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Foto do escritorEduardo Salvalaio

I Saw The Tv Glow: quando a tv empresta metáforas e mensagens para temas e reflexões da vida real

‘I Saw The Tv Glow’ é um filme que foge muito dos padrões e da habitualidade cinematográfica atual

Crédito: A24


A tv, como objeto de influência e manipulação em nossas vidas, é frequentemente assunto que o Cinema pretende abordar. Em 1983, o cineasta David Cronenberg nos apavorou com o clássico ‘Videodrome – A Síndrome do Vídeo’. Paul Michael Glaser, por sua vez, fez de ‘O Sobrevivente’ (1987) um alerta ao mostrar o poder de controle das pessoas por meio de um programa de TV dentro de um estado totalitário.

 

Com a direção e o roteiro de Jane Schoenbrun, ‘I Saw The Tv Glow’ também perturba o espectador tendo uma série de tv como pano de fundo para traçar um enredo em que várias temáticas entrarão em debate, entre elas: melancolia, busca por uma identidade, ansiedade, envelhecimento, solidão, isolamento, desconexão com o mundo. O filme é da A24 e a produção também contou com Emma Stone (‘Pobres Criaturas’).

 

Para Jane, trabalhar temas tão complexos que precisam ser bem costurados e que chegam por meio da tecnologia ao nosso redor não é tanto problema. Ela já havia feito o interessante 'We're All Going to the World's Fair' (2021) onde uma adolescente solitária, após ficar fascinada por um jogo online de RPG, começa a sentir estranhas mudanças em sua própria vida.

 

Créditos: A24/Everett Collection

Não diferente do que acontece em seu novo filme, acompanhamos o solitário garoto Owen (Ian Foreman/Justice Smith) que, após conhecer Maddy (Brigette Lundy-Paine), passa a assistir a série Pink Opaque. A atração de Owen por Maddy não é algo romântico, mas sim, por se identificar prontamente pela mesma forma de vida que Maddy também leva, ou seja, de isolamento.

 

Pink Opaque é cafona, possui seus vilões bizarros (inclusive um deles é chamado de ‘Senhor Melancolia’), porém consegue ser um elo de ligação entre Owen e Maddy. Em estado catártico e com extrema idolatria pela série, ambos sentem-se confortados e distantes da realidade. Mas, os dois amigos passarão a questionar o mundo ao seu redor e perceber que nem tudo é o que parece ser.

 

Desde o início, a estética do filme reina soberana. E certamente, é um dos atrativos que fazem o espectador seguir adiante, apesar do ritmo lento. Além de Pink Opaque apresentar semelhanças com séries que fizeram parte da vida de muitos espectadores como Buffy, A Caça-Vampiros, os ambientes convencem pelos visuais psicotrópicos, neblinas, luzes de neon e toda uma nostalgia 90’s, inclusive destacando as fitas VHS gravadas que, felizmente, permitiam assistir aquele programa perdido.

 


Aqui também temos uma época em que muitos não ficavam importunados em esperar o seriado preferido na tv. Sentados em suas poltronas e hipnotizados pelo brilho do aparelho, o prazer de muitos jovens era saciado a cada programa concluído. O equivalente ao que acontece atualmente com os smartphones, sobretudo entre os mais jovens.

 

Também não espere encontrar um Terror explícito. Essa não é a intenção. Apesar de que algumas cenas, mesmo que não explorem sangue ou gore, acabam nos sufocando pelas mensagens e metáforas que transmitem. Mesmo que ainda acrescente pitadas de Sci-Fi e de Drama, é melhor não encaixar o filme dentro de um gênero específico. Prefira assisti-lo sem pensar em rótulos e classificações para compreender, em parte, o que realmente a diretora pretende revelar.

 

A trilha sonora bem variada e com muito peso se encaixa perfeitamente em certas ocasiões, inclusive na cena onde a vocalista de uma banda tocando no palco de uma boate grita raivosamente o refrão da música (que combina bastante com um momento em que Owen sente-se confuso e desesperado após conversar com Maddy). 


Créditos: A24/Everett Collection

Dando destaque a cantoras, a música rola a todo vapor na produção com artistas como Caroline Polachek (‘Starburned And Unkissed’), Florist (‘Riding Around The Dark’) e Sloopy Jane com a participação de Phoebe Bridgers, uma das integrantes do Boygenius (‘Claw Machine’).

 

Misturando David Lynch, Psicologia, Sociologia, metalinguagem e temas como repressão, exclusão, limites, regras e padrões impostos pela sociedade, ‘I Saw The Tv Glow’ é um filme que foge muito dos padrões e da habitualidade cinematográfica atual. Como muitos preferem dizer, é um 'mindfuck' moderno e muito dele precisa ser decifrado.

Também não podemos julgar o filme somente como uma alegoria trans (como alguns internautas fizeram), bom lembrar que ele pode se encaixar para muitos cinéfilos de uma forma geral, independentemente da identidade de gênero de cada um.

 

Para quem decide ir até o final, fácil se identificar com Owen e Maddy em muitas situações. Mas a narrativa é complexa, aberta a múltiplos entendimentos, interpretações e percepções. Certamente exigirá outra sessão ou mesmo um prolífico debate com amigos cinéfilos que também tenham visto todo o filme.  

 

 I Saw The Tv Glow



Ano: 2024

Gênero: Terror, Thriller

Direção: Jane Schoenbrun

Roteiro: Jane Schoenbrun

Elenco: Justice Smith, Brigette Lundy-Paine

País: Estados Unidos

Duração: 100 min


 

NOTA DO CRÍTICO : 7,0

 

Trailer:



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