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Foto do escritorMarcello Almeida

Juçara Marçal "Delta Estácio Blues" Excogita a Invisibilidade do Submundo que Muitos não Enxergam

Atualizado: 29 de ago. de 2022



Impacto e força é a primeira impressão que aflora ao escutar ‘Delta Estácio Blues’, segundo disco solo de Juçara Marçal, que ficou conhecida pelos seus trabalhos nos grupos Vésper Vocal, A Barca e Metá Metá trio paulistano com o qual Juçara já gravou álbuns, EP e a trilha sonora de balé do Grupo Corpo. Esse novo trabalho possui uma ambientação inquietante, são ruídos, sons de metais, um clima atmosférico surpreendente, que deixa aquele sentimento urgente ao jorrar versos poéticos sobre temas espinhosos.


Juçara nasceu em 1962 no município de Duque de Caxias (RJ), hoje reside em São Paulo (SP), além de cantora e professora, já se aventurou pelo mercado fonográfico com Padê (2008), disco produzido em colaboração com Kiko Dinucci, o responsável pela ambientação atmosférica e eletrônica de 'Delta Estácio Blues'.


Em seu novo projeto ela acena para uma vertente agridoce que se sobressai muito bem em terrenos imprevisíveis, delirante e lusco ao mesmo tempo. Essa é Juçara Marçal e o seu disco que é a cara do Brasil. O álbum abre com a faixa “Vi de Relance a Coroa” os instantes iniciais dessa canção me remeteram ao Samba de Clara Nunes, aquela música introdutória que cumpre muito bem seu papel em conquistar e impactar, gera aquele misto instantâneo entre prazer e euforia.


O som de Juçara vai muito além das vertentes do Samba e MPB. São camadas experimentais e ousadas que vai do Samba ao experimentalismo do Radiohead em questão de minutos, transita perfeitamente por sonoridades que aguçam e despertam o interesse do ouvinte em desvendar cada barulho e elemento ali embutido. Um álbum potente sonoramente e Punk em suas temáticas precisas e necessárias para o Brasil de agora. O nome do disco já representa a conta cara que todos nós pagamos e estamos pagando. Afinal são mais de 600 mil mortes pela pandemia da Covid-19. E o disco traz o nome 'Delta', uma variante da [Covid-19] algo que exprime muito bem o momento que estamos passando.


Aos 59 anos a cantora esbanja uma voz firme e segura. E ela sabe muito bem aonde quer levar sua voz. ‘Delta Estácio Blues’ explora lugares inexploráveis e excogita o submundo da invisibilidade da periferia do Rio de Janeiro em “Crash” uma faixa potente e preciosa de versos poéticos que narram a vida fora dos cartões postais. A canção conta com a assinatura do rapper Rodrigo Ogi, e a produção de Kiko Dinucci, parceiro de longa data da artista. E abre para inúmeras colaborações de peso como o produtor Cadu Tenório, o multi-instrumentista Fernando Catatau, da Cidadão Instigado, a pianista Thais Nicodemo, o trompetista Romulo Alexis, e o saxofonista Thiago França, que já é parceiro na banda Metá Metá.


Um disco rico e Eletrônico mas, que abre ao mesmo tempo, para outros ritmos da música negra: o Samba, o Jazz, o Blues, o Rap e os Funks antigos. Algumas camadas lembram muito John Coltrane.

Um álbum simplesmente maravilhoso que da voz ao coletivo, aos sons de batuques que fazem referência a cultura dos sons ancestrais africanos. Um verdadeiro estopim da cultura negra, exposta em cada verso e palavra dessa gigante mulher. Sua voz é a voz de milhões de brasileiros que lutam diariamente pelo arroz e feijão na mesa.


 

Artista: Juçara Marçal

Álbum: Delta Estácio Blues

Lançamento: 30 de setembro de 2021

Gênero: Samba, Jazz, Blues, Rap e Eletrônica

Ouça: "Crash", "Baleia" e "Vi de Relance a Coroa"



 























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