Analise da 4ª temporada sem SPOILERS
Definitivamente essa é a temporada mais madura de Stranger Things, e era de se esperar uma atmosfera mais adulta, com temáticas mais pesadas, afinal de contas Eleven e seus amigos não são mais aquelas crianças da primeira temporada, eles cresceram e com isso surgiu a necessidade dá série também ganhar um pouco mais de peso. E nisso os irmãos Duffer, deram um tiro certeiro.
'Stranger Things 4’ se estabelece e ganha força em um sentimento que se faz tão necessário em nossos dias atuais: o amor, amizade e a união formam uma base cativante para o desenvolvimento dessa história que com toda sua magnitude e nostalgia resgatada dos anos 80, vem conquistando os corações apaixonados por cultura pop desde 2016. Com 4 temporadas completas na Netflix, a série de ficção científica se tornou um dos maiores fenômenos mundiais, e tem por onde. Não é exagero algum em dizer isso, tanto que ontem (1º), estreia da parte II da quarta temporada que foi ao ar na madrugada por volta das 4 da manhã conseguiu tirar a plataforma do ar por alguns momentos devido a um número exorbitante de acessos. De onde vem toda essa magnitude de Stranger Things? Parece uma pergunta complexa e difícil de ser respondida, mas a verdade é que a série dos Duffer Brothers expressam sentimentos e emoções de forma tão verdadeiramente que se torna impossível não se identificar com cada personagem dessa saga fantástica, com toda certeza você tem o seu favorito.
Assim como o tempo passa para todos nós, ele passou para Stranger Things (positivamente), as crianças cresceram, agora, a turma de Hawkins encara novos desafios e conflitos internos, esse salto temporal abriu portas para os Duffer explorarem ainda mais a atmosfera do terror e suspense, trazendo para a quarta temporada uma roupagem mais adulta e séria. Na verdade, eles parecem duas crianças revivendo todos os clássicos da cultura pop de suas infâncias, assim como Stephen King, Matt e Ross Duffer trouxeram de volta a vida obras imortalizadas em cada coração amante do gênero terror e da cultura pop dos anos 80.
Logo de cara, você identifica elementos de 'A Hora do Pesadelo', 'It: A Coisa', 'Halloween', 'Os Caça-Fantasmas', 'Star Wars', 'Karatê Kid', 'Curtindo a Vida Adoidado' e outros mais. Respondendo aquela pergunta lá do início, isso tudo faz de Stranger Things um portal cativante (mesmo que invertido) para traçar os enredos de nossas próprias vidas, isso torna essa história vibrante e fascinante, ela não é perfeita, assim como nós também não somos, temos nossas falhas e acertos, assim é o universo de Stranger Things que amadureceu com o passar do tempo, acertando e errando, vivendo e aprendendo. A 4ª temporada acerta em tudo? Não! Mas estabelece seu brilho no verdadeiro sentimento de amizade e entrega total que essa turma consegue transmitir através das telas. Esse sentimento se torna em afago, um abraço apertado, alegria, tristezas... frases como "Eu te amo, eu estou aqui" são ditas com toda honestidade. As pessoas andam tão distantes, na correria, na luta diária para sobreviver, que a simplicidade de gestos como esses fazem falta no dia a dia, e Stranger Things entrega um pouco disso em sua narrativa agridoce.
A quarta temporada se passa após seis meses da Batalha de Starcourt, que trouxe terror e destruição para Hawkins. A turma agora lida com conflitos internos, separações, a dor da perda e encara as complexidades do ensino médio. Nesse momento de vulnerabilidade um novo mal ressurge sobre Hawkins, um mostro terrível, cruel e imperdoável, Vecna se alimenta das dores, mágoas e tristezas dos habitantes da cidade, colocando Onze (Millie Bobby Brown), Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo) e os outros em situações complexas e extremas.
A série pode ter perdido um pouco do seu brilho do início, falhado em alguns caminhos, mas a história ainda está lá, as performances, a química, tudo ainda está lá em ótima conexão. Stranger Things deixa de ser apenas uma série sobre monstros e momentos retrô como uso de Walkmans e mergulha nas profundezas do eu e as complexidades das relações humanas.
Alguns personagens ganham maiores destaques e relevâncias do que outros, Max (Sadie Sink) tem seu brilho nessa temporada, onde ela vai precisar mostrar que ela é bem mais forte do que todos pensam, Joyce (Winona Ryder) ganha uma maior relevância e ainda alimenta a esperança de viver um amor. Já Hopper (David Harbour) está um pouco apagado nessa temporada, mas mesmo assim ainda se envolve em cenas que trazem muita adrenalina. Os novos personagens acrescentam novas nuances para narrativa, Robert Englund, traz sua bagagem como Freddy Krueger, mesmo que ligeiramente nesses primeiros episódios. Mason Dye apesar de interpretar um babaca nesta temporada, seu personagem é fundamental para contextualizar temas tão recorrentes em nossa atualidade como as fake news. Eduardo Franco como Argyle é a parte cômica desta temporada, e ele se sai muito bem aqui. Eddie Munson (Joseph Quinn), tem seus momentos de carisma ao viver um metaleiro e líder do grupo Hellfire Club. O que dizer desse personagem que trouxe tanta desenvoltura e musicalidade para essa quarta temporada? Simplesmente fantástico.
Entretanto, não é difícil notar uma certa linguagem jovial nessa temporada, (apesar do amadurecimento do elenco e da pegada mais pesada dos Duffer Brothers) a jornada de ficção científica adota uma postura cada vez mais metafórica, que conversa diretamente com o público mais jovem, a geração z, espectadores familiarizados com a psicologia pop, essas nuances formam os pontos que ligam a contextualização da trama com a realidade do público alvo. Já que Stranger Things aborda temas como "traumas" em sua narrativa. Talvez isso seja apenas uma divagação distorcida, estabelecida por uma conexão do mundo invertido, vai saber, né? Mas acontece que toda essa psicologia reacendeu um clássico do passado, "Running Up That Hill", canção de Kate Bush, que simplesmente dominou as paradas do Reino Unido e bateu recordes de streams no Spotify.
A música de Bush é tema da personagem Max, e tem fundamental importância em uma cena um tanto decisiva na parte I da 4ª temporada. Por sinal, a trilha sonora é inquestionável. Tudo perfeito! Combina poeticamente com a ambientação que a série propõe. Além da seminal faixa de Kate Bush, temos na trilha Kiss, The Cramps, Talkin Heads, Metallica, Siouxsie And The Banshees e outros mais. Essa combinação entre a ação e a trilha sonora torna tudo ainda mais profundo e emocional.
Uma verdadeira viagem sonora pelo melhor dos anos 80, que apresenta para a tal geração Z, o universo sonoro de um período marcante para música, até aqui já estaria perfeito, mas a série queria muito mais, a maneira como a música é utilizada em Stranger Things realça ainda mais a importância dela em nossa vida. Sempre presente em momentos alegres, tristes e decisivos, ajuda a contextualizar cada sentimento nitidamente configurado no olhar dessa turma que deixa saudade a cada fim de temporada.
Entre dramas pessoais, e os desafios do mundo invertido, Stranger Things cria uma fusão divertida, influente e com camadas de fantasia, terror e ficção científica para tratar de assuntos como a saúde mental e todos aquelas questões conflituosas que envolvem o crescimento e a chegada a fase adulta.
Em um mundo onde o digital se torna cada vez mais comum, e a geração atual está cada vez mais conectada por essa tecnologia, um programa com uma ambientação retrô, nostálgica que serviu de canal para colocar Kate Bush no topo das paradas com uma música de 1985 em pleno 2022, já é o suficiente para você largar tudo que está fazendo e ir para o mundo invertido. Uma série que entrega muito mais do que seu público pede, realmente valeu cada minuto de espera.
Stranger Things
Em andamento (2016-)
Criadores: Duffer Brothers
Distribuição: Netflix
Duração: 4 temporadas
Primeiro episódio: 15 de julho de 2016
Elenco: Finn Wolfhard, Millie Bobby Brown, Winona Ryder, Gaten Matarazzo, David Harbour e outros
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