Mais de quatro anos depois, será que uma sequência cairia bem?
Quando O Poço apareceu em 2020 no catálogo da Netflix, muitos espectadores ficaram surpresos com as propostas embutidas ali. Apesar de o filme espanhol trazer em seu núcleo muitas ideias emprestadas das histórias que envolvem encarceramentos e prisões, conseguia fazer de sua trama distópica uma alegoria eficaz sobre pirâmide social, desigualdades, falta de solidariedade e de compaixão com o próximo.
O filme chegou abraçando um toque de originalidade e chocava ao mostrar um espaço confinado, claustrofóbico e com homens tentando sobreviver. Além disso, era uma produção que chegava num tempo bastante conturbado e que nos fazia refletir, pois estávamos praticamente na ebulição da pandemia de Covid-19.
Mais de quatro anos depois, será que uma sequência cairia bem? Para um filme até certo ponto controverso que originou inúmeros significados e múltiplas interpretações, é preciso concordar que sim. A direção continua sendo de Galder Gaztelu-Urrutia (que também colaborou no roteiro). David Desola, um dos roteiristas do primeiro filme, também permaneceu.
A mesma prisão vertical, disposta em 333 níveis, cada qual com duas pessoas. Uma plataforma repleta de comida desce aos níveis e as duas pessoas ali presentes devem comer num tempo determinado. Quanto mais profundo o nível, maiores as chances das pessoas ficaram sem comida. É quando conhecemos os dois personagens que abrem o filme: Perempuán (Milena Smit) e Zamiatin (Hovik Keuchkerian).
Nessa sequência, num ambiente de pseudo tranquilidade, os integrantes do poço agora tentam seguir regras, entre elas, a de não se alimentar da comida preferida do outro, a não ser que haja uma troca de comum acordo (que eles chamam de Revolução Solidária). Mas sempre sabemos que regras são quebradas.
Observamos flashes em que os personagens são entrevistados a respeito de suas preferências alimentícias e dos crimes que cometeram no passado. Claro que Perempuán e Zamiatin são personagens que serão decifrados gradualmente (ou então que são capazes de nos deixar ainda mais confusos até o final).
O espectador aguarda algo impetuoso por chegar, sobretudo pelo tamanho de Zamiatin em sua fome insaciável de pizzas suculentas e com seu isqueiro inquieto. Perempuán, por sua vez, é a mulher com um passado misterioso a ser revelado e cuja personalidade vai se moldando a cada dia vivido no poço.
E é exatamente quando a dupla fica nos níveis mais baixos, que são os números mais altos, é que a tensão aumenta. Infelizmente, o filme desbanca para uma sessão de batalhas sem fim entre aqueles que desejam praticar suas próprias leis e por outros que lutam contra essa dominação. Espere cenas sangrentas com direito a cabeças e corpos despencando pelo poço ou por castigos que envolvem mutilações e até referências ao canibalismo.
A violência desmedida (muitas vezes fortuita para render ação) e as constantes regras impostas que não funcionam acabam afastando conceitos da versão original, mesmo que essa sequência pegue elementos e aspectos do primeiro filme (incluindo até personagens). E nem a entrada de novos integrantes ao sistema não consegue renovar o impacto da trama (inclusive com a presença de Natalia Tena, a Osha do seriado Game Of Thrones).
Ainda temos o mistério das crianças. Também existe a questão dos ungidos. Porém, adivinhem? Servem para render mais passagens brutais e complexidade ao entendimento. Quem esperava algumas respostas vai se decepcionar, sairá do filme com mais dúvidas e perguntas. As cenas pós-créditos abrem possibilidades para um terceiro filme.
O Poço 2 é ainda assustador, convenhamos. Tem algumas boas interpretações, também continua centrado em suas críticas, embora tudo num tão mais disperso, desorganizado e sem ter o impacto do primeiro. Um terceiro filme pode consertar a franquia ou então pode piorar a situação. Torcer para que não seja o fundo do poço.
O Poço 2
El Hoyo 2
Ano: 2024
Gênero: Terror, Suspense
Direção: Galder Gaztelu-Urrutia
Roteiro: David Desola, Galder Gaztelu-Urrutia
Elenco: Milena Smit, Hovik Keuchkerian, Natalia Tena
País: Espanha
Duração: 100 min
NOTA DO CRÍTICO: 5,0
Trailer:
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