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Foto do escritorTiago Meneses

Luiza Brina, em 'Prece', cria uma atmosfera de paz que transmite conforto e uma profunda conexão sônica

As faixas do disco capturam sua jornada emocional e espiritual, oferecendo uma combinação de suavidade e intensidade

Luiza Brina
Foto: Instagram / sillas.h


Luiza Brina é uma artista multifacetada, destacando-se como cantora, compositora e multi-instrumentista. Com uma voz delicada e uma habilidade musical ampla, ela tem raízes em Belo Horizonte e é uma presença marcante no cenário da música independente brasileira. Seu trabalho é uma fusão equilibrada de MPB, samba, jazz e folk, resultando em um som encantador e envolvente. Além de sua trajetória solo, Luiza é conhecida por suas colaborações frequentes com diversos artistas e bandas, onde contribui com sua sensibilidade e criatividade. Ela é vocalista, guitarrista e compositora da banda Graveola, além de também já ter feito parcerias com vários outros nomes da música como Ceumar, Arthur Nogueira, Chico Bernardes e Vovô Bebê, entre outros.


Entre suas muitas qualidades, Luiza é altamente valorizada por sua habilidade de criar músicas que são tanto íntimas quanto universalmente impactantes. Suas composições têm o dom de captar a essência de vivências e sentimentos pessoais, ao mesmo tempo em que tocam temas que ressoam com um público variado. Essa capacidade de unir o pessoal ao coletivo confere a Luiza uma autenticidade e versatilidade musical notáveis, o que lhe garantiu uma boa base de admiradores.


Em Prece, seu álbum mais recente, ela mergulha em temas profundos e pessoais, convertendo suas introspecções em músicas que tocam profundamente o coração e a alma. As faixas do disco capturam sua jornada emocional e espiritual, oferecendo uma combinação de suavidade e intensidade. Com sua voz delicada e arranjos musicais bem acabados, Luiza cria uma atmosfera íntima, onde suas vivências e emoções são transmitidas de forma genuína e cativante. Prece se torna uma celebração da conexão humana e da busca por sentido, proporcionando ao ouvinte uma experiência musical que é ao mesmo tempo reflexiva e abrangente.


Cada detalhe do disco é tão suave e encantador, que dá a impressão de que, através da música, estamos nos ligando a algo além da nossa realidade cotidiana. É como se a música nos envolvesse em um abraço acolhedor e reconfortante, sussurrando em nosso ouvido que tudo vai ficar bem. A atmosfera de paz e meditação transmite uma profunda sensação de conforto e conexão sonora.


Através de cada uma de suas canções, a ideia parece ser a do ouvinte entrar em um espaço de contemplação e então poder encontrar consolo e esperança. Esse aspecto espiritual do disco é um de seus pontos mais fortes, criando uma experiência auditiva que é tanto curativa quanto inspiradora. Mostrando, por exemplo, em Oração 2 – que conta com a participação de Silvana Estrada -, que em momentos de vulnerabilidade, a necessidade de apoio torna-se evidente, indicando que apesar das incertezas, a busca pelo pertencimento e a conexão com algo além de si mesmo são fundamentais para a construção de uma vida com significado.


Em Oração 18 (pra viver junto), Luiza parece sugerir a importância de uma independência, porém, essa autossuficiência não significa isolamento, mas sim, um estado de autoconfiança e clareza sobre si mesmo e que facilita interações mais profundas e significativas. Oração 13 (coração candongueiro) parece soar como um consolo que é buscado na herança cultural africana, que por sua vez, é retratada como uma fonte profunda de sabedoria e resiliência, destacando a importância de tradições, rituais e histórias que moldam a identidade e a experiência. Aqui Luiza conta com a companhia de Sérgio Pererê.


Em Oração 19 (oração pra Oxum), Ianna Rennó se junta a Luiza para uma celebração da conexão entre o ser humano e o mundo natural, parecendo querer sugerir que a verdadeira paz pode ser encontrada na harmonização com a natureza e no cultivo de um espaço interior de acolhimento e tranquilidade. Em Oração 15 (oração à Cobra Grande), Luiza tem a parceria de Thiago Amud na composição e a participação especial é de Maurício Tizumba. Se trata de uma invocação à uma entidade nomeada Cobra Grande, sendo sua presença algo vital para um rio. É uma peça carregada de saudação e respeito, refletindo a importância dessa entidade na manutenção do fluxo e da pureza do rio.


Mesmo sem listar todas as faixas, é importante destacar que cada uma delas possui méritos e importância dentro do álbum. Todas desempenham um papel essencial no desenvolvimento do conceito e na construção da narrativa total de Prece, contribuindo de maneira única para a experiência de quem se deixar levar pelo disco, seja através de suas letras, melodias ou arranjos, formando assim uma tapeçaria coesa que enriquece o trabalho como um todo.   



Por falar em melodias e arranjos, é impossível não se maravilhar com a atenção aos detalhes, principalmente evidenciados no trabalho orquestral realizado por 19 mulheres. A complexidade dos arranjos se mistura de maneira bastante harmoniosa com a simplicidade e a elegância de cada uma das peças lideradas pela voz doce de Luiza. A orquestração é feita com enorme sensibilidade, onde cada uma das frases dos instrumentos é combinada de maneira condizente com a progressão da narrativa.



Por fim, o disco me coloca em um dilema: ou eu não o entendi muito bem, ou eu o entendi de uma forma tão intensa que isso gerou um impacto ainda maior do que eu esperava. De qualquer forma, o que é inegável, é que não vejo Prece simplesmente como uma coleção de faixas, é algo muito mais significativo. Com bons fones de ouvido em um quarto escuro, ele me provocou um turbilhão de emoções que vão muito além da experiência comum de ouvir música, ressoando profundamente com minhas próprias vivências e sentimentos.

 

Prece

Luiza Brina


Ano: 2024

Gênero: MPB, Música de Câmara

Ouça: "Oração 2", "Oração 18 (pra viver junto)", "Oração 13 (coração candongueiro)"

Pra quem curte: Jennifer Souza, César Lacerda, Iara Rennó



 

NOTA DO CRÍTICO: 9,5

 

Ouça "Oração 2"



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