Glauber Rocha não filmava para entreter, filmava para transformar

Glauber Rocha foi um furacão no cinema brasileiro. Um cineasta que traduziu a fome, a revolta e a poesia de um país dilacerado entre o sonho e a miséria. Ele não fazia apenas filmes, fazia gritos em forma de imagem. Aqui estão cinco obras essenciais desse mestre, cada uma um soco no estômago e uma explosão de cinema.
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)

O marco definitivo do Cinema Novo. Glauber mistura épico e sertão, messianismo e revolução, criando uma alegoria feroz do Brasil profundo. Manuel e Rosa fogem pelo sertão, entre fanáticos religiosos e cangaceiros, enquanto a trilha de Sérgio Ricardo e as imagens febris de Waldemar Lima transformam a tela num delírio.
É o cinema brasileiro em estado bruto, rugindo contra a opressão.
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Terra em Transe (1967)

Se Deus e o Diabo falava do Brasil mítico, Terra em Transe grita sobre o Brasil político. Glauber destrói qualquer ilusão de salvação política, mostrando um país entre a poesia e a violência, entre a utopia e a traição. É um turbilhão de palavras e imagens, um cinema que não pede licença, que atropela e hipnotiza.
Paulo Martins, poeta e jornalista, é a consciência dilacerada de um país que se afoga no próprio caos.
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O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969)

Glauber leva o cangaço ao lirismo extremo. Se Deus e o Diabo era o grito, O Dragão é o canto. Antônio das Mortes, antes matador de cangaceiros, se torna um justiceiro relutante, enfrentando coronéis e misticismos em um duelo de cores e símbolos. É um western barroco, tropicalista, onde o sangue se mistura à poesia.
Ganhou o prêmio de direção em Cannes e consolidou Glauber como um gênio do cinema mundial.
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Cabeças Cortadas (1970)

Aqui, Glauber mergulha no exílio e no delírio. Rodado na Espanha franquista, é um pesadelo político sobre um ditador isolado, perdido em suas próprias paranoias e fantasmas. O cinema de Glauber já não é só denúncia, é alucinação. Cada quadro é uma pintura surrealista, cada palavra um golpe de desespero.
O Brasil já não cabe mais nos seus filmes, mas sua fúria continua intacta.
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A Idade da Terra (1980)

O testamento de Glauber Rocha. Um filme que não se encaixa em nenhuma narrativa convencional, um cinema que explode todas as regras. São múltiplos Cristos, múltiplos Brasis, múltiplos delírios. Glauber já está além do próprio cinema, criando um filme-pesadelo, um poema visual de um Brasil esfacelado, um manifesto final antes de sua morte precoce. É uma obra incompreendida, mas essencial.
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Glauber Rocha não filmava para entreter, filmava para transformar. Seu cinema é fogo e pólvora, um Brasil em chamas. Quem encara sua obra nunca sai ileso.
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