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Foto do escritorMarcello Almeida

Apesar da direção e elenco estelar, 'Spiderhead' da Netflix decepciona com narrativa superficial

Filme do diretor Joseph Kosinski não encontra o brilhantismo do conto de Saunders

 

Crédito: divulgação Netflix

O que poderia dar errado em uma obra cinematográfica que apresenta um estrelato em seu elenco e direção? 'Spiderhead' a nova aposta da Netflix, responde desastrosamente essa pergunta. O filme do aclamado diretor Joseph Kosinski de ‘Top Gun: Maverick’, reúne em seu elenco Chris Hemsworth, Miles Teller e Jurnee Smollett. Uma produção munida por um diretor badalado pelo sucesso de Maverick e com um elenco estelar pode acabar vendendo “gato por lebre”; é justamente o que acontece na trama de Spiderhead, filme adaptado do conto 'Escape From Spiderhead', de George Saunders, publicado no New Yorke.


A trama desenvolvida pela dupla de roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick tenta alçar voos bem maiores do que apresentado no conto, e nessa tentativa de ampliar o universo de Spiderhead, eles tomam o caminho errado e a coisa desanda por completo. Os primeiros vinte minutos de filme a trama consegue chamar atenção se mantendo fiel à história do conto, mas depois embarca em uma jornada de ficção, thriller e drama que acaba se perdendo no vazio e na falta de criatividade. É algo até compreensível, o filme foi gravado em 2020, em um dos piores momentos da pandemia da covid-19, e adaptar um conto para uma obra cinematográfica é uma tarefa extremamente árdua e difícil, você acaba não tendo um material amplo para gerar um filme de 1 hora e 30 minutos, por exemplo, é preciso muita criatividade e imaginação para conduzir a coisa, algo que infelizmente falta em 'Spiderhead'.


O filme se desenvolve em um complexo penitenciário, onde são realizados pesquisas e experimentos com detentos enviados para lá por livre e espontânea vontade, com o argumento de uma redução na pena. O lugar vende essa ideia como o livre arbítrio de ir e vir, onde terão mais conforto e opção de escolha.


A trama foca em Jeff (Milles Teller de Top Gun: Maverick), como um detento que se sujeita a participar desses experimentos comandados pelo louco e antagonista Steve Abnesti (Chris Hemsworth), o cientista do lugar. Os experimentos consistem em usos de substâncias que causam alucinações de medo e até mesmo fazer com que você sinta amor (e forte desejo sexual) pela primeira pessoa que aparecer em sua frente.



A premissa é ótima! A história do conto é excepcional (leia aqui), se você o ler primeiro antes de ver o filme vai perceber como a história foi muito mal aproveitada e conduzida de uma maneira errada, parece até que os roteiristas ignoraram ou desconheciam o desfecho da obra original e resolveram chutar para todos os lados mediando formas de ampliar esse universo. Ao invés de embarcar em uma trama fundida com thriller e drama que entrega uma cena espalhafatosa no final, se tivessem conduzido o roteiro para um drama psicológico, algo mais denso e sombrio, que fosse desmistificando as reais intenções por trás das experiências com humanos, que na realidade não passavam de cobaias e ratos de laboratórios com certeza teríamos um filme digno e altura da obra literária, a própria narrativa de Saunders propõe isso. Explorar a escolha, a decisão e as relações humanas, são elementos de sobra para uma boa trama de ficção.

'Spiderhead' se favorece do marketing da Netflix, da badalação do diretor, do elenco de primeira linha e do material original bem escrito e se esconde nisso para compensar sua falha em atingir seu potencial.

Assim como mencionei os 20 minutos iniciais no começo deste texto como os mais atrativos do filme, logo após esse período a trama deixa evidente que não tem potencial ou criatividade para contar a história criada por George Sawnders, a atuação de Chris como cientista pirado deixa muito a desejar, ele mais parece um peixe fora d'água, Miles Teller até consegue segurar legal algumas cenas no limite da proposta do roteiro. A trama mal desenvolvida acaba atrapalhando as atuações. O filme do diretor Kosinski acaba se tornando uma versão previsível ao gênero de 'Black Mirror' e 'Ex-Machina', repleto de flashbacks desnecessários que tentam ampliar erroneamente a obra.


Nesse emaranhado de tentativas de encontrar o caminho o filme tenta entregar sua fábula sombria de obediência corporativa, mas deixa faltar o ingrediente principal que fez dessa história algo impactante (leiam o conto), existe a tentativa também de apelar para o humor ácido e satírico, algo que não caiu bem para o personagem de Hemsworth, ele quase perde completamente o foco.


A trilha sonora pode ser o ponto alto do filme com canções como "Rise" de Herb AlPert, "Crazy Love" da banda Poco e "The Logical Song" do Supertramp. A fotografia possui seus momentos brilhantes com bom uso das cores, mas, por outro lado, o filme escorrega mais uma vez, agora para cair na armadilha de filmes projetados em um único ambiente, você tem uma sala ou cabine com vários elementos soltos e mal utilizados. Mas no fim de tudo Spiderhead pode funcionar como um canal para que mais pessoas descubram o formidável conto de George Saunders, assim nem tudo foi perdido.

 

Spiderhead

Spiderhead


Ano: 2022

País: EUA

Duração: 106 min

Direção: Joseph Kosinski

Roteiro: Rhett Reese e Paul Wernick

Elenco: Chris Hemsworth, Miles Teller, Jurnee Smollett

Onde ver: Netflix


 

NOTA DO CRÍTICO: 4,5

 


 

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