A sensação de filme trash e as liberdades exageradas do cinema pesam mais do que a história que deseja contar
Tubarões são animais frequentes nas telas do cinema. Criatura predadora e temida, vários cineastas encontraram nele uma forma de trazer terror ao espectador. Dessa forma, 'Tubarão' (1975) de Steven Spielberg continua um clássico atemporal capaz de assustar até mesmo quem já viu o filme diversas vezes.
Em outras ocasiões, o animal apareceu carregado de mutações, surgiu dotado de pés e várias cabeças (sim, acredite!), adquiriu tamanhos exagerados, foi modificado geneticamente, além de executar movimentos acrobáticos e quase impossíveis para abocanhar suas presas.
'Sob As Águas do Sena' ('Sous la Seine', 2024) coloca novamente o peixe em evidência. O francês Xavier Gens ('A Fronteira', 2007 e 'Celular', 2016) ficou a cargo da direção e, para o roteiro, recebeu a colaboração de Yannick Dahan e Maud Heywang ('Legião do Mal', 2009).
Sophia Assalas (Bérénice Bejo) é uma cientista que pesquisa os tubarões junto a seu marido e uma equipe de mergulhadores. Após um trágico evento, ela decide abandonar suas pesquisas e passa a lecionar numa faculdade em Paris.
Entretanto, ela precisará enfrentar seu passado ao saber que Lilith, um tubarão fêmea que monitorava, vai parar no centro da cidade. E aqui, novamente o inusitado acontece ao explorar as águas doces do Sena. Um habitat estranho e atípico para um animal marinho, porém que é explicado ao longo do filme,
Essa adaptação de Lilith nas profundezas do Sena acabou gerando polêmica na comunidade de cientistas e biólogos ao redor do mundo. Para isso, o diretor abusa de um discurso panfletário sobre a extrema poluição dos oceanos e os efeitos causados até mesmo na genética e no comportamento de muito animais.
Sophia precisa unir forças com o sargento Adil (Nassim Lyes). Mas não será tarefa fácil. Diante de um grande evento (triatlo) perto de acontecer no Sena e ainda sofrendo com os traumas do passado, a cientista enfrentará a desconfiança de algumas autoridades do lugar além da prepotência da prefeita de Paris.
Xavier aposta bastante nas cenas aquáticas. Muitas delas são bem filmadas, carregadas de adrenalina e utilizando uma câmera bem ágil. Exemplo são os 10 minutos iniciais que assustam, seja pela água infestada por tubarões, seja pelo lixo e plástico acumulado que também causam um estranho e necessário terror ao espectador. Isso após a abertura citar a famosa teoria da sobrevivência do mais apto, aplicada por Herbert Spencer e depois por Charles Darwin.
Se a primeira metade da película busca imprimir um Suspense com a busca para encontrar o animal, isso não acontece na segunda metade. É quando o diretor opta por cenas com carnificina, gore e mutilações correndo solto na tela. Pois Lilith se desenvolveu bastante trazendo outras ameaças com sua rápida evolução.
Para piorar, o fundo do Sena também esconde outros perigos. E aproveitando o despreparo das autoridades para enfrentar o risco iminente e uma prefeita orgulhosa em não adiar o evento, o diretor vai abusar de efeitos visuais na tela, com muito caos, mortes e até apelando para uma espécie de filme catástrofe.
'Sob As Águas do Sena' é um filme que mistura ativismo ambiental, Ação, Terror, traumas do passado, embora nem tudo funcione perfeitamente como deveria acontecer. Todavia, o espectador que gosta de Ação, explosões, correrias, tumulto, câmera frenética, absurdos e sangue, não vai se decepcionar.
A sensação de filme Trash aqui, junto com as liberdades absurdas e exageradas que o cinema proporciona, acabam pesando muito mais do que a história que ele deseja contar.
Sob as Águas do Sena
Sous la Seine
Ano: 2024
Gênero: Terror, Ação
Direção: Xavier Gens
Roteiro: Yannick Dahan e Maud Heywang
Elenco: Nassim Lyes, Bérénice Bejo e outros
País: França
Duração: 104 min
NOTA DO CRÍTICO: 6,0
Trailer:
NOTA DO CRÍTICO: 6,0
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