29 de jul.3 min de leitura

Fortuna Perigosa coloca uma rica família diante de si própria e de um perigoso confinamento

Lembre-se, o terror nem sempre envolve monstros; a natureza humana, motivada por dinheiro e poder, também revela suas garras

Confinar pessoas num espaço onde sobreviver torna-se prioridade é um dos grandes apelos do gênero terror. Vimos isso em muitas produções, sejam elas antigas como ‘Cubo’ (1997) ou mesmo modernas e exibindo o universo dos vampiros, a exemplo de ‘Abigail’ (2024).

Claro que os personagens que recebem esse cruel confinamento geralmente são assolados por algo desconhecido e mortal. De qualquer forma, além de enfrentarem esse desafio maléfico, costumam também se odiar e passam a conviver com outro perigo: a própria busca por sobrevivência que torna real o pior que algumas pessoas carregam dentro de si.

Praticamente é o que acontece na trama de ‘Fortuna Perigosa’ ('The Inheritance', 2024). O filme tem na direção o argentino Alejandro Brugués. A dupla Chris LaMont e Joe Russo que já haviam trabalhado em algumas ocasiões com o diretor, a exemplo do filme 'Cine Pesadelo' (2028), ficaram a cargo do roteiro.

O bilionário Charles Abernathy (Bob Gunton) completa 75 anos e resolve convidar os filhos para sua imponente mansão vitoriana. Entretanto, não será para uma festa privada. Charles na verdade diz para eles, sem explicar muito, que vai morrer naquela noite pois está sendo perseguido. A missão dos filhos é manter o pai vivo durante a noite. Caso não consigam, nenhum deles receberá a devida herança.

Todos são trancados na residência. Hannah (Briana Middleton), a nora de Charles, relutantemente resolve ficar ao lado de seu esposo Drew (Austin Stowell). Sem saber com o que estão lidando, o primeiro problema vai ser que os integrantes precisarão ficar unidos, lidar com sua diferenças aceitando a personalidade de cada um caso queiram ficar com a herança. Os 6 confinados não terão alívio nessa jornada.

Alejandro sabe trabalhar bem com o interior da mansão. Corredores extensos que escondem algum vulto distante, sombras surgindo nas paredes, longas escadas escuras, cômodos desertos que escondem antiguidades bizarras e estranhas, quadros que parecem ter vida, barulhos repentinos. Ainda temos a clássica cena clichê do mergulho noturno na piscina quando o momento era menos impróprio para isso.

Infelizmente, não se pode dizer o mesmo sobre os personagens. O próprio espectador já desconfia de quem sobreviverá e quais serão aqueles que mostrarão sua vilania durante a missão. Mesmo assim, alguns personagens acabam soando mais engraçados do que assustadores, sobretudo quando encaram a iminência da morte.

Até mesmo Bob Gunton que fez tão bem o temido diretor da prisão de ‘Um Sonho de Liberdade’ (1994), aqui tem um papel apagado e aquém do que pode fazer. Não faltam os velhos estereótipos, bastante conhecidos neste tipo de filme: a influencer que se preocupa mais com os likes de seus seguidores, o egoísta, o bajulador, o destemido, etc...

Seguindo até os minutos finais sem expor por completo o mal que persegue a família, chega o momento onde as reais intenções do filme são reveladas ao espectador. Sabemos que é nessa hora que o elemento surpresa capaz de chocar chega, apesar de muitas vezes não ser da forma como alguns desejavam.

Lembre-se, terror nem sempre foi feito de criaturas mortais, aberrações e monstros, mas também da natureza humana que muitas vezes mostra suas garras maldosas, sobretudo quando dinheiro e poder estão em jogo. Caso da família Abernathy diante de suas fraquezas e defeitos. E eles terão uma longa e perigosa noite pela frente.