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Foto do escritorMarcello Almeida

'Skinty Fia' lida com conflitos de transições e identidade,Um Fontaines confiante em sua caminhada

Atualizado: 21 de set. de 2022


Crédito: Fiona Garden

O Fontaines D.C. praticamente experimentou de tudo um pouco em sua breve existência. A banda que apontou em 2019, com o aclamado e explosivo ‘Dogrel’, abriu portas para o renascimento do Post-Punk moderno, trazendo caos, guitarras barulhentas e os vocais icônicos de Grian Chatten; definitivamente o grupo cresceu no conceito de público e crítica. Não passou muito tempo, e bateu na porta o incrível ‘A Hero’s Death’ de 2020, os irlandeses começaram a colher os frutos plantados. O disco chegou ao número dois no Reino Unido e levou a banda a uma indicação ao Grammy de Melhor Álbum de Rock.

 


 

Em meio a esse alvoroço todo, estourou a pandemia, a banda se mudou para Londres, com exceção de um membro, mudanças, bloqueios, períodos de transições e agora, em 2022, o Fontaines entrega seu terceiro álbum de estúdio ‘Skinty Fia', com produção de Dan Carey, conhecido por trabalhar com a banda Franz Ferdinand, o que pode explicar muito da atmosfera encontrada no disco. O novo trabalho se mostra expansivo, aberto e desafiador. Repleto de guitarras atmosféricas e profundas, menos gritantes e ruidosas. Até mesmo Chatten parece ter encontrado o equilíbrio entre o agressivo e o suave em sua voz.


Se a nossa vida mudou de 2019 para cá! Com o Fontaines não foi diferente. Skinty Fia é o álbum mais minucioso e aventureiro da banda até agora. Eles definitivamente embarcaram em uma viagem sonora pelos anos 80 e 90, expandindo seus conceitos Pós-Punk. Se você procura por uma música como “Boys In The Better Land”? É melhor tirar seu cavalo da chuva. O Fontaines como banda difundiu seu universo musical e abraçou sonoridades como Indie-Pop, Rave-Rock e Britpop.


Muito dessa expansão sonora fica nítida e expressiva na faixa-título, uma mistura de Indie com Trip-Hop que bebe na fonte de bandas como Primal Scream, (fase 'Screamadelica'), ou até mesmo elementos do Chemical Brothers. A semelhança não para por aí não, “Nabokov” canção que encerra o disco, respalda o sentimento da banda de abandonar definitivamente as guitarras, será um prelúdio para o próximo disco? Essa resposta ainda não podemos ter. Mas a faixa ajuda a entender a atmosfera e o quanto o grupo vem se libertando do peso de ‘Dogrel’ e mergulhando cada vez mais em temas profundos e pungentes na busca pela identidade sonora.


Skinty Fia’ foi gravado ao vivo em uma fita durante o período de duas semanas, por mais que o processo de gravação não fuja tanto assim dos seus antecessores, a liberdade de experimentar dominou os irlandeses. Não estranhe se você começar a ouvir o disco e sentir uma familiaridade com Joy Division, a linha de baixo de “In ár gCroithe go deo” que abre o novo trabalho, lembra muito a banda inglesa dos anos 80, a letra da canção foi inspirada pela história da família da falecida Margaret Keane, uma irlandesa que morava em Coventry, Reino Unido, e teve o pedido negado pela igreja da Inglaterra de transcrever a frase irlandesa In ár gCroithe go deo em sua lápide; sob a alegação de que o contexto da frase em gaélico sem uma tradução para o inglês poderia soar ofensiva e provocativa. Chatten conheceu a história e a luta da família em 2020, e isso o inspirou a compor a letra. O Fontaines se viu diante de uma tradução clara de como um irlandês vive na Inglaterra, onde a identidade cultural é algo pelo qual você tem que continuar lutando mesmo depois de morto.

 


 

Skinty Fia pode muito bem ser o reflexo da efervescência e explosão de Dogrel, com o encanto e desejo de ser grande de ‘A Hero’s Death’. O meio-termo entre as emoções, conflitos e anseios da Irlanda, como se fosse um coração pulsante, batendo a todo instante buscando a cura de feridas abertas pelo caminho.

À medida que o álbum avança ele vai te servindo um delicioso banquete Pós-Punk que adere de braços abertos outras sonoridades para embasar às dez canções sobre identidade, desejo, alienação e malícia sentimentos que sempre se voltam para Dublin, terra natal dos Fontaines. O termo ‘Skinty Fia’, título do disco e nome de uma das faixas, pode ser compreendido como um ato autoconsciente de identidade.


A necessidade de se reconhecer em outro lugar sem perder seus laços de origem, aflora e parece permear por todo sentimento envolvido. O quanto pode ser estranho viver fora da sua zona de conforto? O Fontaines parece buscar essa resposta incansavelmente, já que a identidade e transição assombram as canções do álbum.

“Roman Holiday” exprime muito bem esse sentimento com sua aura alimentada por elementos dos anos noventa e melodia endossada pelo Britpop do Verve. Uma canção reflexiva e totalmente climática que abraça com força essa experiência de mudança. Já em "Blomsday", encontramos uma balada melódica com uma atmosfera jogando para o The Cure. A canção se torna uma carta aberta de despedida para Dublin, e isso parece fazer bem a Chatten, ele equilibra muito bem suas letras entre o eu lírico e o lado angustiante das incertezas que assolam sua mudança. "I Love You" embarca em um clima retrô e nostálgico pelos anos 80, buscando sua inspiração agridoce na canção "I Wanna Be Adore" do Stone Roses, e o disco vai encerrando seu enredo bucólico e distinto dos seus irmãos.


Portanto, os Fontaines D.C. podem ser quem eles quiserem ser, com três bons álbuns no currículo em três anos, os garotos de Dublin, vivenciaram o gosto do mainstream, o peso dessa repercussão e agora lidam com os conflitos de transição e identidade. Skinty Fia é sobre o que eles “querem ser quando crescerem”. O disco mais íntimo e livre da banda, eles realmente conseguiram ir além das barreiras do Pós-Punk, e provaram ser possível fugir do mais do mesmo e continuarem autênticos em seus objetivos.


O acordeão que carrega a fúnebre "The Couple Across The Way" não esconde os caminhos traçados até aqui. Uma banda introspectiva em uma cidade estranha, explorando o medo de envelhecer, o tédio, o sabor amargo, o não amado e tudo se conclui em um lindo e melancólico registro, verdadeiro e honesto. O terceiro disco do Fontaines prova que eles estão cada vez mais próximos de seguirem um caminho distinto e se tornarem uma banda com pretextos semelhantes ao Radiohead.

 


 

Skinty Fia

Fontaines D.C.


Lançamento: 22 de abril de 2022

Gênero: Pós-Punk, Indie Rock

Ouça: "Skinty Fia" "I Love You" e "Nabokov"

Humor: Amargo, exuberante e confiante


 

NOTA DO CRÍTICO: 8,0

 

Confira o vídeo de "I Love You":


 

Spotify:
















 



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