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Rumours: a maestria do Fleetwood Mac em se abastecer do caos para forjar um clássico atemporal

Foto do escritor: Marcello AlmeidaMarcello Almeida


Aquela delícia de álbum para ficar no repeat por horas

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Álbuns icônicos não são feitos apenas de boas canções. Eles nascem de momentos culturais, de histórias conturbadas e, em alguns casos, de pura catarse emocional.


Rumours, do Fleetwood Mac, é o exemplo definitivo disso. Lançado em 1977, o disco não é apenas uma coleção impecável de soft rock, mas um testemunho de corações partidos, traições e ressentimentos transformados em arte. O que poderia ter sido um desastre completo virou um dos discos mais bem-sucedidos da história, provando que há algo fascinante – e profundamente humano – em assistir ao colapso emocional de uma banda em tempo real.


Até Rumours, o Fleetwood Mac era uma banda de relativo sucesso, mas longe do fenômeno que se tornaria. A mudança veio com a entrada de Lindsey Buckingham e Stevie Nicks, um casal na época, que trouxe uma nova sonoridade e energia ao grupo. O problema? No exato momento em que a banda atingia seu auge, suas relações internas implodiam. Buckingham e Nicks terminaram de forma amarga, Christine e John McVie se divorciaram, e, no meio do caos, Mick Fleetwood descobriu que sua esposa o traía – e acabou nos braços de Nicks.


Essa dinâmica tóxica virou combustível criativo: cada música do álbum carrega a tensão de quem está cantando diretamente para a pessoa que quebrou seu coração, enquanto o resto da banda assiste de camarote.



A genialidade de Rumours está no equilíbrio entre letras brutais e melodias incrivelmente acessíveis. As faixas parecem feitas sob medida para tocar no rádio, mas por trás dos refrões pegajosos há uma carga emocional devastadora. "Go Your Own Way", de Buckingham, é uma acusação direta contra Nicks, cheia de frustração e desejo de controle. Em resposta, ela entrega "Dreams", um soft rock etéreo e cortante, onde joga na cara do ex que ele vai se arrepender de tê-la perdido.



Christine McVie, por outro lado, brilha em "Don’t Stop" e "You Make Loving Fun", mas também escancara sua melancolia em "Songbird". O auge da tensão vem em "The Chain", um raro esforço coletivo da banda, onde cada membro contribuiu para criar um épico sobre relações desmoronando, sustentado por um riff de baixo imortalizado como trilha da Fórmula 1.


O que separa Rumours de outros discos sobre separações é sua produção meticulosa. Buckingham, obcecado pelo controle, moldou o álbum como um arquiteto, ajustando cada detalhe para que as canções soassem impecáveis. Sua obsessão valeu a pena. O disco não apenas dominou as paradas, mas transcendeu seu tempo, sendo redescoberto por gerações que nem eram nascidas quando ele saiu.


É o tipo de álbum que sobrevive a modas porque, no fundo, fala sobre algo universal: o caos do amor e a tentativa desesperada de fazer sentido dele.



Quase 50 anos depois, Rumours ainda ressoa porque não é só sobre Fleetwood Mac – é sobre todos nós. Quem nunca viveu um término que parecia o fim do mundo? Quem nunca ouviu uma música e sentiu que ela estava falando diretamente com a sua dor? Talvez seja por isso que esse disco se tornou tão lendário.



Ele captura não apenas o espírito dos anos 70, mas a essência de qualquer relacionamento que chega ao limite. E, no fim das contas, é isso que faz um grande álbum: não apenas contar uma história, mas fazer com que ela se torne a nossa também.


No dia 30 de novembro de 2022, Christine McVie nos deixou após uma batalha contra o câncer. Sua voz e seus teclados se silenciaram, mas seu legado permanece intacto. Ficamos com a lembrança de um dos álbuns mais grandiosos que o rock já produziu — puro e atemporal, como só o bom e velho rock’n’roll sabe ser.

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