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Foto do escritorMarcello Almeida

Treze discos emblemáticos que tornaram meu ano menos tedioso.

Atualizado: 21 de dez. de 2021



Demos, início a saga de melhores discos de 2021, um ano adverso de muitos desafios e incertezas, mas mesmo diante de tantas coisas ruins que aconteceram e estão acontecendo, a música não parou se quer um instante de soar e nos contagiar por esses dias insólitos e áridos, tornando a vida menos amarga e difícil. Acredito sim, ter sido um bom ano para música. E arrisco a dizer que esse fatídico 2021, possa ser revisitado, anos depois como fonte de pesquisas sobre discos lançados em meio a uma pandemia. Não foram poucos! Esse ano pude ver grandes nomes surgirem no Rock inglês como: Black Country, New Road, Black Midi, Dry Cleaning, Squid e outros. Para muitos podem ser nomes que logo serão esquecidos, assim como aconteceu com Interpol e Editors, por exemplo. Mas acredito que essa não seja a questão mais importante nesse momento. Estamos falando de um ano atípico, avesso a tudo, e ver tantos lançamentos e tanta gente fazendo um som bacana e legal (na maior parte jovens) é reconfortante e inspirador. Sinceramente eu acredito nessa nova geração do Pós-Punk que surge com sua voz, com seu grito e uma mistura de estilos fascinantes. Vale muito a pena ficar de olho.


Sem falar que tivemos os ingleses do Wolf Alice com seu 'Blue Weekend', um dos discos do ano. Acredito que tenha sido o disco que eu mais ouvi esse ano. "The Last Man On Earth" uma das canções mais lindas que ouvi esse ano. E a coisa não para por aí, os americanos do The War On Drugs nos brindou com um disco sensacional e estupendo 'I Don't Live Here Anymore', um baita disco lançado no final de outubro e conseguiu entrar na minha lista de mais ouvidos do Spotify em tão pouco tempo. Esse ano também viajei por camadas cósmicas e psicodélicas propostas pelo exuberante 'Promises' disco que nasceu do encontro entre Floating Points e Pharoah Sanders, mais um grande disco para aliviar um pouco a tensão e esquecer das mazelas da vida.


Mas sem enrolação, vamos para a lista dos melhores. Por aqui decidimos que cada um irá fazer sua lista com álbuns que marcaram seu ano de 2021, começando pela lista dos discos internacionais e logo iremos soltar nossos preferidos da música nacional brasileira . Lembrando que listas são um tanto injustas e ingratas e não foi nada fácil fazer essa lista com treze álbuns e isso não significa que os que não entraram no meu top 13, não sejam ótimos álbuns. É o lado ruim de listas.

 

13) Nick Cave & Warren Ellis- 'Carnage'


Nick Cave e seu parceiro de banda Warren Ellis deram vida a um álbum conceitual e totalmente emblemático, que difere da atmosfera sombria e fúnebre do último disco de Cave, 'Ghosteen de 2019. 'Carnage' nasceu da colaboração entre os dois em um período um tanto complicado e caótico. Um trabalho fruto da prisão em casa graças à pandemia da COVID-19. Canções definidas pelo contraste evidente, às vezes impactante, absurdo e romântico. Aquele disco perfeito para noites chuvosas com um bom vinho do lado.



 

12) Colbat Chapel- 'Orange Synthetic'

Banda formada pela dupla Cecília Fage e Jarrod Gosling, do Condado de Yorkshire, no norte da Inglaterra. Surgiram em 2014, o primeiro disco saiu apenas em 2017. 'Orange Synthetic,' segundo álbum da dupla foi lançado em janeiro. O som do Cobalt possui um estilo totalmente atmosférico que ganha fortes tonalidades experimentalistas pelos vocais de Cecília e os teclados hipnóticos de Jarrod Gosling. São os elementos que formam a base da dupla, para criar um som experimental, melódico e psicodélico. Ouvindo o disco à primeira referência que me veio a cabeça, foi Pink Floyd e Beatles na fase mais psicodélica. Um álbum que surpreendente a cada faixa, com um Folk Rock psicodélico, cheio de elementos esquisitos.



 

11) Motorama 'Before The Road'

A banda russa de Pós Punk, Motorama, lançou esse ano seu sexto disco 'Before The Road' contendo sete faixas. O som do grupo lembra muito a banda The Church e New Order. A sonoridade trafega agridocemente pelo Indie Rock, Indie Pop e New wave. Canções melancólicas e sentimentalistas, que gentilmente lançam o ouvinte em uma atmosfera fantasmagórica, introspectiva e nostálgica. Um detalhe curioso sobre a banda é que eles não gostam de dar entrevistas e nem dar explicações sobre as letras das músicas. O máximo que chegaram a revelar é que eles são uma banda de Rock soviético dos anos 60,70 e 80 e cantam em inglês.



 

10) Viagra Boys- 'Welfare Jazz'

A banda sueca de Pós-Punk, retornou com um disco extremamente estranho e memorável. O som da banda de Estocolmo enaltece o conteúdo crítico e a originalidade em tempos repetitivos. Fãs de Idles vão simpatizar com 'Welfore Jazz'. Ouça: "IFeel Alive","Girls e Boys" e "Spite Of Ourselves". Um disco que caracteriza muito bem a ideia de caos e cenários caóticos. São melodias nervosas e frenéticas que combinam perfeitamente com os vocais gritantes e perturbadores de Sebastian Murphy, chega a ser sarcástico e imprevisível. 'Welfare Jazz' sai destruindo todos os conceitos moderninhos e estereótipos de uma sociedade conservadora.



 

9) Black Country, New Road- 'For The First Time'

Sonífero e ábsono. 'For the First Time', primeiro álbum do Black Country, New Road soa estranho e desconexo. Para dizer a verdade a beleza e encanto do álbum está justamente nessas camadas desconcertantes que celebra essa ótima fase do Rock britânico ao lado de bandas como Squid e Dry Cleaning. Muitas coisas no disco me lembram o Grunge do Nirvana e a atmosfera da sonoridade do Fontaines. Exemplo disso está na dissonante terceira faixa do álbum “Science Fair”, algumas camadas nessa música me remetem muito a essas duas bandas. Seja pelos vocais, batidas, baixo ou guitarras distorcidas. Mas não é apenas isso. Essas referências estão diluídas na forte presença jazzista das canções como “Opus” uma obra sinfônica que transmite urgência e serenidade. São batidas e ritmos introspectivos na medida certa. Desespero e calma, pressa e lentidão.



 

8) Dry Cleaning- 'New Long Leg'


Uma intensa atmosfera combinando vocais falados da vocalista Florence Shaw com uma abundante harmonia oriunda do Pós-Punk, a sonoridade do Dry Cleaning contrasta o real com o surreal criando camadas catárticas. A banda foi formada em 2018, pela já citada vocalista, o guitarrista Tom Dowse, o baixista Lewis Maynard e o baterista Nick Buxton. Vindos do Sul de Londres exteriorizando um som angustiado e fátuo com o EP ‘Meghan Markle’ (2019), o Dry Cleaning chegou em 2021, ostentando uma abordagem expansiva com seu álbum de estreia ‘New Long Leg’. A semelhança com bandas como: Clean, Wire, B-52’s e Joy Division, logo ganhou status no debut. Shaw sintetiza sua potência vocálica e sabe muito bem usa-la para iniciar uma verdadeira ode ao caos e a desordem sonora, reverenciando Kim Gordon e se aproximando cada vez mais de Laurie Anderson. Vale demais dar aquela conferida no som do Dry Cleaning.



 

7) Lightning Bug- 'A Color Of The Sky'

Outra grande surpresa de 2021 para mim, foi esse disco bonito e certeiro do Lightning Bug. 'A Color Of The Sky' é repleto de canções profundas e melancólicas. Camadas e ritmos nostálgicos, uma melodia grudenta e um vocal angelical, fica impossível não se entregar ao som da banda nova-iorquina. A voz de Audrey, adentra na alma de tal maneira que você se vê imerso em uma atmosfera construída com belas guitarras e ritmos acertados no tempo certo. Se por um lado estamos vivendo dias incertos e sombrios, até mesmo caóticos devido à pandemia do novo coronavírus, por outro lado o viés artístico tem se sobressaído e ajudado muito a passar por tudo isso. Muitas das obras lançadas conversam abertamente com ouvinte e você se sente abraçado e acolhido em canções feito "Wings of Desire", quarta faixa do disco e já me vejo em uma relação de afetos e paixões por 'A Color Of The Sky'.



 

6) The Weather Station- 'Ignorance'

The Weather Station, banda canadense liderada por Tamara Lindeman, que ganhou vida em 2006, quando ela começou a gravar músicas diretamente em seu computador. O som do grupo trafega por um Pop Folk e Indie Pop, uma música folclórica que ganha novas incorporações e elementos no novo disco de estúdio intitulado de ‘Ignorance (2021), onde a sonoridade ganha elementos que aproximam muito do synth Pop dos anos oitenta e de bandas como: Fleetwood Mac. É o que acontece quando se compõe sobre coisas que existem e estão sempre presentes no dia a dia. A percepção que fica é de que Lindeman cresce artisticamente a cada novo álbum, ficando até arriscado defini-lo como o seu melhor trabalho e prefiro dizer ser uma conquista notável e evolutiva do The Weather Station. Esse foi um dos discos que rolou bastante por aqui esse ano e sabotado em minha retrospectiva do Spotify. Se você ainda não ouviu isso aqui, não perca mais tempo e ouça antes do ano acabar. Vai valer muito a pena.



 

5) Arlo Parks- 'Collapsed In Sunbeams'

Emanada por uma constante força poética descritiva, a jovem cantora e compositora, Arlo Parks, escreve letras efetivamente sobre a adolescência e a consciência da saúde mental, enriquecida por uma incrível e sedutora camada Pop com Soul Indie de primeira.'Collapsed In Sunbeams' é o seu primeiro álbum (maravilhoso e) aclamado pela crítica. Foi lançado pela Transgressive Records. O disco é sensacional desde sua arquitetura sinfônica aos vocais convidativos da cantora, funciona como um refúgio, um afago para alma. Parks escreveu as canções praticamente em seu quarto, trazendo reflexões muito válidas sobre percepções de sexualidade e saúde mental. Onde ela aborda lembranças da sua adolescência, as dificuldades e os conflitos sobre sua sexualidade. Baita disco, audição obrigatória aos amantes de uma boa música pop.



 

4) Japanese Breakfast- 'Jubilee'

Michelle Zauner vem assumindo seu posto de cantora e compositora brilhantemente. A moça que ficou conhecida no projeto Japanese Breakfast, parece não se conter diante das adversidades da vida e vem trilhando um caminho prolífero e grandioso na cultura pop. Ela lançou esse ano seu primeiro livro ‘Crying In H Mart: A Memoir, que ganhou vida após a morte da sua mãe de câncer. O livro atingiu o segundo lugar na lista de Best-Sellers de não ficção do New York Times e abriu os caminhos e inspiração para o (grandioso) terceiro disco solo, ‘Jubilee’, uma obra concisa, harmoniosa de canções suaves e meigas que traçam um caminho melódico entre o Indie Pop e o Indie Rock, com linhas e camadas experimentalistas, algo meio Lo-Fi que abraça a doçura do Shoegaze.

Be Sweet” é a estrela do álbum, com sua atmosfera viciante e contagiante, versos grudentos e melódicos, que dançam por camadas Lo-Fi que lembram muito Madonna e o som do The Naked and Famous. A faixa também ganhou um videoclipe bem divertido com uma atmosfera nostálgica e retro. Ligue o Repeat e deixe o clima tomar conta, enquanto isso Michelle vai jogando luz em suas emoções e sentimentos com “Kokomo, In” uma canção mais sentimentalista que ressalta aquelas memórias e lembranças de entes queridos que vem e vão de nossa mente. Sentimentos que ganham uma maior entonação pelas guitarras nostálgicas e profundas. Um álbum contagiante e gostoso de ouvir. Impossível não amar "Be Sweet". Se você pensa que 2021, não foi bom para a música é porque não ouviu 'Jubilee'.


3)Floating Points, Pharoah Sanders & The London Symphony Orchestra- 'Promises'


Promises’ é muito mais do que um simples disco que você coloca para ouvir em um dia normal da vida. Chega a ser difícil definir uma obra tão abrangente e complexa em linhas tortas de palavras que não atinge o esplendor e a elegância de um disco soberbo e primoroso. O trabalho nasceu do encontro revolucionário entre Sam Shepherd (conhecido como Floating Points) produtor de música eletrônica com o semideus do Jazz Pharoah Sanders. A obra se completa com os violinos, violoncelos e contrabaixos da exuberante Orquestra Sinfônica de Londres. O nome Pharoah Sanders é sinônimo de décadas de músicas alucinantes e enriquecedoras. Promises’ é um álbum colaborativo que puxa uma atmosfera de som ambiente com uma habilidade onírica extremamente relaxante, são melodias para você chegar em casa depois de um dia exaustivo de trabalho, deitar a cabeça no travesseiro, descansar e desligar-se do mundo. Um disco audacioso e gigantesco, de dimensões imensuráveis que entrega uma sonoridade deliciosa e contagiante, pode muito bem-fazer você esquecer por momentos (preciosos) dessa realidade trivial que parece não querer passar. Difícil não sorrir ao chegar no final de 'Promises'.



 

2) The War On Drugs- 'I Don't Live Here Anymore'

Quando penso em The War On Drugs me vem a imagem da capa de Pet Sounds na cabeça, talvez pelo estilo de vida de Adam Granduciel em adorar os animais e o campo. Impossível não lembrar de Bruce Springstten também. No seu quinto álbum 'I Don't Live Here Anymore' o The War On Drugs mergulha em canções mais nítidas, ampliando as fronteiras existentes no seu som minucioso, uma jornada romântica de Adam Granduciel que parece não ter fim- grandiosa e absurdamente épica. Esse novo trabalho passa muito aquele sentimento e emoção de estar em uma longa estrada sem fim, um conjunto de hits meticulosamente elaborados como se a euforia de Springsteen cruzasse com o melhor do Synthpop dos anos 80. Um álbum mais caloroso, mais conciso e bem mais íntimo do que 'A Deeper Understanding', talvez seja uma busca por esperança e redenção. Baita disco para esse finalzinho de 2021.



 

1) Wolf Alice- 'Blue Weekend'

'Blue Weekend' terceiro álbum dos londrinos do Wolf Alice liderados pela graciosa e talentosa Ellie Rowsell, marca o retorno triunfal da banda com canções magistrais cercadas de uma beleza contagiante que definitivamente coloca o grupo no seu lugar ao sol. São melodias que abraçam tanto o Rock Alternativo, o Indie Rock e o Shoegaze, criando camadas oníricas que conseguem fácil, fácil, tirar você do seu estado natural com inúmeras reações e emoções de arrepiar os cabelos do corpo inteiro. O novo trabalho é como se fosse o equilíbrio pontual e certeiro da banda, aquele ápice criativo e intimista onde Ellie explora o seu lado mais sensível em suas composições. As guitarras frenéticas e distorcidas são deixadas de lado e dão espaço para acordes bem mais trabalhados e melódicos. Composições mais livres e soltas que passam confiança e harmonia. Cada música representa sua própria história e com isso você pode apreciar cada uma delas isoladamente. Sem sombra de dúvidas a banda vive o seu melhor momento, como se estivessem mais confortáveis no mundo e livres para ousar e experimentar novos elementos. Definitivamente meu disco do ano. Esse álbum bateu diferente já na primeira audição, suas canções envolventes, melódicas e os vocais agridoces de Ellie me envolveram por completo. Aquele lugarzinho aconchegante ao "lado do sol".

Tudo soa tão equilibrado e contagiante, como se banda refinasse a forma mais pura do Wolf Alice. Não tem como negar, estou diante de um álbum triunfante de guitarras que também é experimental e agradável. "The Last Man on Earth", é uma canção inexplicável em palavras, feita para multidões em festivais. Fico aqui imaginando isso sendo reproduzido ao vivo! Desafiadoramente alto e lindamente silencioso - o som de uma banda que encontrou o seu caminho e o meu.



 

Discos que quase entraram, bateram na trave e pararam na linha do gol.


Squid -'Bright Green Field'
Bobby Gillespie e Jehnny Beth- 'Utopian Ashes'
Parannoul- 'To See the Next Part of the Dream'
Iceage- 'Seek Shelter'
Adele -'30'
Black Midi- 'Cavalcade'
 

Sobre Marcello Almeida

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com

 







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