18 de dez. de 20243 min de leitura

Não Solte! reúne terror, thriller e drama numa narrativa centrada na sobrevivência de uma família

Não Solte! é uma diversão, embora efêmera, para um final de semana e mais um daqueles para pensarmos em nossas famílias

Créditos: Divulgação/Paris Filmes — Créditos: Divulgação / Paris Filmes

Alguns filmes colocam a família diante de situações complicadas. Num cenário devastado e desolado, buscar a sobrevivência, proteger quem amamos e manter a sanidade foi uma temática bastante vista até hoje nos Cinemas. E esse filão sempre rende novas produções

Em Arcadian: invasão Sombria (2024), Nicolas Cage é um pai que precisa manter seus filhos seguros de perigosas criaturas num mundo pós-apocalíptico. Por sua vez, Prenda a Respiração (2024) traz Sarah Paulson como uma mãe superprotetora que defende suas filhas de uma ameaça externa num cenário que sofre com uma terrível estiagem.

Nos primeiros minutos de exibição, Não Solte! (Never Let Go, 2024) do diretor Alexandre Aja (Alta Tensão, 2003) apresenta breves semelhanças com os dois filmes citados anteriormente. Além disso, existe toda uma atmosfera que nos leva a pensar em algo dirigido por M. Night Shyamalan ou até mesmo que remete ao clássico filme Os Outros (The Others, 2001).

Acompanhamos uma mãe (Halle Berry) cuidando de seus dois filhos gêmeos num lugar que foi tomado por um mal desconhecido. Aqui, novamente, o espectador já é colocado dentro da situação desconfortável dos personagens e não existe explicação sobre o que ocorreu. Ele, o espectador, precisará juntar as peças.

Os três vivem isolados numa cabana e precisam seguir regras. Nunca devem se soltar das cordas que os prendem quando eles estão fora da cabana. Também devem cumprir alguns rituais dentro da casa, como, por exemplo, ficar num porão apertado por uma hora como uma forma de penitência. A família vive de plantas, alimentos e animais que consegue na floresta ao redor. Isso inclui sapos, cascas de árvore, ovos de aves e algumas caças.

O filme é dividido em 3 atos. Eles mostram uma situação que vai se transformando gradualmente e que acabará afetando os personagens. Os recursos ficam cada vez mais escassos, a mãe dos meninos passa a ter mais visões estranhas e algumas medidas extremas e exageradas precisam ser tomadas.

O choque maior é quando um dos filhos, Nolan (Percy Daggs IV), passa a questionar os métodos da mãe e se realmente existe algum perigo ao redor. O filme segue por uma linha de conflito entre a própria família que agora se vê diante da necessidade de sobreviver com pouquíssimos recursos e que vai se esfacelando conforme o tempo passa.

A proteção exagerada da mãe, a visão contraditória de Nolan sobre o mal externo, a tensão aumentando conforme os recursos se extinguem. Mesmo com momentos repetitivos e a lentidão de algumas cenas, a trama se sustenta quando pretende dar as respostas praticamente em seus minutos finais. E ainda sobra aquele gancho para uma sequência ou então, deixa espaço para outras interpretações e percepções.

A atuação de Halle Berry convence. Seu desgaste físico e emocional emociona, trazendo aquela noção de que nem tudo da personagem foi revelado e que o espectador ainda não descobriu nada sobre ela. Os dois filhos interpretados por Percy Daggs IV e Anthony B. Jenkins mostram desenvoltura e modelam dois atores mirins com futuro promissor.

Transitando entre os gêneros Terror, Thriller Psicológico e Drama, a película engloba o velho recurso de usar a iluminação, vultos, sombras, jogos de câmera e a densa floresta para imprimir seus sustos, mas não esquece de potencializar a questão da sobrevivência em situações extremas cuja humanidade se mostra tão fragilizada.

Não Solte! é uma diversão, embora efêmera, para um final de semana e mais um daqueles para pensarmos em nossas famílias e, também, que cai como uma alegoria para os tempos que somos obrigados a viver isolados como foi durante a pandemia de Covid-19.