Seguimos com nossa jornada pelos anos 90
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Os anos 90 foram uma década de transformações intensas na música, marcando a consolidação do rock alternativo, o auge do hip-hop como força cultural global e o crescimento da música eletrônica no mainstream. Foi um período em que artistas desafiaram convenções, misturaram gêneros e reinventaram suas carreiras, impulsionados tanto pelas mudanças tecnológicas quanto pelo espírito de experimentação da época.
Enquanto o grunge trouxe um tom cru e introspectivo, o britpop resgatou a grandiosidade do pop rock, e a ascensão do indie consolidou novas formas de expressão dentro da música alternativa. Nossa lista reflete essa diversidade, com álbuns que capturam diferentes facetas da década e mostram por que os anos 90 continuam a ser um dos períodos mais vibrantes da história da música.
Tidal – Fiona Apple (1996
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O álbum de estreia de Fiona Apple é um dos mais intensos da década. Aos 18 anos, ela já demonstrava um domínio impressionante sobre sua própria arte, misturando jazz, piano rock e uma entrega emocional crua. Tidal é repleto de canções confessionais e viscerais, muitas delas atravessadas por um senso de melancolia e introspecção que se tornaria marca registrada da cantora.
“Shadowboxer” e “Sleep to Dream” mostram uma artista já completamente formada, enquanto “Criminal” se tornou um hino involuntário, impulsionado por um clipe polêmico e uma interpretação magnética. O álbum não apenas marcou a chegada de Fiona Apple, mas também ajudou a redefinir o papel da cantora e compositora nos anos 90, trazendo uma abordagem mais literária e sofisticada à música pop alternativa.
Bossanova – Pixies (1990)
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O Pixies já havia deixado uma marca inegável no rock alternativo com Surfer Rosa (1988) e Doolittle (1989), mas Bossanova levou a banda para um território um pouco diferente. Inspirado por ficção científica, surf rock e um senso de espaçamento maior na produção, o álbum tem uma vibe diferente dos trabalhos anteriores, mas ainda assim carrega a assinatura caótica e inconfundível do grupo.
A combinação das guitarras afiadas de Joey Santiago, os vocais explosivos de Black Francis e a presença sempre marcante de Kim Deal no baixo faz com que músicas como “Velouria” e “Dig for Fire” sejam essenciais dentro da discografia da banda. Pode não ter o mesmo impacto de Doolittle, mas Bossanova representa bem a transição do Pixies para uma fase mais atmosférica e até cinematográfica.
The Soft Bulletin – The Flaming Lips (1999)
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Se os Flaming Lips passaram os anos 80 e parte dos 90 como uma banda experimental e psicodélica do underground, The Soft Bulletin foi o álbum que os transformou em algo muito maior. Aqui, Wayne Coyne e companhia abraçaram um som grandioso e orquestral, mantendo a excentricidade, mas adicionando uma dose inédita de sensibilidade emocional.
As canções têm um tom quase cinematográfico, com arranjos expansivos e letras que abordam temas como ciência, fragilidade humana e tragédia pessoal. “Race for the Prize” e “Waitin’ for a Superman” são exemplos perfeitos de como o disco equilibra grandiosidade e melancolia. The Soft Bulletin foi um dos álbuns mais aclamados do fim da década e influenciou uma geração de bandas indie que viriam depois.
Everything Is Wrong – Moby (1995)
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Antes de se tornar um fenômeno comercial com Play (1999), Moby já vinha testando os limites da música eletrônica com trabalhos ambiciosos. Everything Is Wrong é um álbum que se destaca por sua versatilidade: em vez de seguir uma única linha sonora, Moby mistura techno, house, punk, ambient e até influências de gospel em um conjunto coeso.
Faixas como “Feeling So Real” e “Everytime You Touch Me” são batidas eletrônicas explosivas, enquanto “God Moving Over the Face of the Waters” é uma peça etérea que mostrava sua habilidade em criar atmosferas cinematográficas.
O álbum pode não ter vendido tanto quanto Play, mas é um retrato fascinante do que estava acontecendo na música eletrônica dos anos 90, quando o gênero começava a se infiltrar no mainstream sem perder sua identidade.
Zooropa – U2 (1993)
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Se Achtung Baby (1991) já tinha sinalizado uma mudança radical para o U2, Zooropa foi a imersão total da banda no experimentalismo dos anos 90. Gravado rapidamente, enquanto ainda estavam na turnê do álbum anterior, o disco mergulha em influências de música eletrônica, industrial e até ambient, resultando em um dos trabalhos mais ousados do grupo.
“Numb” foi um choque para os fãs, com The Edge assumindo os vocais de forma quase robótica, enquanto “Lemon” e “Stay (Faraway, So Close!)” mostravam o lado mais melódico dessa fase. Zooropa é um álbum que muitas vezes passa batido quando se fala da carreira do U2, mas ele encapsula bem o espírito do começo dos anos 90, quando grandes bandas estavam dispostas a se reinventar de maneiras inesperadas.
Out of Time – R.E.M. (1991)
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Um dos discos mais importantes da década, Out of Time elevou o R.E.M. do status de banda alternativa para superestrelas do mainstream. O álbum é um exemplo de como o grupo conseguiu expandir seu som sem perder sua essência, trazendo arranjos mais elaborados e experimentando com diferentes estilos.
“Losing My Religion” se tornou um dos maiores hits dos anos 90, uma canção atípica para o rádio, com sua melodia melancólica e o uso do bandolim. “Shiny Happy People” trouxe uma leveza pop, enquanto faixas como “Country Feedback” e “Texarkana” mantinham a profundidade lírica da banda.
Out of Time foi um divisor de águas tanto para o R.E.M. quanto para o rock alternativo, provando que era possível manter integridade artística mesmo dentro do sucesso massivo.
Harvest Moon – Neil Young (1992)
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Nos anos 90, enquanto o grunge dominava, Neil Young – que já era uma influência massiva para as bandas do movimento – surpreendeu ao lançar um disco que voltava às suas raízes folk. Harvest Moon é um sucessor espiritual de Harvest (1972), trazendo canções delicadas, introspectivas e cheias de nostalgia.
A faixa-título é uma das mais bonitas de sua carreira, enquanto “Unknown Legend” e “From Hank to Hendrix” evocam uma simplicidade emocional que ressoa até hoje. Neil Young poderia ter se aproveitado de sua influência sobre o grunge para fazer algo mais pesado, mas optou por um disco sereno e atemporal, que se tornou um dos favoritos de seus fãs e um dos melhores registros acústicos da década.
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