Väistyy Mielen Yö é sem a menor dúvida uma embalagem musical cheia de materiais surpreendentes.
Viima é uma banda finlandesa que após lançarem um disco em 2006 e outro em 2009, simplesmente desapareceram, criando aquela dúvida em todo mundo que havia acompanhado e gostado dos seus dois álbuns, ninguém sabia se tinham chegado ao fim ou apenas estavam em hiato, eis que em 2024, 15 anos depois do seu último registro, eles aparecem não apenas com um material novo, mas com certeza a sua melhor oferta.
A formação do quinteto é basicamente a mesma de 15 anos atrás, com Hannu Hiltula (flauta, teclados, vocal e backing vocals), Mikko Uusi-Oukari (guitarras e Mellotron), Mikko Väärälä (bateria, vocal, teclados e sinos), Aapo Honkanen (baixo) e Risto Pahlama (vocal, teclados e Mellotron), esse último, o único novato, entrando no lugar de Kimmo Lähteenmäki (teclados), que apesar de ter saído da banda, ainda faz uma participação especial na faixa “Vuoren Rauha”.
Väistyy Mielen Yö é um conjunto de 5 peças incrivelmente progressivas e executadas com uma grande inclinação sinfônica, porém, acrescido de outros elementos como incursões jazzísticas e fortes pinceladas folk, além de acenos até mesmo à música clássica. É importante perceber também, o quanto a banda está sempre soando com muito frescor, evitando cair em uma sonoridade simples e derivativa.
Isso quer dizer que não vamos ouvir nada de outra banda aqui? Claro que não, é possível notar influências, por exemplo, em Camel, Genesis e Jethro Tull, além de outros grupos finlandeses como Tabula Rasa e Scapa Flow - no caso dessa, o guitarrista, Mikko Uusi-Oukari, é assumidamente fã -, mas eles fazem isso sem deixar que a cota de originalidade seja a grande maioria no disco.
A única coisa que eu não gostei inicialmente quando ouvi a banda - falo isso desde lá em 2006 e não somente agora nesse álbum -, foram os vocais, admito que não me pegaram inicialmente, mas depois de algumas escutas comecei a senti-los bem apropriados para a música ofertada. Também vale destacar, que os vocais da banda são em finlandês, portanto, para ouvintes que não costumam se dar bem com músicas cantadas em idiomas menos comum, digamos assim, esse também pode ser um problema - nesse caso, eu já não vejo nada demais, tirando os asiáticos, aceito bem vocais em qualquer língua.
“Tyttö Trapetsilla”, o disco começa por meio de sua música mais compacta. De caráter bastante melódico, tem em temas de flauta o seu maior destaque, mas violão e guitarra solo, seção rítmica, além de incursões pontuais de órgão, também ajudam muito na hora de confeccionar a peça. Um início de álbum extremamente animador. “Äiti Maan lapset” é uma longa suíte de quase 19 minutos de duração. Possui um desenvolvimento muito interessante, variando entre trechos mais serenos e alguns mais pesados - embora não tão pesados assim.
Apesar de eu adorar esse tipo de peça, sempre gosto de observar o quão elas são compreensíveis e não uma espécie de música de várias partes, mas que não possui qualquer tipo de uniformidade, porém, não há esse problema aqui. Do começo ao fim, tudo se encaixa, guitarras robustas, linhas compactas de baixo, bateria adequada e teclados em camadas que são os destaques da faixa, além de um vocal que, embora não combine com o brilhantismo instrumental da música, faz a sua parte com nítida competência.
“Pitkät Jäähyväiset” inicia com uma flauta delicada e algumas notas de teclado ao fundo antes de entrar a batida que vai direcionar a música para o seu tema central. Antes da metade, há uma mudança abrupta e a banda passa a entregar um peso por meio de batidas mais veementes, riffs ardentes de guitarra e seção rítmica pulsante, enquanto que os teclados criam ao fundo uma atmosfera psicodélica para depois retorna ao tema principal da peça e que vai permanecer assim até o fim em fade out - confesso que nunca curti músicas que terminam dessa forma.
“Perhonen” entrega alguns dos melhores momentos de todo o disco. A serenidade e beleza da introdução é simplesmente hipnotizante, onde vai crescendo progressivamente em intensidade até explodir em uma sonoridade mais pesada com a bateria e principalmente o baixo palpitando forte, enquanto que a guitarra a principio permanece comedida - se soltando mais na hora do ótimo solo - e o teclado cria um belo clima sinfônico ao fundo.
“Vuoren Rauha”, o vento inicial é criado por Kimmo Lähteenmäki, que apesar de ter saído da banda, já até comentei que ele fez uma participação nessa música. Após a ventania, piano e voz - às vezes em dueto -, assumem a peça, criando um clima tão sereno e confortante que parece que estamos sendo abraçados, principalmente durantes as invertidas de flauta. Pouco depois da metade, a bateria entra e traz uma mudança de compasso, o Mellotron que aparece ao fundo cria um “q” épico na peça, além de servir como ponte para a entrada de um excelente solo de órgão, instrumento que vai se manter em destaque, e a partir de determinado ponto, sobre uma cama de Mellotron, vai aos poucos sumindo em fade out. Ainda vai haver mais alguns sons de vento e uma voz falando algo que obviamente eu não faço ideia do que seja, sei apenas que se trata da voz de Hannu Hiltula.
Väistyy Mielen Yö é sem a menor dúvida uma embalagem musical cheia de materiais surpreendentes. Os músicos trabalham de uma forma onde não há protagonista, mas sim, um todo que se aplica brilhantemente bem na criação de peças pungentes e dramáticas dentro de uma pluralidade harmoniosa que sempre mantem a banda bem direcionada dentro de suas inúmeras ideias. Por último, mas não menos importante, para quem se interessar saber sobre as letras das músicas, elas estão disponíveis em inglês no site da banda, viima.org e vale muito a pena.
Väistyy Mielen Yö
Viima
Ano: 2024
Gênero: Folk Progressivo, Rock Progressivo
Ouça: “Äiti Maan lapset”, “Perhonen”, “Vuoren Rauha”
Humor: Pastoral, Bucólico, Sensível
Pra quem curte: Genesis (fase Peter Gabriel), Jethro Tull, Tabula Rasa
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