No geral, o álbum flui de maneira suave de uma faixa para a outra, criando uma atmosfera que, embora não seja deslumbrante, é consistentemente agradável.
Mount Kimbie, originalmente uma dupla britânica de música eletrônica formada por Dominic Maker e Kai Campos e agora um quarteto, começou sua história em 2008. Rapidamente se destacaram na cena musical de Londres e internacionalmente por sua abordagem inovadora, mesclando habilmente elementos de diversos gêneros como dubstep, ambient, hip-hop, jazz e indie rock. Seus primeiros trabalhos, os EPs "Maybes" e Sketch on Glass lançados em 2009, receberam elogios por sua estética minimalista e experimental. O álbum de estreia, Crooks & Lovers (2010), fortaleceu ainda mais sua posição de influenciadores na música eletrônica.
As composições de Mount Kimbie são ricas em texturas sonoras multifacetadas e envolventes, que misturam samples, sintetizadores e instrumentos tradicionais para criar ambientes imersivos. Eles trabalham esses elementos com precisão, criando paisagens sonoras atmosféricas que transportam o ouvinte a diferentes estados emocionais. A sofisticação de suas produções é evidente, refletindo um domínio na combinação harmoniosa de diversos elementos sonoros, resultando em músicas que são tanto inovadoras quanto coesas. Essa atenção meticulosa aos detalhes e a constante busca por inovação fazem suas músicas serem únicas e facilmente reconhecíveis.
Bom, dito isso e reconhecendo a reputação inovadora da Mount Kimbie, minhas expectativas para o novo álbum Sunset Violet eram altas. No entanto, após ouvi-lo, senti uma certa frustração. O brilho neon dos álbuns anteriores foi substituído por uma atmosfera empoeirada. As músicas possuem vocais desanimados sobre loops repetitivos e passagens de guitarra monótonas, contribuindo para uma sensação de arrastamento. Essa combinação de elementos torna o álbum, com pouco mais de 35 minutos de duração, parecer muito mais longo.
Mount Kimbie explora uma ampla gama de gêneros musicais, desde pop, R&B, música eletrônica e krautrock, até tentar criar uma nova identidade dentro do indie rock. Esse tipo de abordagem inovadora reflete a ousadia artística da dupla, que sempre busca desafiar as expectativas dos ouvintes. No entanto, essa mistura de estilos pode parecer desconexa em alguns momentos, com os elementos nem sempre se integrando de forma perfeita. O desafio de equilibrar tantas influências pode resultar em falta de coesão, deixando o álbum com uma sensação de fragmentação.
Costumo ser tolerante com vocais considerados ruins ou não convencionais. Não costumo me importar com interpretações imperfeitas, desde que tragam autenticidade ou emoção à música. No entanto, o que realmente me incomoda é quando eles soam sem vida ou brilho, entregando performances monótonas e sem entusiasmo. Infelizmente, isso é exatamente o que acontece com os vocais masculinos deste disco. A falta de dinamismo e expressividade nas interpretações retira a energia das músicas, tornando difícil para o ouvinte se conectar com elas em um nível emocional. Ao não transmitir a paixão ou a intensidade esperada, eles acabam se destacando.
O uso da guitarra não conseguiu me prender, exceto em momentos específicos. Na maioria das faixas, as guitarras parecem confusas, perdidas em meio a uma abundância de efeitos sonoros. O excesso de pedais de efeito e processamentos digitais deixou as linhas de guitarra sobrecarregadas, tornando a música menos dinâmica. Essa abordagem poderia ter sido uma oportunidade para inovação, mas muitas vezes resultou em uma textura sonora que distraía do conjunto da obra. É especialmente decepcionante considerando a habilidade da banda em criar paisagens sonoras envolventes em trabalhos anteriores.
Quando falamos em Mount Kimbie, esperamos que as partes eletrônicas se destaquem, mas até isso foi decepcionante. O uso de elementos fundamentais do som característico da dupla foi conservador. Em vez de explorar paisagens sonoras ricas, os componentes eletrônicos pareciam apenas preencher espaços, sem oferecer a profundidade esperada. Os sintetizadores, que geralmente envolvem o ouvinte em uma atmosfera distinta, soaram como um pensamento secundário. Em vez de vibrantes e imaginativos, essas texturas eletrônicas foram frequentemente planas e pouco inspiradoras, contribuindo para uma sensação geral de falta de criatividade e frescor no álbum.
Então com base nisso esse é daqueles álbuns para passar longe? Claro que não, talvez eu tenha sido duro demais, apesar dos contras, a execução das músicas é feita com uma elegância e sutileza que não passam despercebida. Mesmo com a falta de bons ganchos, cada faixa é bem produzida e transmite um senso refinado de musicalidade, porém, sem os picos emocionais ou os refrãos cativantes que frequentemente definem um álbum marcante. No geral, o álbum flui de maneira suave de uma faixa para a outra, criando uma atmosfera que, que embora não seja deslumbrante, é consistentemente agradável, mas que em uma audição, infelizmente, não deixa aquele gosto de querer ouvir outras vezes.
The Sunset Violent
Mount Kimbie
Ano: 2024
Gênero: Indie Rock, Dream Pop, Post-Punk
Ouça: "Dumb Guitar", "A Figure In The Surf", "Empty And Silent"
Para quem curte: Four Tet, James Blake, Darkstar
NOTA DO CRÍTICO: 5
Ouça, "Dumb Guitar"
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