24 de set.3 min para ler

Projeto Silêncio tem a alma do ágil cinema coreano apesar dos velhos clichês e de uma trama cansada

Projeto Silêncio está longe de ser inovador, é uma salada de tudo que vimos nesse tipo de filme até hoje

Filme Projeto Silêncio — Crédito: Behance

Filmes coreanos entraram realmente no gosto do público. Para muitos, o cinema feito na Coréia do Sul é sempre uma garantia de entretenimento eficaz, embora muitas vezes a produção chegue cercada de seus exageros, absurdos e daquela carga explosiva e carregada de adrenalina típica do cinema Blockbuster.

Projeto Silêncio (Talchul: Project Silence. 2024) certamente é um desses filmes. O diretor Kim Tae-gon, que também participou do roteiro, entrega um filme que mistura ação, terror e Sci-Fi numa narrativa ágil e claustrofóbica (se pensarmos que os personagens estão cercados por uma ameaça mortal e as chances de escapar são mínimas).

Tudo começa com um experimento secreto do governo cujo objetivo é deixar cães mais agressivos e inteligentes para servirem como armas de guerra. Acontece que esses animais estão sendo transportados por um veículo que, infelizmente, acaba envolvido por um engavetamento gigantesco durante a travessia de uma ponte envolta por forte neblina.

Há de convir que revelar logo nos créditos iniciais a ‘ameaça’ não foi uma boa ideia. Enfraquece aquele clima de suspense e abafa a curiosidade de adivinhar o que há de mortal pronto para atacar.

Entretanto, o diretor fisga o espectador ao se aproveitar um pouco do cinema catástrofe pelo acidente de grandes proporções que, por si só, acaba trazendo tensão e medo mesmo antes dos cães mostrarem os dentes. E ainda existe a fragilidade da ponte que, após o acidente, pode desmoronar a qualquer instante.

Nesse tipo de filme, claro que não faltam alguns personagens estereotipados. O pai tentando se aproximar da filha, o casal de idosos, o cientista medroso e arrependido, o sujeito que entrou ali por azar e que faz até piadinhas da situação.

A força maior do elenco acaba pesando em dois nomes bem famosos do cinema coreano. Lee Sun-kyun, astro de Parasita (2019) e que infelizmente morreu no final de 2023; Ju Ji-hoon que está ganhando notoriedade após algumas produções feitas no país. Seus personagens, apesar da dualidade de ideias e de classes sociais, crescem no filme e agora precisam acertar as diferenças caso queiram sobreviver e escapar do lugar.

O diretor explora bastante os efeitos a que tem direito. Capotamentos e colisões cinematográficas, queda de helicóptero, explosões, uma ponte desmoronando gradativamente.

Os cães, que poderiam ser o charme do filme, sobretudo o imponente Echo-9 (espécie de cão líder), a princípio assustam pela agressividade e astúcia, contudo vão perdendo o impacto na narrativa conforme os personagens encontram soluções para sair do local (e a situação da ponte acaba assustando mais que os cachorros).

Os clichês não param. Existe a pessoa pronta para se sacrificar, aquele plano de fuga simples mas que pode ser infalível, o tempo se esgotando. Projeto Silêncio está longe de ser inovador, é uma salada de tudo que vimos nesse tipo de filme até hoje. Porém, o ritmo ágil do Cinema coreano e a aproximação do espectador com os personagens (apesar de alguns choramingarem mais do que agirem) faz com que a sessão siga até o fim.