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Foto do escritorMarcello Almeida

Mundo Livre S/A, retrata o cenário apocalíptico da pandemia em novo disco antológico e objetivo.



O Mundo Livre S/A, banda pernambucana formada em 1984, na cidade de Recife, após o término de três bandas Punk (Trapaça, Serviço Sujo e Câmbio Negro) tendo como líder o cantor e compositor Fred 04, um dos expoentes ao lado de Chico Science e Nação Zumbi, pela fortificação e ascensão do movimento conhecido como Manguebeat, ressurge nesse início de 2022, trazendo uma leitura fidedigna do nosso atual cenário político e econômico, expondo as mazelas, os achismos e negacionismos implantados depois das eleições de 2018, fortemente representada pelas perigosas fake News.


O novo álbum de estúdio ‘Walking Dead Folia (Sorria Você Teve Alta!), possui uma representatividade tremenda, mesmo antes de você colocá-lo para tocar é possível se sentir representado pela sarcástica e honesta capa do disco (retrato fiel do Brasil), muito bem elaborada e pensada pelo ilustrador Wendell Araújo, que une o mundo apocalíptico do seriado de TV The Walking Dead com as folias e aglomerações do verdadeiro carnaval que virou o país. Uma imagem tropicalista que fala mais do que mil palavras, e imprime de forma sagaz o (des)governo de gestões maiores do Brasil em relação à pandemia da Covid-19 propagando fake News, ridicularizando a vacinação e a ciência. Uma capa que define muito bem o contexto ácido e urgente do novo disco. O ano mal começou e já se consolidou na antologia histórica pela forte presença do Mundo Livre S/A, e não poderia vir em momento mais oportuno. Com certeza vai ser aquela obra que irá causar certas “revoltinhas” na "boiada boçal", elitizadas pela figura de um ser abominável.


O disco chega depois do ótimo ‘A Dança dos Não Famosos’ (2018) e coloca em destaque o melhor do processo criativo do grupo pernambucano em criar atmosferas, ambientações instigantes e bem-humoradas. O álbum abre com aquela forte golpeada na boca do estômago ao retratar duramente a realidade do Brasil com a forte e urgente “Necropolitano” faixa que diz muito sobre os nossos dias atuais e aquela rotina diária cercada por medo, insegurança e incerteza. “Não há mais pulmão...” diz um dos versos da letra, ascendendo o frevo macabro da devasta pandemia, mas deixa uma ponta de esperança no ar de que isso não vai durar para sempre. Passagens metafóricas que podem muito bem estar correlacionadas com a próxima eleição presidencial neste ano. “Blue Gin e os Seres (De vidro)” possui uma melodia estimulante e guitarras estonteantes, formando um diálogo inteligente com a letra politizada e bem-humorada. Uma contextualização sobre “aquela gente” que se armaram de ódio, de achismo e discursos negacionitas, que, ridicularizam a ciência e a eficácia da vacina. Preferem acreditar nas blasfêmias de um falso profeta do que nos estudos científicos, algo que vem se tornando um tanto perigoso e preocupante. Serve de alerta, como fica claro no último verso da canção. “Hoje é dia de juntar os cacos...cuidado para não se cortar”.


Baile Infectado” retrata muito bem o discurso debochado, e o descaso político mediante a uma desumana crise sanitária provocada por total falta de responsabilidade. Em meio ao caos, andar de Jet Ski faz bem, né? E os senhores da vez, todos eles lavam suas mãos. A saúde pública sucateada. Oxigênio? Nunca foi prioridade, a cloroquina sempre esteve a mão. Enquanto a nós? É preciso muita coragem e resistência para permanecer nesse fogo cruzado que se tornou um verdadeiro “Baile Infectado”. A canção é uma sátira dessa triste e revoltante realidade que persiste em nos assolar diariamente.

Porem, o Mundo Livre S/A, já conhece muito bem o peso da dor e não entrega um disco fúnebre para te colocar pra baixo. Eles conseguem muito bem tecer suas críticas políticas e sociais através de canções muito bem-humoradas que levam o ouvinte a refletir sobre o momento atual do país de maneia consciente sem se perder no abismo da própria alma.

O disco possui esse cunho político e social bem presente em suas canções. Mas por hora, podemos encontrar uma ou outra letra mais voltada para o pessoal, como se fosse um retrato íntimo e fiel de tudo que a banda vem presenciando no decorrer do tempo. O grupo sabe muito bem do espaço que conquistaram desde que saíram do anonimato em 1994 com o disco ‘Samba Esquema Noise’ uma homenagem diretamente para Jorge Ben (grande inspiração para banda) e seu disco ‘Samba Esquema Novo’.


Walking Dead Folia’ soa sagaz, ácido, verdadeiro e bem-humorado. Com onze músicas em seu repertório, o novo trabalho ainda traz a participação especial de Doralyce uma grande expoente do afrofuturismo nacional e Jorge Du Peixe da Nação Zumbi. Um trabalho audacioso, bonito, muito bem produzido, de arranjos soberbos, que por hora, soam hipnóticos e psicodélicos. O reflexo dos nossos dias atuais, onde precisamos lutar contra uma pandemia e um desgoverno que joga a favor dela. Um disco incrível que retrata de forma objetiva e brilhante nossa versão The Walking Dead.

 

Ficha Técnica:

Walking Dead Folia (Sorria Você Teve Alta!)

Artista: Mundo Livre S/A

Data de Lançamento: 20 janeiro de 2022

Gênero: Manguebeat, Rock e Maracatu

Ouça: "Necropolitano", Blue Gin e os Seres (De Vidro) e "Baile Infectado"

Para quem gosta de: Chico Science & Nação Zumbi e Mombojó

Nota: 8,5

 

Ouça no Spotify:

















 

Veja o vídeo de "Baile Infectado":



 

Sobre Marcello Almeida

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com


 





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