Entre o delírio e o beat: o novo som de Renzo & o RP Project

O delírio imigrante em forma de groove

Renzo Perales & o RP Project mergulham na densidade do “Sonho Ruim” — novo single mistura jazz, pagodão baiano e R&B para traduzir a busca por pertencimento em meio ao caos da metrópole

No coração pulsante de São Paulo, onde a cidade nunca silencia e os sonhos se debatem entre a urgência e a utopia, nasce “Sonho Ruim”, novo single do músico peruano Renzo Perales ao lado do RP Project. A faixa, que chega nesta sexta-feira, 11 de abril, é mais que uma canção inédita: é um manifesto sensorial sobre a experiência imigrante, entre promessas de abundância e a dureza das imposições invisíveis - escolha onde escutar.

Radicado há anos no Brasil, Perales transforma o drama cotidiano de quem atravessa fronteiras — físicas, sociais e artísticas — em uma obra musical de muitas camadas.

“O caminho da música não é fácil pra ninguém. Como imigrante numa das maiores metrópoles do mundo, parece que você está no lugar certo para desenvolver as próprias habilidades, só que você não pode fugir dos estereótipos, inclusive artisticamente falando. Porém, você vive um sonho de oportunidades e abundância que em determinado momento joga contra, parecendo inalcançável”, diz ele, com a lucidez de quem aprendeu a dançar com o peso do mundo nos ombros.

“Sonho Ruim” traz uma mistura ousada e eletrizante: o jazz moderno se funde com a cadência quente do pagodão baiano, os sopros conversam com o miami bass, o groove se apoia nos improvisos e nas batidas densas de Toperasound e Bicho Solto (Afrocidade), costurando tradição e invenção com a fluidez de um sonho febril.

O RP Project, ativo desde 2014, é um verdadeiro mosaico sonoro que pulsa ao ritmo de São Paulo. Com músicos vindos de diferentes partes do Brasil, o grupo é liderado por Renzo Perales (guitarra), ao lado de Bruno Silva (bateria), Alexandre Vianna (piano), Thomaz Souza (sax) e Felipe Pizzu (baixo). Suas composições transitam pela jazz-funk carregadas de melodias escuras, nostálgicas e urbanas — um som que traduz as tensões e contradições de uma das maiores cidades do mundo.

*Capa por Renzo Perales. Foto por Maíra Boda.*

Com um histórico sólido, que inclui o disco Baptismo (2018), o EP Milo (2020) — com participações de Walmir Gil e Vinicius Chagas —, além do show de releituras “Do Azymuth ao Donato” em 2024, o grupo constrói uma trajetória que respeita suas referências, mas olha para frente, sem medo da experimentação.

Gravada nos estúdios Devaneio, Aga e Estúdio Central, sob os comandos de nomes como Arthur Kunz, Alexandre Vianna, Rico Manzano e Pedro Quiriku, e finalizada pelas mãos de Zé Victor Torelli, “Sonho Ruim” apresenta uma nova fase do RP Project: livre, inventiva, sem amarras de gênero ou de território.

Porque sonhar, afinal, é isso — uma travessia intensa entre o que nos falta e o que ainda podemos inventar.