Uma sátira social perturbadora que vai agradar os fãs de thrillers misantrópicos
O gênero Terror não parece ser mais tão abastecido por criaturas e monstros do passado. Zumbis, lobisomens, personagens como Freddy e Jason que costumavam infestar o imaginário dos cinéfilos foi dando lugar cada vez mais ao nosso pior e mais real pesadelo: a violência e maldade humana. Dessa forma, foram muitas pessoas que ficaram assustadas e que sequer dormiram direito depois da exibição de filmes como “Eden Lake” (2008) e “Them” (2006), isso só para citar alguns que não saem tão facilmente das nossas lembranças.
O mais recente longa-metragem de Christian Tafdrup é um soco no estômago, um desconforto. Pode surpreender o cinéfilo que aguarda por um filme que cause o maior impacto possível inclusive na brutal meia hora derradeira ou pode fazer que alguém mais despreparado e sensível interrompa a sessão e nunca mais retorne. Porém, é uma produção que anda junto com um mundo que muitas vezes é hostil, ardiloso e que não poupa esforço para mostrar as garras da maldade.
Apesar de certas críticas negativas que recebeu, algumas colocando ele como uma espécie de Terror depravado, o filme ganhou diversos prêmios em cerimônias pela Europa como o Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. Tafdrup é um ator e diretor dinamarquês praticamente novato, mas que com esse filme pode chamar a atenção por conta do choque que ele certamente irá causar.
Embora o filme não apresente jorros gratuitos de sangue, efeitos especiais e elementos grotescos presentes nas clássicas e tradicionais produções do gênero, a montanha-russa que se forma em 93 minutos vai sendo construída aos poucos, de forma dilacerante e, sobretudo, explorando a psicologia dos personagens, deixando o emocional do espectador à flor da pele.
Durante as férias na região italiana da Toscana, o casal Bjorn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch) junto com sua filha Agnes (Liva Forsberg) conhecem Patrick (Fedja Van Huêt), sua esposa Karin (Karina Smulders) e o filho Abel (Marius Damslev). Os dois casais se tornam amigos e, posteriormente, Bjorn e sua família são convidados por Patrick e Karin a passar um final de semana numa isolada casa da zona rural holandesa.
Embora o filme comece com contornos mais alegres e coloridos entre belos e idílicos cenários italianos, é interessante notar como a tensão vai crescendo e mesmo em ambientes diurnos, o temor que nos cerca é sempre constante. Descobertas e verdades são reveladas, a real intenção de alguns personagens chega com impacto. O espectador sabe que essa visita não sairá como planejado, porém, mesmo revelando possíveis pistas, o filme não entrega tão facilmente como isso acontecerá. Para isso, precisamos seguir até o final.
'Speak No Evil' é perturbador, contundente, mas reflete muitas cenas que vemos nos noticiários e que estão próximas de nós, diariamente. No espectador ficará a mesma pergunta que surge em determinada cena do filme e que chega como um choque: “Por que vocês estão fazendo isso?” A violência não entrega respostas. E se reinicia num ciclo contaminado e cada vez mais cruel, como o final do filme sugere. Pode até se passar como uma mistura de sátira social e thriller misantrópico para esse dias atuais, embora de forma verdadeira, porém indigesta.
Speak No Evil
Lançamento: 9 de setembro de 2022
Gênero: Terror, Mistério, Drama e Suspense
Direção: Christian Tafdrup
Roteiro: Mads Tafdrup
Duração: 1h 38 min
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