Ninguém Vai te Salvar é uma grata surpresa para este ano de 2023.
Um dos pontos que mais chamam a atenção em Ninguém Vai te Salvar (No One Will Save You), filme dirigido e escrito por Brian Duffield (Insurgente, Amor e Monstros), que chegou recentemente ao catálogo do Star+, é sua narrativa sem diálogos. O filme deve ter no máximo umas três ou quatro palavras durante sua duração. Esse ponto acaba proporcionando ao telespectador uma experiência imersiva, exigindo que você fique atento e embarque junto com a protagonista principal nessa jornada de sobrevivência e redenção com situações do passado.
Embora tenha sido lançado recentemente na plataforma de streaming, o filme tem recebido considerável atenção tanto do público quanto da crítica especializada. Isso se intensificou especialmente após os elogios do renomado escritor Stephen King, autor de "O Iluminado," e do cineasta Guillermo del Toro, diretor de "O Labirinto do Fauno".
A trama nos conduz para uma cidadezinha do interior dos EUA, onde iremos acompanhar Brynn Adams, muito bem interpretada pela atriz Kaitlyn Dever (Fora de Série, Inacreditável), uma jovem introspectiva de poucos amigos e que vive isolada em uma enorme casa afastada da cidade. Em uma certa noite, ela é acordada por barulhos e ruídos estranhos e logo percebe que tem uma criatura rondando sua casa.
Com uma ambientação nostálgica puxada de filmes de ficção científica dos anos 50 e 60, mesclando com outros mais atuais, a exemplo de Sinais de 2002, o filme de Brian já nos apresenta, logo de cara, o elemento surpresa em uma perseguição frenética nos seus 10 primeiros minutos. Sim, invasões alienígenas são um tema muito explorado pelo cinema, mas a intenção do diretor aqui não é criar algo novo dentro do que já foi construído na ficção científica, e sim aproveitar todos esses elementos para embasar uma história sobre superar traumas do passado e transtornos de ansiedade. Os próprios alienígenas são configurados da forma mais clássica conhecida, assim como suas naves espaciais.
A decisão de optar por uma narrativa sem diálogos ajuda aprofundar ainda mais no tema sobre a saúde mental. A rotina de Adams, sua luta pela sobrevivência, um cenário de poucos coadjuvantes; com isso, o diretor conduz seu filme entre suspense, ação e ficção, com uma história autoral e criativa sobre um dos maiores inimigos dos nossos dias atuais; nosso próprio pensamento. O filme é eficaz em demonstrar como uma pessoa com transtorno de ansiedade lida com uma invasão domiciliar. O desespero e o medo são muito bem trabalhados nessa perseguição entre extraterrestres e humano.
São situações que nos levam a indagar a escolha do estúdio em lançar o filme diretamente no streaming, no caso aqui do Brasil, na Star+. Este era um título que poderia render um ótimo custo-benefício nos cinemas. É o tipo de produção predestinada a se tornar um cult dentro do gênero. Por mais que o filme tenha suas falhas em manter o ritmo do terceiro ato em diante, é extremamente louvável como a direção conseguiu conduzir uma história de autoperdão que ganha reviravoltas através da ficção científica. Kaitlyn Dever está brilhante no papel. Ela conduz uma performance "monstruosa" do início ao fim.
A fotografia e os cenários voltados para uma ambientação retrô também são pontos positivos e acabam fazendo referência a outros clássicos da ficção, o que torna a experiência ainda mais convidativa. Os diálogos nem fazem falta aqui. Na verdade, você nem vai ter tempo para sentir falta deles nesse jogo de caça entre "gato e rato".
Ninguém Vai te Salvar é uma grata surpresa para este ano de 2023. Um filme que, nas entrelinhas, diz muito sobre a vida nos dias atuais e consegue conduzir uma narrativa e ambientação criativa para passar sua mensagem. Em certos momentos, ele pode parecer estranho e confuso, mas nunca perde seu brilho, seja em momentos mais tensos ou dramáticos. É aquele longa que deixa espaço no final para que você reflita e tire suas próprias conclusões.
Ninguém Vai te Salvar
No One Will Save You
Ano: 2023
Gênero: Terror/Ficção Científica
Direção: Brian Duffield
Roteiro: Brian Duffield
Elenco: Kaitlyn Dever
Duração: 1h 33 min
NOTA DO CRÍTICO: 8,0
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