"Não sei. Temos tudo de que precisamos para ser felizes, mas não somos felizes. Alguma coisa está faltando. Olhei em volta. A única coisa que tive certeza que havia desaparecido eram os livros que queimei durante dez ou doze anos. Por isso, achei que os livros poderiam ajudar." (Trecho do livro)
O que você faria se a arte fosse controlada? O que você faria se seus pensamentos fossem controlados? O que você faria se os livros fossem proibidos e queimados? Esses questionamentos são obtidos através do ótimo e reflexivo livro de distopia e ficção científica "Fahrenheit 451" que deixa qualquer leitor impactado com sua história.
Lançado em 1953 pelo escritor estadunidense Ray Bradbury (1920- 2012) nos apresenta um governo totalitário num futuro incerto, mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura a ponto de se perceber qualquer ato literário, o livro é queimado por bombeiros a mando desse regime. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instalados em suas casas ou em praças ao ar livre. A leitura de livros deixou de ser o meio de entretenimento e conhecimento. Nessa sociedade conhecemos Guy Montag um bombeiro que vive uma vida comum, queima livros sem questionar até conhecer Clarisse uma garota de imaginação fértil e repleta de histórias. Quando sua esposa entra em colapso mental e Clarisse desaparece, a vida de Guy Montag nunca mais se torna a mesma.
Fahrenheit 451 descreve muito bem o cenário apocalíptico/ terror de qualquer apaixonado por literatura, além de expor os perigos de um regime autoritário e fascista. Suas linhas soberbas e desconcertantes continuam tão atuais e necessárias para abrir os olhos em relação ao perigo que chegou a nossa porta.
O nome do livro se chama "Fahrenheit 451" porque ele representa a temperatura da queima do papel que é equivalente a 233 graus Celsius. Através disso, ele nos faz relembrar de casos famosos de queimas de livros que aconteceram de maneira autoritária e triste no mundo como: as destruições de livros feitas pela dinastia Qin na China entre 213 e 206 a. C., a destruição da biblioteca de Alexandria que ficava no Egito em 48 a. C., a queimada de livros provocadas por Adolph Hitler em praça pública na Alemanha em 1933, o incêndio de livros provocados por Augusto Pinochet no Chile em 1973 e a queima de livros promovidas no Brasil no governo de Getúlio Vargas durante o período do Estado Novo em praça pública. Todos eles tinham um interesse incomum implantar o regime autoritário e de censura, proibindo o acesso à informação e cultura. Algo que contextualiza com nosso cenário atual movido por fake news, misoginia, preconceitos e racismo diante de uma total desgoverno.
Cena do filme "Fahrenheit 451" de 1966 dirigido pelo cineasta francês François Truffaut.
Ray Bradbury com sua escrita perspicaz apresenta esse livro como forma de criticar o totalitarismo, e mostrar a importância do pensamento livre, exaltar a essência da arte, promover a importância dos livros na vida das pessoas e analisar de forma futurista os efeitos de comunicação em massa através dos televisores para mostrar que eles se não usados de forma consciente podem ser usados com meio de alienação diante da falta de pensamento e embasamento crítico. Através dessa manipulação, os bombeiros são usados na narrativa para queimar qualquer manifestação diferente que não está nos televisores. Portanto, os livros para o governo autoritário da história são considerados uma ameaça, pois com eles há a possibilidade de cada vez mais pessoas se abrirem para novos saberes e para ideias democráticas o que poderia ser determinante para o fim de qualquer domínio tirânico e ditatorial.
"Fahrenheit 451" é um livro que tem um afeto especial na minha estante, um livro indispensável para amantes de literatura, não apenas por sua história muito boa, sua narrativa persistente marcada por personagens caricatos, mas é também, um manifesto, um grito de resistência que exalta a importância do pensamento livre, da leitura , da arte e da reflexão da vida como um todo.
Ficha técnica:
Nome: Fahrenheit 451
Nacionalidade: Estados Unidos
Autor: Ray Bradbury.
Gêneros Literários: Distopia, Romance, Ficção científica, Ficção distópica, Ficção Política
Ano de lançamento: 1953
Nota: 10
Descrição do autor:
Ray Bradbury (22 de agosto de 1920 - 6 de junho de 2012) foi um escritor norte-americano, dedicado à fantasia e à ficção científica. Sua obra mais famosa é Fahrenheit 451 (1953), considerada uma grande influência no gênero da distopia.
Sobre Alexandre Tiago
"Um rapaz latino-americano que é um sonhador, que ama futebol, apaixonado pela arte, formado em Direito, é um defensor da democracia e coleciona desde CDs e livros, até as memórias que a vida oferece."
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