“A Tábua de Esmeralda” possui ao todo 12 faixas e cada uma delas traz sua própria cor e textura para o conjunto, fazendo deste álbum uma viagem musical cheia de ritmo, melodias cativantes e o uso de uma impactante lírica.
A safra musical de 1974, assim como as safras de 1971, 1972 e 1973 possui discos maravilhosos que não revolucionaram apenas a música brasileira, mas também a música mundial, com artistas de diversos gêneros musicais lançando discos bem especiais com letras que soam como poesia para a alma, uma sonoridade eclética e de qualidade que fazem os ouvidos vibrarem e traz para a vida obras de arte que merecem ser contempladas, conhecidas, admiradas e divulgadas por fãs e adoradores. Um desses trabalhos mágicos é o fabuloso “A Tábua de Esmeralda".
"A Tábua de Esmeralda", lançado em 1974, é um dos álbuns mais emblemáticos do músico carioca Jorge Duílio Lima Meneses, conhecido como Jorge Ben Jor, um renomado músico brasileiro que sabe inovar musicalmente seja no violão, na guitarra ou nas letras. Este disco é frequentemente citado como um dos melhores da MPB e destaca-se por sua inovação e influência duradoura seja por artistas ou admiradores.
Musicalmente, o disco mistura elementos do samba, rock, da MPB mais tradicional e do funk estadunidense, com um toque de psicodelia, algo bastante inovador para a época. As letras do álbum são profundamente influenciadas pela alquimia, filosofia e espiritualidade, temas pouco explorados na música popular brasileira até então.
É preciso salientar também, que nessa época o artista se chamava Jorge Ben e acrescentou artisticamente o Jor a partir do ano de 1989 para ele não ser confundido com o ilustre cantor e guitarrista de Jazz George Benson, já que queria investir em uma carreira internacional naquela época.
“A Tábua de Esmeralda” possui ao todo 12 faixas e cada uma delas traz sua própria cor e textura para o conjunto, fazendo deste álbum uma viagem musical cheia de ritmo, melodias cativantes e o uso de uma impactante lírica. Ele é também notável pela sua produção. A qualidade sonora e a precisão dos arranjos são exemplares, permitindo que as complexas camadas de som e significado se entrelacem sem se sobreporem.
"Os Alquimistas Estão Chegando” é a abertura vibrante desse trabalho, ela mistura elementos de samba com letras que falam sobre alquimia e traz também aspectos do esoterismo como fonte filosófica da canção. Ela estabelece o tom esotérico do álbum que é impossível não se deixar cativar e levar pelo seu suingue e querer saber mais sobre os alquimistas, bem como, especular porque eles são discretos e silenciosos e moram bem longe dos homens.
"O Homem da Gravata Florida" traz uma melodia cativante, um lírico cheio de bom humor e um ritmo mais acelerado que é claramente inspirado no Samba-rock que já foi testada anteriormente por renomados músicos como o cantor Wilson Simonal e o grupo musical Os Originais do Samba. A letra parece narrar a história de um homem misterioso, talvez uma metáfora para a busca espiritual. A música é um dos grandes destaques do disco no que se refere à combinação das partes sonora e lírica.
“Errare Humanum Est" é uma das canções mais famosas do álbum, destacando a voz suave de Jorge Ben e um refrão inesquecível que faz a boca cantarolar sua sintonia. A letra fala sobre a natureza humana de cometer erros e como isso nos faz sermos mortais perante o mundo. Até porque ela é uma frase em latim que significa “Errar é humano”.
"Menina Mulher da Pele Preta" é uma homenagem à beleza da mulher negra, combinando um ritmo suave com letras poéticas. Enquanto que "Eu Vou Torcer “ traz um ritmo mais upbeat e é uma exaltação ao otimismo e à esperança. “Magnólia” traz suavidade e reflexão em uma música que remete ao romantismo e letras que parecem falar de um amor profundo e contemplativo.
"Minha Teimosia, Uma Arma Pra Te Conquistar" marca um dos traços da genialidade de Jorge por fazer do violão um som que combina tão bem com o instrumento quanto com a guitarra e fazer a memória se lembrar das versatilidades musicais de Bob Dylan e Eric Clapton com sorriso no rosto. Ela possui um refrão chiclete e uma persistência no amor cheia de enaltação para suas forças e belezas. “Brother”, é mais um exemplo do lado genioso do artista por trazer para o violão um funk estadunidense cheio de groove e é cantada totalmente em inglês.
“Zumbi” tem uma forte homenagem ao líder quilombola Zumbi dos Palmares. Com uma mistura de ritmos africanos e brasileiros, a música é um poderoso hino de resistência e orgulho negro que soa necessária para ouvir sempre, principalmente, no intuito de construir uma sociedade melhor e antirracista. “O Namorado da Viúva" é mais leve e divertida, com um ritmo dançante e letras que contam uma história cômica.
“Hermes Trismegisto e Sua Celeste Tábua de Esmeralda" possui uma das letras mais filosóficas do registro musical, com referências diretas à alquimia e que traz a figura do egípcio Hermes Trismegisto para discutir e apresentar sua filosofia. A música combina uma melodia hipnótica com letras profundas.
O encerramento atmosférico, aplaudível e apoteótico fica com "Cinco Minutos (5 Minutos)" e nele sentimos uma energia elevada e mistura no seu instrumental sons de samba e funk, em uma canção que fala sobre a ansiedade e a espera no amor. E no fim quando a última nota, sentimos recompensados e admirados por um encerramento digno de um disco maravilhoso.
Em termos de impacto cultural e musical, pode-se considerar esse disco como um verdadeiro divisor de águas. Ele não só solidificou a posição de Jorge Ben Jor como um dos músicos mais inovadores do Brasil, mas também influenciou gerações de artistas. Sua abordagem única para temas complexos e sua fusão de gêneros musicais abriram caminho para uma maior experimentação na música brasileira.
"A Tábua de Esmeralda" é uma obra-prima de Jorge Ben Jor que transcende o tempo. Sua mistura inovadora de ritmos, juntamente com letras profundas e uma produção de alta qualidade, não só marcou a música brasileira na década de 70, mas continua a influenciar e inspirar artistas e ouvintes até hoje.
A Tábua de Esmeralda
Jorge Ben Jor
Lançamento: 1974
Gênero: MPB, Samba, Samba-rock, Rock Psicodélico, Pop Psicodélico
Para quem gosta de: MPB, Samba, Samba-rock e Rock
Ouça: Todas, de preferência na ordem do disco.
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