco: Jodie Foster, Kali Reis, Adam Burton, Fiona Shaw e outros
Duração: 376 min
Temporada: 4
NOTA DO CRÍTICO: 8,5
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