O Pranto do Mal junta referências de outros filmes para criar um Terror interessante e assustador

O Pranto do Mal já pode figurar entre os filmes de Terror mais interessantes dessa década

Produzir algo que vem de estilhaços de outras criações cinematográficas nem sempre é tão fácil. Muitas vezes ideias, influências e até mesmo os clichês narrativos emprestados de outros filmes podem estar presentes, mas o resultado ser pífio e esquecível. Então saber juntar e reunir fragmentos da história do gênero é importante para fugir da obviedade e de mais um filme que passará batido tanto nos Cinemas como nos streamings.

O espanhol Pedro Martín-Calero parece ter se inspirado em alguns filmes do gênero para dirigir O Pranto do Mal (El Llanto, 2024). Praticamente um novato no Cinema, o diretor é conhecido pelos curtas que realizou, além de propagandas para empresas famosas como Honda e Adidas. Em seu début em longa metragem, é dele também o roteiro junto com Isabel Peña (As Bestas, 2022).

A película traz uma narrativa ligada a 3 mulheres: Andrea (Ester Expósito), Camila (Malena Villa) e Marie (Mathilde Olivier). Praticamente dividido em 3 atos, o filme aborda a vida e a rotina dessas personagens quando estão diante de um mal perigoso que as persegue.

Duas referências e influências ficam bem perceptíveis. Ao trazer algo que persegue insistentemente as personagens podemos nos lembrar da tensão que foi o ótimo A Corrente do Mal (It Follows, 2014). Aqui também, veremos Andrea e Camila em suas constantes filmagens durante o filme, o que nos remete à cultura do Found Footage (sabemos bem o que é aquela apreensão de que algo irá aparecer na tela diante dos nossos olhos).

Crédito: San Sebastian International Film Festival

Muito além do que focar o Terror, o gênero Drama surge em doses corretas. Andrea é uma garota que faz de seu celular um lugar de refúgio e que terá uma surpresa chocante que não lhe contaram sobre seu passado. Camila é uma solitária estudante de Cinema que nunca tem seus trabalhos aceitos pelo professor, a única mulher numa sala só de homens. Marie não tem a confiança de sua família e não consegue manter uma relação de diálogo com seus pais.

Digamos que Pedro cutuca diversas temáticas em sua produção, mas não faz delas um motor de propulsão para a narrativa engrenar. Solidão, machismo, isolamento, a difícil harmonia das famílias. Todas elas se misturam em muitas cenas que servem para alertar sobre alguns males reais que também nos assustam em sociedade.

O filme tem um baixo orçamento, não apela para efeitos especiais, sangue, mortes brutais. Ele pode mesmo passar um sentimento de amadorismo, talvez até de propósito, isso para contribuir e intensificar a atmosfera retrô, sombria e desolada da história, sobretudo em passagens como de Camila que acontece em 1978.

Um dos segredos aqui foi trazer recursos que criam tensão no espectador como um prédio escuro e abandonado que ecoa choros de pessoas ou mesmo a câmera de Camilla que teima em ficar desfocada em determinadas filmagens. O diretor opta por cenários externos e internos que geralmente causam um desconforto seja muitas vezes pela falta de iluminação, seja algumas vezes pela sensação de claustrofobia que transmite.

Embora o ato que envolve Andrea seja o mais impactante, Pedro costura bem os 3 atos dando uma sequência correta e verossímil para um final estonteante e que culmina para um filme que tem seu final em aberto, quem sabe pegando gancho para uma sequência. Caso não exista, mesmo assim O Pranto do Mal já pode figurar entre os filmes de Terror mais interessantes dessa década, além de indicar que o diretor está num caminho promissor.