Outra estratégia do filme é criar uma trama que se sustente num espaço confinado.
O extremo frio é um elemento muito importante para a construção de algumas narrativas de suspense e terror. Ele contribui para aumentar a tensão que costuma rondar os personagens. A sensação de fraqueza perante a natureza, o risco de hipotermia, a necessidade de um abrigo ou fonte de calor para nos aquecer, a fome que aumenta.
Com o que foi citado anteriormente, fácil lembrar-se de algumas produções clássicas. Em O Enigma de Outro Mundo (1982), cientistas enfrentam o frio da Antártida e devem lidar com uma criatura desconhecida que assume a forma de suas vítimas. Em O Iluminado (1980), Jack Torrance (Jack Nicholson) precisa ficar com sua família num hotel cheio de segredos durante um inverno rigoroso.
Sangue Frio (Cold Meat, 2024) do diretor francês Sébastien Drouin foi produzido pensando nessa ambientação. Criar uma atmosfera sombria e sufocante conforme uma rigorosa nevasca vai aumentando. Filmado em apenas 13 dias, foi o próprio diretor que também cuidou dos efeitos visuais e da edição do filme.
Apesar dos avisos no rádio que uma forte nevasca está se aproximando, David (Allen Leech) mesmo assim resolve sair com seu carro à noite. Ao parar numa lanchonete, ele se depara com a garçonete Ana (Nina Bergman) sendo assediada por seu ex-marido. Após um desentendimento no recinto, David volta a estrada sem saber que está sendo seguido.
A meia hora inicial do filme prende a atenção do espectador. Mesmo sem ação exagerada, sustos e sangues, existe uma constante tensão no ar e ficamos aflitos para entender o que se passa na cabeça de cada personagem. Ainda não compreendemos toda a psicologia e a intenção deles.
David acaba batendo o carro numa ravina e, cercado pela neve, não consegue sair dali. Com a nevasca aumentando, a situação piora e o homem se vê obrigado a esperar o tempo melhorar. Entretanto, ele não está sozinho. Terá que enfrentar essa situação junto com outra pessoa. Nesse instante, vamos conhecendo melhor a personalidade e as características dos personagens.
Outra estratégia do filme é criar uma trama que se sustente num espaço confinado. O interior do veículo será o palco de duas pessoas num gradativo estado de medo, aflição e busca pela sobrevivência. Seja por meio de diálogos travando uma guerra psicológica, seja por meio de medidas desesperadas para encontrar uma saída, o tempo corre e as soluções são difíceis de aparecer.
E neste ambiente, tudo se encaixa como um recurso para sobreviver. Faca, aquecedor do carro mesmo com a bateria fraca, líquido entorpecente, fita adesiva.
Conforme o tempo avança e as chances de sobrevivência diminuem, os personagens travam uma batalha que vai entregando mais detalhes da personalidade de cada um. Cenas alternando entre a realidade ou mesmo representando um momento ilusório/onírico nos colocam mais a par dos verdadeiros motivos e índole dos personagens.
Não bastassem todos os perigos do extremo frio e da luta de ambos os personagens, uma estranha criatura passa a rondar o automóvel. Se o espectador prestou atenção na narração do início do filme, entenderá melhor o sentido de tal criatura.
Claro que certos momentos do filme recebem um sentido metaforizado, mas cabe ao espectador compreender melhor onde as metáforas se encaixam. Como disse um dos próprios personagens do filme: ‘a nevasca ainda é uma das coisas com que você menos deve se preocupar se conseguir sair daqui’.
Embora possua uma primeira metade melhor que a segunda, Sangue Frio é um filme alternativo de baixo orçamento, alternando entre momentos lentos e outros mais chocantes, que consegue nos manter até o final, embora o desfecho pudesse ser mais lapidado e não tão rápido. Assista num dia bem frio, de preferência.
Sangue Frio
Cold Meat
Ano: 2023
Gênero: Thriller
País: Canadá
Direção: Sébastien Drouin
Elenco: Nina Bergman, Allen Leech, Yan Tual, Riley Banzer
Duração: 90 min
Classificação: 12 anos
NOTA DO CRÍTICO: 6,5
Trailer:
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