'Projeto Flórida' do diretor estadunidense Sean S. Baker, expõe uma história nua e crua sobre a dura realidade da vida rodeada pela pobreza. Uma narrativa simples, comovente, bonita e triste, que capta a visão de uma criança inserida em um cenário cercado pela riqueza e miséria. Um mundo de contradições com reações e ações drásticas e impactantes. Mas tudo isso é contado com toques de sutileza, beleza e atuações excepcionais e primorosas. O filme se passa na cidade de Orlando, que abriga um dos maiores parques temáticos do mundo o Walt Disney World. Bem próximo a esse império do capitalismo vive Moonee (Brooklyn Price), uma garotinha de seis anos que adora fazer amizades e brincar com seus amigos nas proximidades do parque, é preciso enaltecer a atuação dessa garota, tão nova é já esbanjando brilhantismo nas telas, Price conseguiu realmente incorporar sua personagem e traze-la para o mundo real.
Ela mora com sua mãe Halley (Bria Vinaite), em um hotel de beira de estrada. Halley precisa dar duro e batalhar muito e até mesmo encarar situações, barra pesada para manter a sobrevivência dela e da filha. Ela recebe ajuda e proteção de Bobby (Willem Dafoe) o gerente do lugar onde elas vivem. As cenas envolvendo Halley e Moonee apesar de todas as adversidades e desafios lançados contra às duas, é possível sentir o amor de mãe e filha em momentos mágicos, espontâneos e verdadeiros, apesar de tudo, levam a vida blindando-se das porradas entregues diariamente. Projeto Flórida consegue equilibrar muito bem os dois lados da moeda, universos distintos bem próximos um do outro. Poder e grana flertam com a pobreza e dificuldades de gente que batalha duro para sobreviver.
O longa quebra barreiras e vai muito além dos muros que cercam os dois mundos e mostra a vida do lado de fora do império capitalista. A fotografia age de forma pontual colocando um certo contraste na ambientação entre o tosco e o airoso.
Um olhar atencioso para imprimir as mazelas da classe operária, pessoas invisíveis diante de um império do poder. Baker desconstrói o sonho americano, aquele modelo padrão que temos que seguir, as vontades, desejos e aspirações que causam frustrações diariamente. A grande luta por detrás da proposta do longa é manter a inocência de uma criança perante a dura realidade e banalidades da vida adulta. Aqui a vida não dá tréguas, bate e bate com força na árdua tarefa de viver um dia após o outro. Uma vida sem recursos e de muito riscos. Onde sonhos e realidades criam perspectivas e universos onde o luxo e o lixo estão lado a lado, visto de longe e de perto, sob o olhar inocente de uma criança.
A fotografia do filme é deslumbrante e consegue dar vida e realçar os contrastes de realidades, com isso acrescentam um poder emocional e dramático em cenas que se fazem necessário uma boa dramatização. Isso funciona muito bem também nos momentos de entretenimento de Moonee e seus amiguinhos, e finda os laços de mãe e filha. Às duas vivem uma vida sem limites, Halley é bem problemática, não é uma mãe disciplinada e Moonee absorve muito disso. Talvez isso explique o comportamento rebelde da garotinha. Imagine uma criança de seis anos, cheia de sonhos, vontades, vivendo cercada por um mundo marginalizado que se encontra bem perto de um estupendo parque de diversões, o desejo de toda criança de seis anos, um mundo de fantasias e ilusões que regem a realidade de Moonee.
São detalhes que tornam esse filme belo, emocionante, forte, expressivo e delicado. Capaz de fazer nós ficarmos pensando nele por um bom tempo. Seja pelo nosso momento atual ou pela arte do cinema em si. Daquelas obras que contam as histórias que precisam ser contadas com um olhar atento onde sonhos e realidades criam perspectivas e universos, onde o luxo e o lixo estão lado a lado, visto de longe e de perto, sob o olhar inocente de uma criança.
Ficha Técnica:
Gênero: Drama
Direção: Sean Baker
Roteiro: Sean Baker e Chris Bergoch
Elenco: Brooklynn Prince, Bria Vinaite e Willem Dafoe
Data de Lançamento: 1 de março de 2018 (Brasil)
Onde ver: Prime Vídeo
Veja o trailer abaixo:
Sobre Marcello:
É editor e criador do Teoria Cultural.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror, adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com
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