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Felix Dee transforma o trauma coletivo da pandemia em um EP conceitual, melancólico e visceral

Uma personagem chamada “ELA” e a cicatriz que todos carregamos

Felix Dee
Imagem: Reprodução

Entre o silêncio forçado de uma cidade vazia e os ruídos internos de uma humanidade à deriva, nasceu ELA, o novo EP do compositor e multi-instrumentista Felix Dee — um trabalho que não só capta a alma ferida de um tempo, mas a embala com arranjos que cortam, acariciam e lembram: ainda estamos aqui.



Baseado em São Paulo, Felix é um artista que se move pelas margens — e por escolha. Sua sonoridade é construída sobre camadas do pós-punk introspectivo, dream pop etéreo e a energia crua do rock alternativo dos anos 1990, mas o que o destaca é sua abordagem DIY e uma entrega criativa que recusa atalhos. Em ELA, isso transborda.


O EP, gravado no estúdio Casa do Fundo, em Curitiba, é mais do que um conjunto de canções. É uma narrativa emocional, construída como quem escreve um diário íntimo ou assina a última página de um livro que custou anos para ser fechado. Ao longo de sete faixas, Felix encena uma espécie de travessia afetiva: o medo, o isolamento, o luto, a saudade — e, por fim, a possibilidade de cura.



A personagem central, que dá nome ao projeto, é metáfora e espelho. “ELA” é o que perdemos, o que não dissemos, o que aprendemos a enterrar em silêncio. Mas também é a força que reaprende a caminhar. Felix explica: “Ouvir o projeto do começo ao fim é como abrir um livro emocionante ou assistir a um filme, onde cada detalhe foi pensado para guiar o ouvinte por uma jornada.” E o mais impressionante é como essa jornada soa tão pessoal e, ao mesmo tempo, universal.


Com produção assinada por Marcos Dank em quatro faixas e por Felix nas instrumentais, o EP tem uma coesão sonora rara na cena independente. Guitarras densas, batidas pulsantes e vocais soterrados por reverb criam a sensação de estar dentro de um quarto escuro, ouvindo o mundo de longe. Mas o som não distancia — ele aproxima, fere e abraça.



Na ficha técnica, o talento se distribui com precisão: Yan Lemos (baixo), Ander Lima (guitarra), Yuri Vasselai (bateria) e Vinícius Galant (piano elétrico, mellotron, backing vocal) formam o tecido que sustenta a visão de Felix, sem nunca tirar o EP do território do íntimo.


ELA é, em última instância, um ritual. Um adeus. Um reencontro. Um trabalho que respeita a dor, mas não se prende a ela. E, nesse gesto de transformar o colapso em arte, Felix Dee entrega uma das obras mais relevantes e emocionantes da nova música brasileira. Sem pressa. Sem concessões. Só verdade.


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