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Pobres Criaturas: um filme que traz o encantamento e o estranho do Surrealismo no cinema, através das ideias e visões de Yorgos Lanthimos

"Pobres Criaturas" merece destaque não apenas por sua abordagem única, mas também por sua capacidade de envolver o espectador em uma história cativante que mistura reflexão e encantamento.



Caro leitor, você já teve a oportunidade de se deparar com o trabalho do cineasta grego Yorgos Lanthimos? Ele é amplamente reconhecido como uma das grandes revelações do cinema contemporâneo, especialmente por sua habilidade em criar filmes que transitam entre o surrealismo e a distopia. Seu mais recente projeto, "Pobres Criaturas", que recebeu 11 indicações ao Oscar 2024, merece destaque não apenas por sua abordagem única, mas também por sua capacidade de envolver o espectador em uma história cativante que mistura reflexão e encantamento.


"Pobres Criaturas" é um filme de romance e ficção científica dirigido por Yorgos Lanthimos e produzido por Emma Stone, que também atua no longa. Baseado no livro homônimo de Alasdair Grey e referenciando o clássico Frankenstein, a história se passa na Era Vitoriana e acompanha Bella Baxter que volta à vida após seu cérebro ser substituído pelo do filho que ainda não nasceu. Ela é voltada à vida pelo cientista Dr. Godwin Baxter. Entretanto ela foge com o advogado Duncan Wedderburn para conquistar sua liberdade, adquirir conhecimentos e descobrir seu lugar no mundo.


É preciso salientar que o uso do Surrealismo não é considerado algo novo no cinema e por isso é necessário saber e se informar sobre ele de forma ampla, informativa, detalhista e enfática sobre ele na Arte em geral.






O Surrealismo surgiu como movimento artístico e literário na década de 1920 em Paris. Existe personalidades, coisas e obras culturais que se inspiram bastante nele, entre eles: os ilustres pintores espanhóis Pablo Picasso e Salvador Dalí, a renomada artista mexicana Frida Kahlo, os admiráveis escritores franceses Paul Éluard e Benjamin Péret, o movimento Modernismo no Brasil e o renomado cineasta Luis Buñel que em 1929 lançou “Um Cão Andaluz” um filme que chocou o público da sua época por trazer o Surrealismo de forma impactante para dar encantamento ao que as pessoas possam considerar como ilógico, bizarro ou mesmo anormal. Hoje em dia, "Um Cão Andaluz" é considerado uma obra “Cult”, mas ainda assim ele impacta e influencia pessoas em todo o mundo com suas abordagens.

 

Yorgos Lanthimos, pode-se dizer que bebe constantemente dessa fonte ao trazer uma história que faz obrigatoriamente espectador sair da zona de conforto. Ele faz a personagem de Emma Stone como um Frankenstein feminino que age ao bel-prazer, diferente do famoso personagem do livro da escritora inglesa Mary Shelley que agia de forma cronológica.

 

Mas, pode também ser definido como uma versão do personagem Charlie do emocionante romance de ficção científica “Flores Para Algernon” que invés de buscar apenas a inteligência como busca o personagem pelo escritor estadunidense Daniel Keyes, a protagonista de Pobres Criaturas tem anseios muito grandes que refletem muito na existência da personagem.



Essa característica permite que apresente a narrativa tenha vários núcleos que de certa forma se conectam, para mostrar os encantamentos do que é excêntrico. Se em “Um Cão Andaluz”, a ordem não cronológica faz o espectador viajar pelas suas imagens cheias de mistérios, sonhos e estranhamentos, aqui esse recurso é elevado ao extremo juntamente com o uso de um figurino exótico, uma fotografia cheia de cores, uma maquiagem muito forte, uma direção imersiva e atuações brilhantes de seu elenco.



Emma Stone faz simplesmente um de seus melhores personagens no cinema com uma atuação magnífica ao mostrar de forma bonita a luta pelo desejo de liberdade e igualdade que Bella Baxter clama na sua narrativa, ao mesmo tempo que é curiosa com o conhecimento, sabe causar espanto com suas aparências iniciais e transmite emoção e empatia quando mostra as suas vontades e os seus sentimentos que faz dela ser uma pessoa a frente do seu tempo com uma personalidade que é construída de forma bem escalonada.


Willem Dafoe faz o papel de Dr. Godwin Baxter um cientista que é nada ortodoxo, mas impressiona pela sua presença e entrega atuações muito boas que faz seu personagem ser ao mesmo tempo admirado e temido. Enquanto que Mark Ruffalo faz Duncan Wedderburn, um personagem que proporciona a fuga da personagem de Emma Stone de uma forma bem comovente, mas ao decorrer do longa ele ganha ainda admiração ao mostrar ser um advogado que sabe ser egocêntrico, paternal e maleável nos seus devidos momentos de tela com uma atuação que é excelente.



Há duas citações literárias e filosóficas que se entrelaçam de maneira significativa. Uma delas, do francês Jean-Paul Sartre, declara: “Viver é isto: ficar se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências.” Enquanto a outra, do polonês Zygmunt Bauman, sugere: “A preocupação com a administração da vida parece distanciar o ser humano da reflexão moral.” Embora essas citações não estejam diretamente presentes na película, elas compartilham de forma signiticativa mensagens reflexivas da obra cinematográfica, destacando a valorização da vida enquanto explora o humanismo intrínseco às pessoas.


Resumindo, o filme ressalta a importância do livre arbítrio e das emoções na jornada humana, sugerindo que viver não é perigoso, mas sim uma oportunidade para descobrir o que é certo e errado e moldar sua própria trajetória de maneira harmoniosa, inquieta e única.



Yorgos Lanthimos utiliza a compreensão da vida e da vivência humana para criar uma obra artística e reflexiva em “Pobres Criaturas”. O filme se destaca por sua originalidade, misturando elementos de "Frankenstein", de Mary Shelley, e "Flores Para Algernon", de Daniel Keyes, com uma narrativa única e envolvente.


Com um elenco incrível e atuações admiráveis, uma trilha sonora interessante, uma bela fotografia e uma direção fantástica, o filme não apenas consagra o cineasta, mas também todos os envolvidos, deixando um legado cinematográfico atemporal, acolhedor e criativo que merece todos os aplausos e elogios possíveis. Além disso ele consegue ser diferente do que está sendo produzido em Hollywood com sua onda de fazer cinebiografias de personalidades e traz o encantamento e o estranho do Surrealismo de forma maravilhosa.

 

Pobres Criaturas

Poor Things


Ano: 2024

Países: Irlanda, Reino Unido, Estados Unidos

Direção: Yorgos Lanthimos

Roteiro: Tony McNamara

Elenco: Emma Stone, Mark Ruffalo, Willem Dafoe

Duração: 141 minutos


 

Nota do crítico: 9,0

 

Trailer:


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