“Se um dia me arriscar a um outro lugar, hei-de levar comigo a estrada que não me deixa sair de mim.” (Trecho do livro)
Em 1992, um país no continente africano chamado Moçambique terminava uma densa e terrível guerra civil desde 1976, sendo que o país se tornou independente de Portugal em 1975. E é nesse país que nasceu no ano de 1955, o escritor António Emílio Leite Couto, mais conhecido pelo seu pseudônimo de Mia Couto, um dos grandes autores da literatura africana contemporânea, que se inspira em muitas coisas e muitos escritores para criar sua literatura única e maravilhosa.
Mia Couto, apesar de ser conhecido como escritor e poeta, ele é também é professor, jornalista e biólogo. E justamente quando seu país passava por muitos acontecimentos em 1992, ele lançou seu romance de estreia “Terra Sonâmbula”, que fez as pessoas refletirem ao redor do mundo ao se depararem com temas complexos e uma escrita poética, profunda e ótima. Envolvendo o continente africano, o país Moçambique e a realidade cruel do mundo com as suas desigualdades.
“Terra Sonâmbula” é uma obra literária que nos apresenta Muidinga e Tuahir que estão fugindo dos horrores da guerra civil de Moçambique. Nessa fuga eles encontram um ônibus queimado e abandonado para se esconder e lá eles encontraram os cadernos de Kindzu, uma pessoa que eles não conhecem e nem sabem se existe. Ao lerem seus cadernos, os personagens se deparam com histórias dessa pessoa, que são cheias de fantasia. A narrativa destaca elementos da cultura moçambicana diante de um belo realismo mágico que consegue ser crítico com a realidade ao analisar comportamentos e os conflitos sociais de forma bem impactante.
“Se um dia me arriscar a um outro lugar, hei-de levar comigo a estrada que não me deixa sair de mim.” (Trecho do livro)
A obra literária é muito forte, tocante e emocionante por vários motivos. O autor usa as experiências pessoais para retratar os horrores que Moçambique sofreu com sua horrenda guerra civil. O livro destaca de maneira imensurável as dores de seus personagens para dizer que a guerra não é boa para ninguém, enquanto apresenta as histórias de Kindzu, lidas por Muidinga e Tuahir com uma veracidade comovente, como se o leitor fizesse parte da história com uma narrativa poética proporcionando uma leitura menos pesada, mas que não deixa de refletir sobre as mazelas que existem na sociedade, independente do lugar, inclusive, na África que é um continente ignorado muitas vezes e que não deveria ser assim, pois afinal de contas ele é o berço da humanidade incluindo seus benefícios.
Além disso, ele traz linguagem atemporal retratando os mais variados sentimento nas figuras de Kindzu, Muidinga e Tuahir com uma conexão extremamente presente, que faz o leitor analisar o porquê do nome do livro. São aspectos que ficam evidentes ao perceber que eles tiveram a sua paz roubada e tentam recuperá-la sem uma luta armada, mas com o poder do sonho, para que com ele conseguir sonhar e transformar positivamente as coisas e as pessoas, a nossa volta, e com isso fazer mudanças significativas, transformando o mundo em um lugar bom de viver. E isso por si só atiça a curiosidade para saber como esse trio irá se sobressair diante da história.
Após “Terra Sonâmbula” Mia Couto lançou outros livros, mas essa obra literária, em especial é muito marcante e influente a ponto de ela simplesmente estar na lista dos doze melhores livros africanos do século XX por sua escrita que é fantástica e poética, sua temática que é refletir e chorar ao mesmo tempo, sua arte que ressalta a importância de ter um escritor como Mia Couto nas estantes de livros pelo mundo e sua importância ao ressaltar uma literatura de um continente rico em cultura onde o “Terra Sonâmbula” é um livro importante para disseminar e espalhar por todos os cantos do planeta as coisas boas do continente africano. E ensina de forma bem pontual que guerra nenhuma é justa, principalmente, quando acontece guerra civil.
Terra Sonâmbula
Mia Couto
Lançamento: 1992
Gêneros literários: Romance, Realismo mágico, Ficção histórica.
Onde comprar: Amazon.
NOTA DO LEITOR: 10
Descrição do autor:
Mia Couto (Antônio Emílio Leite Couto) é um escritor moçambicano, nascido em 5 de julho de 1955, na cidade de Beira. Trabalhou como jornalista durante quase 10 anos, porém ingressou na Faculdade de Biologia e, posteriormente, tornou-se professor universitário, profissão que concilia com a sua carreira de escritor.
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