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Foto do escritorEduardo Salvalaio

Ripley, série da Netflix, realça bastante os contornos sombrios do personagem

Interessante como o diretor Steven Zaillian (O Irlandês, 2019) costura tão bem as formas de arte dentro da narrativa.

Créditos: Divulgação/Netflix


A Literatura tem capacidade de criar personagens que ficaram marcados através do tempo, abraçando diferentes gerações. Criações que se concretizaram fortemente na Cultura Pop. Em breves exemplos, poderíamos citar o espião James Bond criado por Ian Fleming em 1953 e o esperto detetive Sherlock Holmes que saiu da mente de Arthur Conan Doyle, isso desde o final do Século XIX.

 

Partindo para a ideia da vilania e dentro do Suspense Psicológico, temos o personagem Ripley que ganhou vida através da norte-americana Patricia Highsmith. Após aparecer numa série de livros da escritora, o vigarista foi alcançando o Cinema em diversas produções. O personagem foi interpretado tanto pelo galã Alain Delon (O Sol Por Testemunha, 1960) como pelo versátil John Malcovich (O Retorno do Talentoso Ripley, 2002).

 

1960. Ripley é um solitário que vive realizando golpes e falsificações. Ganha dinheiro através de cobranças indevidas. Entretanto, confundido como um amigo do filho de um rico empresário americano, ele é contratado para uma missão: seguir até a Itália e convencer Dickie Greenleaf (Johnny Flynn) a voltar para Nova Iorque e reencontrar seu pai, Herbert Greenleaf (Kenneth Lonergan).


Ripley
Créditos: Divulgação Netflix


Ao chegar à idílica região litorânea de Atrani, Ripley passa a desenvolver uma forte relação de amizade com Dickie e sua namorada Marge (Dakota Fanning). Com a relação se intensificando, Ripley vê uma oportunidade maior de usar seus meios ilegais, além da missão que lhe foi incumbida. Mas isso lhe exigirá organizar uma rede de mentiras que atingirá todos ao seu redor.

 

A partir disso, a série vai expondo um personagem sempre em transformação. Ripley passa a utilizar sabiamente as artimanhas da dupla personalidade, aumenta suas técnicas de trapaças, age sem deixar pistas, tanto que existe praticamente um único episódio mostrando todo o esforço do personagem em esconder uma pessoa morta.

 

Estamos diante de um homem que parecia ser tímido, mas que agora sabe o quanto é importante aprender o idioma italiano e estudar sobre Pintura para colocar em prática suas habilidades e conseguir ficar imune a tudo.


 

Interessante como o diretor Steven Zaillian (O Irlandês, 2019) costura tão bem as formas de arte dentro da narrativa. A presença da Pintura na rotina dos personagens exerce uma influência e tanto. Dickie sequer sabe pintar, mas usa a arte como uma forma de passar sua rotina de ócio. As pinturas de Caravaggio mexem com o psicológico de Ripley que chega a se ver como parte do quadro do pintor italiano em alguns momentos da trama.

 

A arquitetura é recurso importante e serve para aumentar a tensão de algumas cenas, sobretudo quando Ripley precisa dar um jeito nas consequências de seus atos, exemplo é a ampla escadaria de um dos prédios que ele aluga. 


Ripley
Créditos: Divulgação Netflix


As locações abrangentes (e não são poucas) dão variedade na trajetória dos personagens. O paisagismo rústico e o frescor litorâneo de Atrani faz uma contraposição necessária da arquitetura imponente de Roma com suas estátuas robustas de leões e de deuses. Tais cenários apontam momentos distintos e importantes na narrativa.

 

A estética da série salta aos olhos. Um capricho a parte. O preto e branco nos transporta para o passado, além de colocar mais dinâmica aos momentos sombrios dos quais Ripley participa. Uma atmosfera noir que resgata a tradição dos filmes de investigação policial e de mistério. Tanto num quarto de hotel como numa solitária rua noturna, existe um temor do próximo passo de um homem que está sempre à frente dos outros.

 

Vale destacar como o elemento água é constante nos episódios: mares, os canais de Veneza, banheiras, chuva. Por meio de pesadelo ou de ilusões, muitas vezes o elemento chega para ampliar o sentimento de culpa ou de impureza que Ripley carrega (como quando ele pensa que está sendo tragado por uma água preta e poluída).


Sem muitos exageros nas cenas de Ação e até optando por um ritmo lento, esta é uma série que exige um espectador atento aos diálogos. Bem elaborados, eles são essenciais para aumentar o embate entre alguns personagens, nos fazendo a entender que a verdade dos fatos pode ser revelada ou, pelo contrário, que a teia de mentiras e o cinismo de Ripley ficarão ainda mais ocultos.

 

E não poderia faltar aquela brecha para uma segunda temporada. Ripley é bem inquieto, sua teia de mentiras e golpes não parece ter fim e sabemos que não existem crimes perfeitos. Claro que a temporada precisa seguir os acertos da primeira (que se sobressaem sobre alguns mínimos e aceitáveis erros).

 

Ripley


Ano: 2024

Gênero: Drama, Suspense

Criada por: Steven Zaillian

Roteiro: Bryce McGuire

Elenco: Andrew Scott, Dakota Fanning, Jonnny Flynn

País: Estados Unidos



 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 

Trailer:


 


 

 

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