Mercury Rev renasce maduro após 30 anos de carreira, mostrando que sua música ainda guarda grandes trunfos
A história do Mercury Rev começa de longa data, ainda no início dos 90’s. Junto com The Flaming Lips, Grandaddy, Sparklehorse e outros grupos, ficou conhecido por fazer parte de uma nova e interessante safra musical americana. Com uma sonoridade bem centrada no Noise e na Neo-Psychedelia, o grupo chegou com um début bem avassalador, “Yerself Is Steam” (1991). “Boces” (1993), o disco posterior, viria com o mesmo impacto,
Entretanto, foi a partir de “Deserter’s Song” (1998), o quarto trabalho, que os americanos começaram a planejar uma reviravolta na sonoridade, nunca, claro, em detrimento de seus primórdios. No disco, o peso do Noise abria espaço para ambientes orquestrados, um cenário onde cordas e violinos se sintonizavam melodicamente com a voz de Jonathan Donahue (mais sutil e suavizada).
Em seguida, “All Is Dream” (2001) manteve a mesma ideia, deixando a banda novamente confortável em sua proposta musical. Após esse ano, o Mercury Rev lançou mais alguns discos. Inclusive é preciso destacar mais uma vez o grupo inovando ao realizar uma releitura competente de “The Delta Sweete”, lendário disco lançado pela cantora Country Bobbie Gentry em 1968.
Um bom tempo fora dos holofotes, mas nunca distante da Música. O grupo que hoje serve de referência para a geração atual, surge com canções inéditas após um hiato de 9 anos. O grupo continua com os veteranos Jonathan Donahue (voz/guitarra) e o multi-instrumentista Sean “Grasshopper” Mackowiak, mas agora conta com os novatos Jesse Chandler (piano) e Marion Genser (teclados).
Em entrevista pela internet, os integrantes citaram vários discos que os influenciaram para a composição do novo álbum. De um gosto bem eclético, o quarteto aponta como inspiradores vários grupos e artistas, entre eles: Chet Baker, Tchaikovsky, The Cure, Mozart, Alice Coltrane e Bitchin Bajas (obscuro duo de Chicago).
A imersão do grupo nessa sonoridade distinta acaba se refletindo em "Born Horses". Algo que começou a ser construído após 1998 e que agora ganha mais lapidação. A começar pelos mais de 7 minutos de ‘Mood Swings’, uma abertura apoteótica que invade o território jazzístico com uma estrutura instrumental impecável composta por sopros e cordas.
As letras também retratam o mundo moderno e a poética existente é contagiante. Difícil não ser cúmplice de uma banda que está sincronizada com muito dos problemas atuais. Em frases soltas e reflexivas, Donahue destila temas que os ouvintes reconhecerão prontamente, a exemplo da depressão (‘and the pill bottle spills and my mind starts to fill’) e da solidão (‘this immense loneliness flapping in her chest’).
Citando o próprio vocalista, aqui ele usa a tecnologia para mudar sua voz. Os vocais estão num tom diferente. Antigos fãs podem reclama dessa mudança de voz. Entretanto, essa nova forma de cantar se aproximando a um monólogo sussurrado talvez se encaixe bem no propósito de uma banda com letras reflexivas, maduras e confessionais: dialogar intimamente com seus ouvintes, caso de ‘Everything I Thought I Had Lost’ onde o vocalista cita amigos que perdeu e da necessidade de seguir adiante.
Em ‘Your Hammer, My Heart’, o saxofone e os teclados conferem uma melodia mais climática e etérea. ‘Patterns’, cuja letra tem citação a Ian Curtis, é envolta por um piano lúgubre e traz resquícios da própria Neo-Psicodelia que sempre cercou o grupo. ‘There's Always Been a Bird In Me’ fecha o álbum com uma sonoridade pesada, conferindo um gostinho de Space Rock à faixa.
Para o Mercury Rev, não existe a ferrugem e o comodismo. Muito pelo contrário. A banda surge de um bom despertar, volta segura com a maturidade de quem passa dos 30 anos de atividade e sente como sua música ainda guarda bons trunfos.
Born Horses
Mercury Rev
Ano: 2024
Gênero: Jazz, Psicodélico, Alternativo, Indie
Ouça: ‘A Bird Of No Address’, ‘Your Hammer, My Heart’
Pra quem curte: Yo La Tengo, The Flaming Lips
Humor: Atmosférico, Enigmático, Hipnótico
NOTA DOO CRÍTICO: 8,0
Veja o vídeo oficial de ‘A Bird Of No Address’:
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