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Especial Dia Internacional da Mulher: Conheça bandas com energia feminina e que reinventam o Rock

Separei algumas bandas talvez desconhecidas para alguns, mas que mostram que o Rock se reinventa e resiste, assim como as mulheres

Mommy Long Legs
Mommy Long Legs: Melissa Kagerer (à esquerda), Cory Budden, Lilly Morlock e Leah Miller.Imagem: The Seattle Times/ Divulgação


Hoje é dia internacional da mulher. Pois bem. Dia de muitas homenagens, “parabéns” e para algumas, até de receber mimos.


Para outras, como é o meu caso, é dia de recordar e compartilhar.


Me recordo de uma discussão que tive há alguns anos com uma pessoa que expressava pensamentos misóginos e no calor da discussão, ela me atirou na cara que eu gostava de um estilo musical extremamente machista: O Rock.


Na época fiquei sem resposta para a afirmação e acho que não tenho resposta até hoje. Lembrar disso me incomoda, pois se isso é verdade, eu contribuo com algo que é inadmissível, mas sou incapaz de desprezar músicas e bandas que mudaram minha vida há 29 anos, quando sintonizei pela primeira vez a 89 FM de São Paulo, a Rádio Rock.


O tempo passou e embora exista muita atrocidade do patriarcado correndo solta, não temos no mundo apenas pessoas que diminuem as outras. Há homens muito bons, extremamente inteligentes e sensíveis. E um deles, há pouco tempo, me ensinou algo que tem guiado minhas mais recentes escolhas. Na verdade, não me lembro da frase exata que ele usou, mas me lembro dele dizer a palavra “repertório”.



O homem em questão queria que uma sala de aula com “xóvens” universitários e despretensiosos criassem gosto por saber sobre as coisas: sobre arte, cultura e comunicação, para que assim fôssemos profissionais melhores em nossas áreas de atuação.


Na tentativa de unir essas duas pontas desconexas em minha mente, eu, como uma das colaboradoras deste site, me sinto na obrigação de resolver esses enigmas dentro de mim e entregar algo de volta pra você: Compartilhar o pouco repertório que tenho adquirido, sobre o Rock. E se existe muito rockeiro "machão", eles que criem seus repertórios, começando por saber que esse estilo musical teve seu pontapé inicial através da guitarra distorcida de uma mulher.


Aliás, não só lá fora, como aqui no Brasil. Pois o primeiro Rock gravado por aqui foi uma versão que Nora Ney fez para "Rock Around the Clock", de Bill Haley & His Comets, intitulada "Ronda das Horas".


Por isso separei algumas bandas talvez desconhecidas para alguns, mas que mostram que o Rock se reinventa e resiste, assim como as mulheres. E que essas meninas afirmam-se na composição, vocais, baixo, guitarra, bateria e em qualquer lugar que elas queiram fazer e acontecer, em várias vertentes e lugares no mundo. Espero que curtam!



Mommy Long Legs


Conheci como se conhece as coisas hoje em dia: fuçando no Spotify. Procurava algo que tivesse ligação com outra banda a qual havia acabado de conhecer, a Be Your Own Pet.


Mommy Long Legs é uma banda punk feminina formada em Seattle, daquelas que dão nome pra um bando de subgêneros estranhos. Mas basicamente se trata de um som sujo, rasgado, o que não significa que elas não saibam o que estão fazendo. Em algumas vezes, até me parece uma versão mais pentelha do Hole.


Aliás, “estranho” é um bom termo que define a banda: quatro jovens muito estilosas e mal-encaradas, que tiram um sarro de quase tudo: do homem pequeno burguês (“Assholes”), das garotas que curtem horóscopo (Horrorscope”) e até das noivas (“Bridezilla”), música que tem a marcha nupcial na introdução e que, se eu casar um dia, entro com ela na igreja.


 Desculpe, pai.





The Kills


Este duo é um pouco mais conhecido.


Ouvi pela primeira vez ao vivo. 2017, show do Bon Jovi e essa era a banda de abertura. Me chamou a atenção pois o som era bastante diferente do Bon Jovi, mais moderno nada e nada a ver com o hard rock.


 A vocalista e guitarrista Alison Mosshart, além da voz e da presença de palco, tinha um visual lindo, que eu tentei imitar. E falhei absurdamente.


O duo foi formado em meados dos anos 2000, quando Alison conheceu Jamie Hince, enquanto ela estava em uma turnê com sua antiga banda em Londres, cidade onde vivia Hince. Desde então, já são 7 álbuns lançados e várias parcerias de Alison com bandas como Placebo, Primal Scream, Racounters, etc. Desta última, surgiu o projeto The Dead Weather, com Jack White e Jack Lawrence.


Antigamente eles tinham um som mais alternativo, garage rock. Mas conforme a maturidade, eles experimentaram outros sons. No último álbum lançado em 2023, o Good Games, há nuances eletrônicas interessantes.




The Warning


Quem me apresentou The Warning foi Kiko Bernadone, apresentador do Bons Tempos, programa de sucessos musicais que vai ao ar todos os sábados, às 16:00, na Rádio Atlântica FM. Kiko foi meu professor de locução comercial e hoje é um amigo e mentor, pra quem volta e meia eu peço “socorro” sobre o mercado do audiovisual.


Certa vez ele me indicou a banda e por curiosidade, comecei a ouvir e adorei. Estou devendo um texto só sobre elas aqui no site.


Banda formada em Monterrey, no México, por três irmãs: Daniela (vocal/guitarra), Paulina (bateria/vocal) e Alejandra Villarreal (baixo). Elas ganharam inspiração para tocar a partir de uma paixão mais comum no universo masculino: o videogame, através do jogo Rock Band.


Ganharam notoriedade após publicar um cover de “Enter Sandman”, do Metallica. Já se apresentaram no Tedx em Nevada, e já abriram pro Def Leppard. Seu estilo musical oscila entre o hard rock e o metal, repletos de atitude. As meninas do Warning já têm 3 álbuns lançados. Em fevereiro lançaram dois novos singles, “S!CK” e “More”.




Be Your Own Pet

Conheci através do programa que o Iggy Pop apresenta semanalmente na BBC Radio 6, o Iggy Confidential.


A banda é formada por Jemina Pearl, Nathan Vasquez Jonas Stein e John Eatherl e tem um som sujo, cru, alternativo. Suas letras também zombam de tudo de ruim que uma sociedade capitalista e patriarcal “oferece”. Algumas músicas são uma gritaria misturada com barulheira, enquanto a vocalista tem uma voz tão aguda que eu penso que se a Xuxa tivesse uma banda punk, seria assim. E é maravilhosa!


Você precisa ouvir a homenagem feita à "Stairway To Heaven" no primeiro disco. Recomendo apenas se preparar antes.


A banda entrou em um hiato de 15 anos, até lançar no ano passado um novo trabalho, que de acordo com a crítica é mais furioso que os álbum anteriores, chamado “Mommy”.




 

The Accolade

 

Durante a Copa do Mundo de 2022, período no qual eu não tinha muito o que fazer, quis dar continuidade à minha carreira de jornalista esportiva (só que não) e decidi postar nos meus stories de Instagram os resultados dos jogos, sempre com uma música vinda do país da seleção vencedora.

 

E é aí que eu agradeço à zebra histórica da Arábia Saudita vencendo a Argentina na primeira fase, por 2X1 e ainda de virada.

 

Além de eu ter dado boas risadas com o desempenho dos nossos hermanos que deixou muita gente furiosa, pensei que minha playlist iria pro espaço, junto com todas as bancas de apostas esportivas. Até que encontrei a mina de ouro. Ou melhor, as minas.

 

The Accolade é uma banda que merece ser conhecida. É a primeira banda de Rock da Arábia Saudita, formada por meninas e que ainda por cima faz um som alternativo.


Formada em Jeddah, os nomes de suas integrantes merecem e precisam ser divulgados: Dina (guitarra), Dareen (baixo), Lamia (vocal) e Amjad (teclado). Infelizmente não encontrei informações sobre a baterista, que ainda não havia sido escolhida nos primórdios da banda.



Elas chamaram atenção do jornais como o inglês Daily Telegraph e até do New York Times por volta de 2008, quando o seu single de estreia chamado "Pinocchio" bombou de downloads no MySpace.

 

As meninas enfrentaram um regime que proíbe as mulheres de se apresentar em público, viajar sozinhas, aparecer em fotos e de ter sua liberdade garantida. Em uma entrevista, Limia disse que “elas talvez fossem loucas, mas queriam fazer algo diferente.”

 

O curioso (e preocupante) é que não há mais nada da banda por aí, apenas uma ou outra matéria bem rasa falando sobre elas. No Spotify, restam apenas 3 músicas e eu posso jurar que elas tinham mais repertório disponível. Até no Wikipedia parece que informações sobre elas sumiram. Pode ser apenas confusão feita pela minha memória, vai saber.


Paranoia minha ou não, vale a pena correr atrás do que ficou enquanto é tempo. Para que a energia que nos rege, de alguma forma mostre a essas mulheres maravilhosas e loucas, que nada do que elas enfrentaram foi em vão.






Okinawa Electric Girl SAYA


Certa vez o jornalista Álvaro Pereira Jr. viaja para Tóquio e sem planejar nada, vai parar em um show num apartamento minúsculo, com uma barulheira enorme de sintetizadores analógicos que o deixaram surdo durante meses.


A responsável pelo dano foi uma garota na faixa dos 19 anos que lidera uma banda chamada Okinawa Electric Girl SAYA.


Não é exatamente uma banda de Rock, o nome dela já diz tudo: Electric. E ouvindo pelos streamings a gente não fica surdo. Certamente com o tempo o som amadureceu, a produção ajudou e ela hoje faz músicas mais melodiosas, por assim dizer. São bem bacanas e diferentes pra conhecer, já que não é sempre que a gente viaja pra tão distante, mesmo que para isso a gente nem precise mais sair do lugar hoje em dia.


A Okinawa provavelmente vai ser uma das coisas mais alternativas, lado Z que você vai conhecer. A banda tem apenas 126 ouvintes mensais no Spotify e eu jamais teria conhecido se não acompanhasse o podcast em que o Álvaro participava, o ABFP . Mas é o som ideal pra quem gosta de caçar raridades por aí.




Por hoje fico por aqui. Deixo a minha homenagem e o meu agradecimento à todas as meninas e mulheres que nunca deram bola pra quem dissesse que música não é o nosso lugar.


Seja em cima do palco, na plateia, no backstage, nos editores de texto ou mesas de bar, falando sobre música com os amigos, lembrem-se: Tem um mundão ainda a ser explorado e conquistado, com muitas mulheres nascendo nele, e que não precisam viver o que nós vivemos em tempos de escassas oportunidades. E eu conto com a ajuda de vocês.

 

 

 

 

           

 

 

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