Esse pode ser considerado um dos discos mais importantes da história do Rock brasileiro, aquele álbum exuberante e enigmático, que criou uma espécie de revolução cósmica no cenário musical. O que os Mutantes canalizaram nesse encontro de ritmos e atmosferas vibrantes, foi algo nunca antes visto no campo da cultura pop aqui no Brasil. Estou falando do primeiro disco deles, autointitulado, onde podemos perceber inúmeros ambientes hipnóticos e deslumbrantes. Toda vez que ouço esse disco me lembro de como Kurt Cobain ficou maravilhado com a obra dos Mutantes, em sua passagem pelo Brasil.
Os Mutantes surgiram durante o movimento tropicalista no ano de 1966, formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, passaram também pela banda Liminha e Dinho leme. Fortemente influenciados pelo Rock dos anos sessenta que vinha de bandas como: Beatles, Jimi Hendrix e Beach Boys, e com todo aquele fervor de colocar para fora os sentimentos e amarguras vividas pelo povo brasileiro devido à Ditadura Militar, surgia a extrema necessidade de cantar e colocar pra fora todo o descontentamento e conformismo da sociedade e falar sobre a verdadeira situação política do país.
Interessante notar como as canções dessa obra conversam atentamente com o nosso hoje, entregando aquele conhecido sinal de alerta sobre os perigos da volta do fascismo. Poucas bandas conseguem esse feito de criar canções eternizadas que passam pelo seu âmbito de maneira intemporal, pertencente a todos os tempos, trazendo aquela abordagem de manifesto dos seus próprios princípios.
São onze faixas experimentais que bebem na fonte do Rock Psicodélico e Progressivo, sem deixar de lado o tropicalismo.
Rita Lee, Arnaldo Antunes e cia, apresentaram ao mundo, hits e clássicos celebrados até hoje e que funcionam como uma fonte de inspiração e influência para muitas bandas novas. Músicas como: “Panis Et Circenses” que destoa do conformismo que se implantou em nossa sociedade diante de tudo que aconteceu e vem acontecendo; a letra dessa canção cai muito bem ao abordar a bolha da vida moderna com seu lema de que apenas viver e morrer, é suficiente. Em outras vertentes te leva a uma atmosfera totalmente envolvente ao unir tropicalismo com psicodelismo em “A Minha Menina”, uma composição de Jorge Ben, que foi composta a pedido de Rita Lee. “Baby” (do Caetano Veloso), ganha, uma versão totalmente repaginada com muitas guitarras distorcidas e vários efeitos deslumbrantes.
Os Mutantes colheram muito bem suas influências pegando o Baião, a Tropicália, o Rock Psicodélico, e assim criaram uma fórmula nova e autêntica, algo que ninguém ainda tinha feito por aqui. "Bat Macumba" tem sua inspiração no Candomblé. Basta prestar atenção na percussão e guitarra da faixa, que evoca muito bem esse ritmo envolvente. A canção é uma composição de Caetano e Gil. Um álbum de canções que embarcam em um ritmo frenético e audacioso, aquele feito que fez dos Mutantes uma banda reverenciada até hoje por produtores musicais e pessoas do mundo todo.
Artista: Os Mutantes
Álbum: Os Mutantes, 1968
Lançamento:1 de janeiro de 1968
Gênero: Rock Psicodélico, Tropicália
Ouça: "Panis Et Circenses", "A Minha Menina" e "Bat Macumba"
ouça o disco aqui
Marcello Almeida
É editor e criador do Teoria Cultura.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror, adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar história sobre música, cinema e literatura.
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