“Um dia Quente” parece uma verdadeira ode ao tropicalismo efluído nas canções de artistas como: Os Mutantes
A banda O Mormaço Severino de Cáceres-MT, lança seu debut de canções autorais ‘Cânticos das Ruas Estreitas', um disco conciso e elegante, que traduz um sentimento regionalista, afável e volúvel, o qual captura belas texturas de alívio e conforto em canções poéticas sobre saudade, amores, solidão, os desassossegos que insistem em bater na porta da alma, a essência e sentimentalismo de caminhar pelas ruas de uma cidade histórica, ensolarada e apreciar o pôr do sol no cais da Praça Barão. Com aparente singelezas, O Mormaço Severino entrega um álbum nostálgico com camadas regionalistas que se aproximam dos gêneros Indie Rock, Blues, Folk e Indie Pop, com boas doses de psicodelia a lá The Doors, em faixas expansivas e experimentalistas.
A banda é formada por Jheine Lima (voz/backing vocals), Rauni Valentim Vilasboas (guitarra/backing vocals e letras), Diego Vicente (teclados), Ronaldo Gonçalves (baixo), Luiz Guilherme (bateria) e Wellington Fernandes (percussão). O disco foi gravado em Cuiabá-MT, sendo selecionado, no MT Nascentes, que integra os editais da lei Aldir Blanc.
O álbum abre com a reflexiva e climática “O Furor” onde os vocais de Jheine soam estelar e condizem com atmosfera psicodélica criada por teclados enigmáticos e guitarras pontuais que podem muito bem te fazer lembrar de Pink Floyd, a letra toca em assuntos existencialistas, aquela constante idas e vindas em busca de algo que ainda não sabemos o nome. “Bilhetes Rasgados” é um Indie Pop agridoce, aquela balada envolvente, com notas singelas de teclados e percussão, Rauni vai se mostrando um verdadeiro letrista e poeta pantaneiro com letras repletas de sentimentalismo, sempre com sua cidade natal como berço e inspiração, e isso fica bem mais evidente na linda e serena “Eu Quero Ver o Pôr do Sol da Sete de Setembro” ruas e avenidas repletas de histórias e vivências. “Vacilo” e “Desandado” são as faixas mais nervosas do disco, guitarras energizadas e efeitos de teclados que manifestam um clima denso e introspectivo com uma letra sobre anseios, solidão e aquela insistente angustia que insiste em assolar o peito.
O Mormaço Severino se assegura em suas raízes e caminham seguramente pelo seu ápice criativo, entregando um álbum de estreia que mais parece uma seleção de grandes momentos de sua trajetória pela música.
Trata-se de uma experiência visionaria, ocasionalmente acessível, ou hermética. Com um pouco de tudo que os caracteriza: Regionalismo, Rock Progressivo, Indie Rock, poesias e a cidade de Cáceres. Uma estranha beleza emanando de todas aquelas coisas não ditas. A formação atual da banda existe desde 2016, desabrochando dos movimentos culturais da Universidade do Estado de Mato Grosso UNEMAT e da amizade entre eles. Sempre defendendo a música autoral e independente. No fim das contas parece que se faz valer o contexto histórico embutido em cada verso jorrado que merece uma atenção especial.
Apesar de fazerem um som regionalista com influências psicodélicas com aquela cara de anos 70, tem também aquele frescor trazido de boas composições e arranjos, como se o sexteto estivesse pronto para embarcar em um outro universo paralelo, cheio de energia e vitalidade. O Mormaço pode muito bem se referir ao calor de 40º da cidade de Cáceres, ruas de asfaltos quentes e estreitos, já Severino passa a ideia de uma pessoa comum, um trabalhador na luta diária para defender o pão.
“Um dia Quente” parece uma verdadeira ode ao tropicalismo efluído nas canções de artistas como: Os Mutantes. A faixa possui uma aura psicodélica, melódica e fecha o álbum magistralmente. O Mormaço Severino pode muito bem ser mais que um conceito poético inspirado na cidade de Cáceres.
Ficha Técnica:
O Mormaço Severino
Álbum: 'Cântico das Ruas Estreitas'
Lançamento: 3 de dezembro de 2021
Gênero: Rock Alternativo, Indie Rock, Folk e Música Regionalista
Ouça: "O Furor", "Eu Quero Ver o Pôr do Sol da Sete de Setembro" e "Um dia Quente"
Para quem gosta de: Rock setentista e música psicodélica
Ouça 'Cânticos das Ruas Estreitas' no Spotify:
Veja a banda tocar ao vivo "Eu Quero Ver o Pôr do Sol da Sete de Setembro"
Sobre Marcello
É editor e criador do Teoria Cultural.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com
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