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The Future Is Our Way Out: estreia triunfante do Brigitte Calls Me Baby, com seu indie rock retrô e moderno

Difícil apontar uma faixa ou outra como destaque, já que todas aqui possuem potencial para se tornarem singles vibrantes

Brigitte Calls Me Baby
Crédito: Scarlet Page


De tempos em tempos, surge um nome novo no cenário indie que aquece o coração e desperta emoções ao ouvir um disco. Com uma sonoridade elegante, poética e urgente, marcada por uma distorção temporal e letras que abordam todas as nossas neuroses deste tempo moderno, sem esquecer aquelas saborosas nuances, dosadas por um certo romantismo luxuoso das músicas pop, com a energia frenética e intensa do indie rock do início do milênio.


Esse é o sentimento que explode no peito ao colocar os ouvidos no disco de estreia da banda de Chicago, Brigitte Calls Me Baby. Uma mistura agridoce de Morrissey, The Strokes e uma pitada de The Cure, que cria uma atmosfera sonora atraente e sedutora. Muito disso vem dos vocais hipnóticos, ao estilo Morrissey, do vocalista Wes Leavins, e o resultado desse caldeirão sonoro é uma rara convergência de sofisticação e sinceridade descarada em cada verso cantado por Wes.


Com um título bem oportuno para nossa atualidade, 'The Future Is Our Way Out' vai ganhando o ouvinte a cada faixa. Uma canção embala a outra, o disco não perde o ritmo e mantém a constância até o final. Essa pode ser a banda que muitos estavam esperando ou ansiando há tempos. Grande parte da musicalidade do grupo pode ser atribuída à formação musical eclética de Leavins, que cresceu ouvindo Roy Orbison na casa dos avós, enquanto em casa seus pais colocavam Cars para tocar, e seus amigos eram seduzidos por Radiohead e The Strokes.


A história do Brigitte Calls Me Baby começa em 2016, quando Leavins se mudou para Chicago e mergulhou na cena local. Ele se juntou aos guitarristas Jack Fluegel e Trevor Lynch, ao baixista Devin Wessels e ao baterista Jeremy Benshish. Com um visual retrô, o grupo foi ganhando notoriedade com o EP 'This House Is Made of Corners' (2023), produzido por Dave Cobb, e pela entrega carismática e entusiasmada de Wes nos palcos, que logo lhe rendeu comparações com Elvis Presley. Essas comparações não são exageradas, como muitos podem pensar. O frontman foi escalado como Presley em uma produção itinerante do musical Million Dollar Quartet e trabalhou na trilha sonora do filme biográfico 'Elvis', de Baz Luhrmann, em 2022.


A fascinação de Wes ao cantar transmite toda sua naturalidade e liberdade. Essa entrega acrescenta um ar vintage, misturado com aquela onda exuberante e crescente dos anos 80. Em certos momentos, sua voz emula Morrissey e, em outros, soa como Elvis. É impressionante como ele faz isso tão facilmente. Isso já fica evidente na abertura com a faixa-título ("The Future Is Our Way Out"). A harmonia e sintonia das guitarras, baixo e bateria, cruzadas com o vocal exuberante e poético, emulando agridocemente Morrissey, aguçam a curiosidade do ouvinte sobre o que virá nas 11 faixas do trabalho. Uma canção que carrega um espírito nostálgico e moderno, com uma letra lírica e honesta sobre os efeitos da modernidade. "Oh, se a vida pudesse ser tão gentil / Então eu não me importaria em estar vivo."



"I Wanna Die In The Suburbs" poderia ser uma joia perdida dos Smiths, com seus versos carregados de emoções: "Eu quero morrer na sua garagem para quatro carros/Apague as luzes e envie a comitiva... Mas eu não quero morrer sozinho." Logo vem à mente There Is a Light That Never Goes Out. Embora essa obra se revele uma grata surpresa, destinada a ser um dos melhores discos do ano, seja difícil encontrar uma música ruim. Aqui, isso não existe; é uma paulada atrás da outra. Essas canções são vibrantes, carregadas por uma energia única; são divertidas, empolgantes e românticas. Elas se vestem de suas influências, parecem não pertencer a um determinado tempo e acabam desaguando em um som próprio.


Tente ficar parado ao sentir toda a energia dance-rock da cativante "Impressively Average" e suas guitarras nostálgicas que se fundem a um rockabilly, com um baixo contagiante e os vocais de Wes parecendo atingir o ápice. Difícil apontar uma faixa ou outra como destaque, já que todas aqui possuem potencial para se tornarem singles vibrantes. E assim, o quinteto de Chicago vai explorando temas como existencialismo, amor e perda em canções que captam perfeitamente um tempo do passado, sem soar repetitivo; as faixas possuem uma atmosfera moderna. 'The Future Is Our Way Out' é um álbum repleto de elementos, mas o espírito ousado na entrega da banda faz tudo se encaixar perfeitamente.


"We Were Never Alone" chega trazendo um synth-pop sombrio ao estilo Depeche Mode. "Too Easy" muda um pouco o ritmo do disco, algo muito bem-vindo nessa altura da audição, com sintetizadores que soam emotivos e logo fazem o ouvinte se lembrar de outros revivalistas retrô dos Estados Unidos, como Nation of Language. "Always Be Fine", faixa que encerra o álbum, é um dos momentos mais calmos, onde a semelhança com Elvis ganha mais notoriedade na voz de Wes ao cantar essa balada sufocada de amor e desejos borbulhantes, que de certa maneira complementa a faixa de abertura.



Wes Leavins pode muito bem ser a nova estrela do amanhã, e o Brigitte Calls Me Baby, aquela banda que tanto faltava no cenário indie moderno, com suas referências retrô escancarando uma ode a uma época do passado, a começar pela linda capa que busca inspiração em filmes noir. Verdade seja dita: ao se divertirem resgatando seus ídolos do passado, o quinteto de Chicago conquistou seu próprio triunfo, uma banda com enorme potencial e muito a dizer ainda.

 

The Future Is Our Way Out

Brigitte Calls Me Baby


Ano: 2024

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Ouça: "Always Be Fine", "Impressively Average", "The Future Is Our Way Out"

Pra quem curte: Morrissey, Strokes, Elvis Presley

Humor: Hipnótico, Nostalgico, Agridoce


 

NOTA DO CRÍTICO: 9,0

 

Veja o vídeo de "The Future Is Our Way Out"





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