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Foto do escritorEduardo Salvalaio

Tin & Tina aposta num Terror que se sustenta nas temáticas da maternidade e da religiosidade

Tin & Tina está disponível no catálogo da Netflix.

Foto: Netflix


O gênero Terror não precisa tanto de criaturas bizarras ou de sua própria mitologia calcificada pelo tempo (vampiros, zumbis e lobisomens) para assustar. Trabalhar com a maldade humana, nossos medos mais primais e traumas também é uma opção viável. Com uma boa trama e um assunto que mexa profundamente com nosso psicológico, o gênero continua eficaz e deixa o espectador nervoso só de lembrar cenas do filme que assistiu.


Alguns exemplos como Sem Saída (Eden Lake, 2008), O Babadook (The Babadook, 2014) e Sala Verde (Green Room, 2015) podem se encaixar facilmente no que foi relatado anteriormente. Tin & Tina, incluído no catálogo da Netflix, traz essa ideia. Aqui, o diretor e roteirista Rubin Stein relaciona temas como adoção, maternidade e religiosidade para criar uma atmosfera de Terror, apesar de leve.



Os minutos iniciais do filme se sustentam numa ambiguidade. Presenciamos o feliz casamento de Lola (Milena Smit) e Adolfo (Jaime Lorente). Em seguida, somos confrontados com a decepção da esposa ao receber a notícia de que não pode ter filhos. Depois dessa trágica informação, o casal resolve ir a um convento para realizar uma adoção. No local, Lola é logo cativada pelos gêmeos Tin (Carlos González Morollón) e Tina (Anastasia Russo).


O filme começa a oferecer pistas do Terror que está para chegar para Lola e seu marido. No convento, uma menina com o rosto desfigurado por uma queimadura olha para Lola. Dentro do carro, as crianças comentam que Rock é música do Diabo. Ao chegarem na casa, o cachorro da família late muito ao ver os novos moradores. E logo no primeiro café da manhã, uma brincadeira estranha entre os gêmeos surpreende a mãe, boquiaberta com a cena.

A mulher então passa a questionar a adoção em meio aos métodos e crenças das crianças. Passando pela questão da maternidade de nunca desemparar os filhos e chegando ao ponto crucial dos perigos da extrema educação religiosa que as crianças receberam, Lola cai em dúvidas e medos apesar da não cumplicidade do marido em aceitar os fatos.



Stein não opta pelo gore. Ou melhor, ele prefere esconder cenas mais pesadas e impactantes (embora elas existam). Exemplo é a primeira ‘vítima’ dos gêmeos. Por detrás de um sofá que oculta a nossa visão, as falas proferidas das crianças durante suas ações, por si só, causam agonia para quem assiste. Dessa forma o espectador imagina a cena dentro de sua cabeça. E esse método funciona.



Claro que o filme não deixa de ter seus clichês do gênero, embora eles acabem funcionando para chegarmos até o fim. O aparelho de som que liga repentinamente, desenhos e anotações encontrados que revelam mais detalhes sobre os personagens, a linha tênue entre a loucura e a lucidez, desconfianças, uma casa isolada da civilização, dúvida entre realidade e o sobrenatural.


Em Tin & Tina, é preciso exaltar a estética visual. Passando no início dos 80’s, o filme captura bem a essência da década: vestuários, equipamentos da época, costumes e até as cores com seus tons esmaecidos. Numa das cenas (bem angustiante, por sinal), Adolfo se senta distraído em frente à TV para assistir a um jogo da Copa da Espanha (1982). Esses aspectos acabam trazendo algo bem real na tela, além de conectar uma relação com o Terror mais antigo.

A atuação do elenco é convincente, inclusive dos gêmeos, que são capazes de transmitir carisma apesar do semblante misterioso que carregam. O diretor foi inteligente ao não falar do passado das crianças adotadas, até mesmo para aumentar a carga de mistério em torno delas.



Apesar da inocência das crianças, as ações praticadas por elas acabam gerando um lado perverso e um comportamento estranho. Dessa forma, o espectador sente a mesma dúvida da mãe em conflito sobre a adoção que fez.



Com um final que muitos sites e vídeos pela internet fizeram questão de explicar, Tin & Tina é mais um Terror, embora mediano, que trabalha com nosso psicológico. No lugar de criaturas mortais, violência gratuita e banhos de sangue, entra em cena a questão da rigidez e do exagero de doutrinas religiosas que muitas vezes sufocam pessoas.

 

Tin & Tina

Netflix


Ano: 2023

Gênero: Terror

Elenco: Milena Smit, Jaime Lorente, Anastasia Russo, Carlos G. Morollón

Direção: Rubin Stein


 

NOTA DO CRÍTICO: 6,5

 

Trailer:



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