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Star Sign: Ryan Adams e suas composições que transformam dores da alma e aflições em belas canções

Atualizado: 5 de jan.

Um disco que funciona como um bálsamo para os tempos difíceis.

Ryan Adams lança cinco discos em 1º e janeiro de 2024 — Imagem: Reprodução

*Esse texto não vai se ater a acontecimentos da vida pessoal de Ryan Adams.

Parece que o inquieto Ryan Adams estava escondendo o ouro e esperou o dia 1º de janeiro para soltar não um, mas cinco discos recheados de belas canções. Daquelas que carregam o espírito do vento, que te leva em pensamentos para bem longe. Não há dúvidas de que o “cara” é um baita músico e sabe atribuir todos os ingredientes para compor ótimas baladas e transformar dor em algo mágico.

Pensei em falar dos cinco discos de pancada, mas optei por escrever sobre cada um deles conforme for absorvendo suas canções. O primeiro escolhido foi 'Star Sign', que me pegou de cara com a linda faixa que abre o trabalho, “Self Defense”. Se você conhece a discografia de Ryan, logo vai reconhecer os elementos e toques que só ele poderia nos proporcionar neste início de ano. “Self Defense” é um conjunto perfeito de sintonia para aquelas noites solitárias e chuvosas de janeiro (pelo menos onde estou residindo agora, chove muito). O disco também não dispensa um bom vinho de quebra. Com guitarras profundas e versos poéticos, melancólicos, dosados pela agridoce camada folk primorosa.

"So Lost" chega na sequência com ótimos acordes de pianos e melodias singelas que parecem fornecer a munição necessária para a voz de Adams crescer na canção. A faixa é uma mistura de angústia sincera com aquela ousadia já conhecida do músico, que não gosta de ser rotulado ou definido em gênero. No entanto, Ryan foi um dos poucos artistas que emergiram da cena Country Alternativa para o sucesso comercial do mainstream, com discos como 'Heartbreaker', lançado em 2000 pelo pioneiro selo country Bloodshot Records. O disco foi um sucesso de público e crítica, considerado por muitos como um dos melhores da discografia do músico.

Não demoraria muito para chegar o bonito 'Gold' de 2001, eleito melhor álbum do ano por vários críticos e portais. Um disco que mergulhou em uma sonoridade menos voltada para o country e mais centrado no rock e pop dos anos 70. O disco se tornou um dos queridinhos das rádios americanas após os atentados de 11 de setembro, por causa da faixa "New York, New York", que se tornou uma espécie de hino no país.

'Star Sign', por sua vez, tem muito da atmosfera bucólica de 'Gold'. Canções feitas para dilacerar corações, como a galante e arrebatadora "Darkness", terceira faixa do disco. Confesso que foi difícil pular para a próxima. Ryan sabe como transmitir sentimentos da forma mais pura e doce, com aquela sinfonia tristonha que tanto amamos em uma canção pop. A faixa também coloca em destaque o talento do músico com a guitarra. Os acordes são de doer, como se eles também ganhassem voz para te conectar com a música. Aqui, parece que ele mergulhou de corpo e alma no sombrio e elegante 'Nebraska' de Bruce Springsteen. Vale mencionar que, em janeiro de 2023, Ryan regravou o disco inteirinho de Bruce, trazendo suas particularidades para o que já era bom e bonito.

Para um músico que ultimamente anda caminhando muito em silêncio, fora dos grandes holofotes da cultura pop, rejeitado por muitos apreciadores de música devido ao seu comportamento de abusos e violência contra suas ex-namoradas, como a notória Phoebe Bridgers, que chegou a declarar na época que colocou fim ao relacionamento porque o músico deixou de apoiá-la e, por muitas vezes, tentou sabotar sua carreira. No entanto, este texto não se deterá muito nesse lado de Ryan; apenas mencionei esse detalhe para frisar que, surpreendentemente, apesar de tudo, ele continua sendo um excelente músico. Não lançou apenas um bom disco no dia 1º, mas sim cinco bons álbuns que talvez muitos nem cheguem a ouvir. 'Star Sign' é um lindo disco, honesto; em muitos momentos, é possível perceber uma conexão com essas circunstâncias sombrias sem esconder a podridão e se fazer de vítima.

Os versos da já mencionada "Darkness" escancaram um pouco dessa angústia com frases como: "Há uma escuridão no caminho,/ Uma escuridão na noite,/ Uma escuridão no dia." "Shinin' Through the Dark" é a faixa que mais se distancia da proposta do disco, embarcando em uma sonoridade mais country. A faixa se porta de forma mais animada e joga uma luz no meio do disco, como uma pausa para o ouvinte respirar dos momentos densos. "O que aconteceu com o velho eu?/ O que aconteceu conosco?/ Seja o que for, não importa agora," canta ele, enfatizando que, apesar de tudo, ele continua brilhando através da escuridão.

"Tomorrow Never Comes" começa com sons de gaita que emulam o mestre Neil Young, com uma saborosa pitada de Bruce Springsteen, uma forte inspiração para Ryan nos entregar essa pérola com canções que impregnam na alma. A letra toca nos momentos de solidão; ele canta que costumava ter amigos, mas parece que eles o esqueceram...

O disco também pode ser sobre exorcizar seus demônios ou aprender a conviver com eles em sua alma. São canções íntimas e pessoais que carregam uma forte carga emocional e, ao mesmo tempo, não deixam de ser honestas, verdadeiras e corajosas. Talvez seja uma forma de desabafar para o mundo coisas que não poderiam ser ditas normalmente.

Sugiro que você, que está lendo isso, por mais difícil que possa ser, deixe um pouco de lado a vida pessoal de Ryan e dê uma chance a esses cinco discos. Às vezes, precisamos isolar a obra do seu autor. "Star Sign" é um lindo presente de um músico errôneo na vida, mas que ama o que faz na música. "I Lost My Place" e "Stay Alive", que encerram o disco, são a prova viva disso. E, acima de tudo, é um disco que funciona como um bálsamo para os tempos difíceis.