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Morte, angústias e camadas sombrias em 'Memento Mori'; um álbum sentimental do Depeche Mode

'Memento Mori' foi lançado em 24 de março de 2023

Crédito: Anton Corbijn


Em 2017, quando lançaram 'Spirit', o Depeche Mode mostrou mais uma vez sua grande capacidade musical ao apresentar mais um excelente álbum que mistura o rock com a música eletrônica, algo que sempre fizeram muito bem ao longo de toda carreira. Esse trabalho foi o resultado de músicas bem politizadas que foram fortemente embaladas pelo hit "Where's the Revolution". Além disso, esse trabalho também teve uma recepção extremamente positiva do público e da crítica, o que foi um belo acréscimo à discografia da banda e trouxe shows marcantes, bem produzidos e envolventes.

Entretanto, chegou o ano de 2022 e o grupo britânico foi pego de surpresa com uma notícia nada agradável. No dia 26 de maio, Andy Fletcher, tecladista e fundador da banda, faleceu. Desde a saída de Alan Wilder em 1995, o grupo vem se apresentado ao redor do mundo com bastante frequência e o falecimento deixou Martin Gore e David Gahan, os outros dois integrantes do conjunto, numa cruzada a ponto de deixar as pessoas curiosas para saber se o Depeche Mode iria encerrar as suas atividades.


O novo disco, que começou a ser produzido bem antes da morte de Fletcher, foi influenciado pelos tempos pandêmicos, algo que se intensificou fortemente após seu falecimento. Esse pode muito bem ser um álbum de dois velhos amigos tentando sobreviver a trágica perda enquanto vislumbram para os dias que ainda estão por vir.

Afortunadamente, eles decidiram não terminar a banda e, em 2023, trouxeram 'Memento Mori', seu novo disco de estúdio, seis anos depois de 'Spirit'. Enquanto o primeiro disco trazia mais sons elétricos e letras politizadas, o novo trabalho possui um som mais sombrio e letras mais emotivas, abordando temas como morte e perda de uma forma bem profunda. O nome do disco é uma expressão que tem sua origem no latim, que nos traz a ideia de mortalidade, que diz “Se lembre que você também vai morrer”. É impossível não se lembrar do escritor e dramaturgo brasileiro Ariano Suassuna em uma parte marcante da sua famosa obra “Auto da Compadecida”, que trata da morte com a frase “Tudo o que é vivo, morre.” A capa do álbum já apresenta duas asas de anjo ao redor de flores brancas, representando a contextualização das letras do trabalho.


O trabalho é composto por 12 faixas densas, sentimentais e profundas. “Ghosts Again" tem uma sonoridade forte que fala sobre as perdas da vida em uma letra que tem um teor sentimental forte por conta de suas despedidas e tristezas. O ouvinte parece estar no ótimo filme de 1957 “O Sétimo Selo”, do renomado cineasta sueco Ingmar Bergman, onde o videoclipe da música usufrui desse elemento de forma incrível e magnífica. “People Are Good” é um som leve, interessante e minimalista, que parece uma mistura bem feita de Daft Punk e Kraftwerk.

“My Cosmos Is Mine” possui tanto na parte lírica quanto em sua sonoridade a força de uma esplendorosa canção com a capacidade de transportar o ouvinte para espaço com seus elementos de ficção cientifica. A letra traz a mensagem de que somos mortais analisando a imortalidade e a infinitude do espaço com seus planetas e estrelas. Essa pode ter sido uma canção inspirada nas ótimas faixas instrumentais do Pink Floyd, exemplo o ótimo álbum 'The Division Bell' de 1994. “Don’t Say You Love Me” apresenta um som com toques profundos e uma letra que traz melancolia diante de um amor cheio de complexidades, adversidades e diferenças entre as pessoas envolvidas. Os timbres dessa faixa lembram as camadas de uma valsa ou um tango feito com sintetizadores eletrônicos.


“Speak To Me” possui um som intimista e calmo que busca suas raízes no rock progressivo da banda Yes na sua fase pop atrelado a uma letra como se estivesse falando com alguém sobre suas dores, por mais que elas sejam constantes, a vida vai continuar seu fluxo. Pode muito bem ser uma canção direcionada a pessoas como Andy Fletcher que já faleceram e que sempre serão lembradas por sua marca aqui na terra. “Soul With Me” tá mais para uma experimentação fina que emula a graciosidade da Soul Music dos tempos áureos da Motown.

Comovente, experimental e surpreendente são alguns dos adjetivos que definem o décimo quinto álbum da banda, um trabalho desafiador e sentimental. Entretanto, mesmo carregado por uma áurea pesada, o Depeche Mode se mostra afiado em expandir sua sonoridade muito além dos fantasmas endossados pela dor e tristeza de perder alguém próximo. Eles ainda podem ser considerados uma ótima referência para o Synth Pop. O futuro do Depeche? Não sabemos, eles abriram a turnê de divulgação do disco, mas quer saber? Isso é o que menos importa agora. Após tudo pelo que a banda passou, ter um disco desse nível pode parecer um milagre, mas o Depeche Mode sempre conseguiu transformar tempestades, e momentos difíceis e dores em ótimas canções. Martin Gore e David Gahan são uma dupla bem sincronizada como outras no Synth Pop que vão desde Erasure e Pet Shop Boys até Magdalena Bay e Electric Youth.

 

Memento Mori

Depeche Mode


Lançamento: 24 de março de 2023

Gênero: Synth Pop, Música Eletrônica, Rock, Pop.

Ouça: “Ghosts Again”, “People Are Good”, “My Cosmos Is Mine”.

Humor: Sombrio, Reflexivo, Intenso, Hipnótico


 

NOTA DO CRÍTICO: 9,0

 

Veja o videoclipe de "Ghosts Again":



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