26 de out. de 20223 min de leitura

'Halloween Ends' empolga, porém, perde o ensejo de se tornar um grande thriller psicológico

O confronto final entre Michael e Laurie, apenas um deles sobreviverá no final

David Gordon Green, por alguns breves e nostálgicos momentos consegue engatilhar folego, suspense e mistério no thriller tido como a saga final do serial Killer Michael Mayers, da famosa e celebrada franquia ‘Halloween’ (com ressalvas). ‘Halloween Ends’ transita por um caminho repleto de referências ao gênero e a obra de John Carpenter. Este último take de Michael (James Jude) e Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), se alimenta de um contexto autoral, independente e distinto do que se viu em ‘Halloween Kills’ de 2021.

A história parece ganhar vida própria, e adição de um novo personagem, Corey (Rohan Campbell), injeta um novo frescor, mas que não se sustenta pelas falhas e brechas do roteiro mal resolvido. Ends tinha tudo para ser um tremendo Thriller psicológico, totalmente contextualizado com o mundo real, onde a própria sociedade cria e constrói seus próprios monstros ao destilar fúria e ódio capazes de transformar vítimas em vilões. Com isso, a figura de Michael Mayers, passa a ser uma sombra do mal enraizado nas pessoas. Uma tremenda pena o filme não conseguir se sustentar nesta metodologia, sofrendo com velhas nuances e mesmices do gênero.

Após 45 anos, uma das franquias de terror mais aclamadas entrega a Laurie Strode a oportunidade de enfrentar pela última vez Michael Mayers, em um confronto final nas telas, diferente de qualquer outro já visto, apenas um deles irá sobreviver. Vende a sinopse do filme. Não dá para negar que o confronto entre os dois garante um bom divertimento e empolga por um tempo com cenas de ação que vão agradar os fãs da saga. Cabe aqui, frisar também, um ponto positivo de Green, ao caracterizar na tela as franquezas de ambos personagens, eles já não possuem a energia estimulante do primoroso e cultuado ‘Halloween: A Noite do Terror’ de 1978, mas alguns flashbacks resgatam nostalgicamente a essência do início de uma longa e rentável franquia neste outubro de Halloween.

Corey, talvez seja a grande sacada e surpresa do filme como a reinvenção do mal um bom exemplo de como um tratamento hostilizado e agressivo por parte de uma sociedade sob um determinado indivíduo, pode ajudar a nutrir e a crescer um novo mal. Um elemento mal aproveitado pelo roteiro que poderia dar outro desfecho para Ends.

Jamie Lee Curtis como sempre está muito bem em seu papel de heroína e sobrevivente, ela consegue marcar sua presença pontualmente e acender a chama de uma velha e desgastada franquia que já deu tudo de si. Green até tenta injetar algo novo e diferente, inspirado em sua paixão pelas obras dos anos 80, ele até aposta no peso do drama entre Laurie e sua neta Allyson (Andi Matichak), mas em certos momentos o filme soa confuso e cheio de buracos na trama, talvez Halloween Ends teria engatado melhor como uma primeira entrada para uma nova trilogia.

Contudo, o que Ends consegue entregar é um conjunto de ideias iniciadas nos dois filmes anteriores de David Gordon, Halloween de 2018 e Kills de 2021. O clima de terror carece de bons sustos e suspense, as mortes acontecem previsivelmente, sem um devido impacto. Faltou o elemento surpresa para temperar o longa e apresentar algo realmente inovador. Isso talvez seja pedir muito de uma saga que já viu inúmeras sequências; resta saber se realmente Halloween vai acabar? A saga de Laurie e Michael finalmente chegou ao fim?

Isso já é uma outra história. Por enquanto, Halloween termina de forma cortada por uma série de oportunidades perdidas, o que vai parecer frustrante para muitos fãs da franquia slasher, por mais que contenha certas emoções e nostalgia, você pode chegar ao final e ficar desapontado com o desfecho alcançado aqui.