A linda capa do disco, traz o ator francês Alain Delon, no filme 'Terei o Direito de Matar?' de 1964
The Smiths (sem sombra de dúvidas) se tornou uma banda expoente dos anos 80, com um repertório repleto de canções emblemáticas e memoráveis, se tornaram uma espécie de porta-voz de toda uma geração. Formada por Morrissey, Johnny Marr, Andy Rourke e Mike Joyce. O grupo surgiu em 1982, e contribuíram para a criação do subgênero Indie Rock. As guitarras extravagantes e surreais de Johnny Marr formaram o casamento perfeito com as letras épicas, aterradoras, politizadas e poéticas de Morrissey. Um conjunto de elementos e sentimentos que captaram todo o sentimentalismo da época e, seus resquícios perpetuam pelo tempo e continuam com aquela mesma nuance atemporal.
Entretanto, o marco criativo e imperial do The Smiths veio com o terceiro disco de estúdio intitulado ‘The Queen Is Dead’. Uma obra-prima que caracterizou a química do conjunto de uma maneira indescritível. As letras e a entrega de Morrissey, as guitarras de Marr que conseguiram dar saltos estelares tão profundos que cristalizaram as melodias lá, no fundo da alma de quem já sentiu o gosto harmônico de ‘The Queen Is Dead’. Que se forma por completo com a base fornecida por Rourke e Mike Joyce, provando mais uma vez o quão indispensáveis eles foram para química e magia do grupo que se consagrou ali mesmo naquele longínquo ano de 1986, como uma das maiores bandas do mundo, que viria influenciar inúmeros outros grupos futuramente.
Em 'The Queen Is Dead' você simplesmente pode viajar por tudo aquilo que você ama na banda, o espírito rítmico consegue saltar lindamente, eles realmente alcançaram o seu auge criativo. Em sua breve trajetória juntos e em suas carreiras subsequentes como artistas solo, Johnny e Morrissey ainda não realizaram ou superaram o que conseguiram realizar aqui. Um disco conciso, nostálgico e de perfeito equilíbrio. Tudo soa se encaixando nos devidos lugares. Com isso, não fica muito a dizer sobre esse disco, mesmo que você não seja um grande admirador do The Smiths, esse disco sempre teve um lugar reservado em sua vida, ou uma canção que te faz revisitá-lo sempre que pode.
Feito para quem ama melodias grudentas e sedutoras que oscilam entre camadas introspectivas e densas na medida certa. Toda aquela efervescência, angústia e rebeldia oriunda do Punk, fica bem caracterizada na faixa-título. A canção abre com um coro de crianças cantando uma música que viralizou na época da 1ª Guerra Mundial, “Take Me Back To Dear Old Blighty”. A faixa pode até ser compreendida como uma lancinante extensão de “God Save The Queen” dos Sex Pistols. Contudo, “The Queen Is Dead” logo mergulha em um indie rock com riffs de guitarras geniais de Marr e vocais celestiais de Morrissey. A letra é uma crítica a monarquia britânica e a toda aquela adoração que a mídia manifestava em relação à família real britânica. Mas os contornos de um futuro defensor do Brexit já estavam sendo formados.
A linda capa do disco, traz o ator francês Alain Delon, no filme 'Terei o Direito de Matar?' de 1964.
Na sequência temos a faixa “Frankly, Mr. Shankly” que narra uma história de ganância e uma briga por dinheiro que abre nuances para abordar as frustrações que podem acometer uma pessoa por ser ganancioso demais. Portanto, a faixa apresenta uma sonoridade mais animada e descontraída. “I Know It’s Over” chega com uma melodia mais lenta, melancólica e uma harmonização primorosa. A voz de Morrissey é incrivelmente linda e celestial.
Ouvindo o álbum no momento em que escrevo essas tortas linhas, me vejo pensando confiavelmente que 'The Queen Is Dead' soa decididamente não moderno, mas não muito retrô, o disco do Smiths tange indescritivelmente maravilhoso agora quanto deve ter sido em 86. “The Boy With The Thorn In His Side” já abre com versos grudentos e melódicos que embalam através de uma harmonia que vai crescendo a cada instante. Aquela mistura agridoce que tanto marcou a trajetória da banda. Aqui, Morrissey disserta sobre o grande número de céticos indiferentes, cantando angustiado os versos: “Como eles podem me ouvir dizer essas palavras e ainda não acreditam em mim?” Já, na faixa anterior, “Bigmouth Strikes Again” ele chega fazendo referências a Joana d’Arc pegando fogo.
Um conjunto de canções que formam uma combinação perfeita entre a indiferença alegre de Morrissey e suas letras ácidas e poéticas que fez um certo jovem aqui no Brasil, chamado Renato Russo de uma tal Legião Urbana, cair de amores. Johnny Marr com seu jeito peculiar e único de manusear uma guitarra entregou acordes imortalizados que ficarão cristalizados neste álbum por toda eternidade.
“There Is A Light That Never Goes Out” se torna o ponto alto e mágico do disco. A canção mais conhecida da banda. Um clássico absoluto intemporal. Daquelas faixas que possuem o primor de mudar vidas. A letra fala sobre um sentimento reprimido, sobre depressão, mas, ao mesmo tempo, carrega uma consternação de superação. Isso traz uma ambientação afável e agridoce para penúltima faixa do álbum, onde aquela inevitável vontade de ligar o repeat se manifesta logo de cara. Simplesmente já vale a audição do álbum. 'The Queen Is Dead' é um álbum conceitual e maravilhoso. Um conjunto de canções que reinventaram o rock nos anos 80.Difícil colocar em meras palavras sem sentido as emoções geradas ao ouvir essa pérola da cultura pop. Adoro esse disco! Assim, como adoro 'Meat Is Murder' de 1985. Nowplaying!
The Queen Is Dead
The Smith
Lançamento: 16 de junho de 1986
Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo
Ouça: "The Queen Is Dead", "The Boy With The Thorn In His Side" e "There Is A Light That Never Goes Out"
Humor: Melancólico, Irônico, Inteligente
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