A vingança pode ser um sentimento corrosivo e destrutivo à medida que isso passa a crescer e a dominar as ações de uma pessoa. A violência generalizada, gratuita e a banalidade de um mundo que explora o caos, a guerra e sucumbe em suas próprias mazelas, é algo tão presente em nossa realidade mórbida, sombria e melancólica. E de tempos em tempos uma obra cinematográfica retrata isso com tamanha sagacidade nua e crua
A vingança é o sentimento que move as ações e consequências no novo The Batman, filme do diretor Matt Reeves (Planeta dos Macacos), com Robert Pattinson na pele do sombrio e gótico Bruce Wayne (de longe pode ser o melhor Batman dos últimos tempos), o novo cavaleiro das trevas, não fica devendo nada para versão de Christian Bale, nos filmes do diretor Christopher Nolan, pelo contrário, esse ar sujo, deprimente e emo adotado pelo personagem de Pattinson soa bem mais psicodélico e instigante. O olhar sórdido de Reeves para sua versão de Batman, resgata a nostálgica essência dos antigos quadrinhos, desconstruindo a imagem de ‘playboy’ do vigilante de Gotham.
The Batman já começa de maneira inesperada e surpreendente apresentando uma Gotham arruinada pela sujeira e violência caracterizada por uma ambientação fria, chuvosa e psicodélica. Não é aquele começo que você espera de um filme de herói, e isso é abastecido satisfatoriamente pela linda versão bucólica de "Ave Maria" de Schubert, que logo em sequência encontra a versão sombria de "Something In The Way" do Nirvana. Reeves não perde tempo com explicações e contextualizações de personagens. Isso é ótimo. Você reconhece que está diante de um filme equilibrado, tenso e perturbador, e suas quase três horas de duração irão passar em um piscar de olhos.
A premissa assombrosa de The Batman, segue Bruce Wayne (Robert Pattinson), após dois anos sendo herói de Gotham, apavorando os vilões da escura cidade. Com apenas alguns aliados de confiança- Alfred (Andy Serkis) e o Tenente James Gordon (Jeffrey Wright) - entre a rede corrupta de funcionários e figuras importantes do distrito, os dois vão entrar em um jogo de caça entre gato e rato, para desvendar os enigmas do vilão Charada (Paul Dano). Nessa jornada psicótica vilões clássicos como o Pinguim (Colin Farrel) também entram em cena e para tentar solucionar isso tudo em meio aos seus conflitos internos, Batman vai contar com a ajuda de Selina Kely- A Mulher Gato (Zoe Kravitz).
The Batman traz toda aquela saborosa ambientação Noir - com camadas corajosas e viscerais. Robert Pattinson simplesmente cala a boca de todos seus “inimigos” ao entregar uma performance vulnerável e aterrorizante no filme de Reeves.
Geralmente essas críticas surgem de pessoas que ainda não perceberam o talento de Robert e o quanto ele tem se destacado em produções mais alternativas. É preciso apagar Edward Cullen, ele ficou no passado. Aqui ele encarna um Bruce angustiado e solitário tentando ser o herói que Gotham precisa, enquanto tem que lidar com seus próprios sentimentos. A conexão com Kurt Cobain do Nirvana, é ressaltada pela melancolia que gira em torno do personagem e da chuva que está sempre presente em Gotham tornando as noites mais áridas e frias. E assim como Kurt, Bruce lida diariamente com seus demônios internos. A versão de Something In The Way caiu como uma luva para o personagem de Pattinson.
A ambientação do filme é algo que intensifica ainda mais a atmosfera introspectiva, sempre com cores escuras caracterizando ainda mais que Batman é um vigilante da noite. Nesse ponto, a trilha sonora articulada por Michael Giacchino (parceiro de longa data de Reeves) conseguiu magistralmente capturar a essência e contextualização do filme. Sua trilha é dosada por pavor e escuridão e intensifica cada cena do filme. Não é atoa que está sendo uma das trilhas mais comentadas no momento. Giacchino trouxe pavor, emoções e o clima atmosférico que um filme como esse requer.
O roteiro também foi muito bem produzido. Mattson Tomlin e Peter Craig ao lado de Reeves, deram vida a um novo Batman. Você até pode conhecer toda a história, mas aqui temos algo totalmente distinguido e fúnebre. É um novo olhar sobre um dos heróis mais adorados do universo DC. Martin Scorsese pode se sentir homenageado. The Batman possui vários elementos que remetem ao clássico cult Taxi Driver de 1976, com certeza em algum momento do filme você vai se lembrar da icônica frase proferida pelo amargurado Travis Bickle vivido pelo exuberante Robert De Niro: "uma chuva de verdade para levar embora toda a escória das ruas”.
As atuações são soberbas e exuberantes. Pattinson realmente entrou de cabeça no personagem. Ele é o nosso Batman. Paul Dano como Charada está brilhante e insano. Colin Farrel como Pinguim está irreconhecível e surpreendente, e se saiu muito bem no personagem. Zoe Kravitz como Mulher-Gato trouxe aquele clima sedutor e atraente para o lado sombrio do cavaleiro de Gotham. A Mulher-Gato se encaixa perfeitamente como um elo de dois mundos (você vai entender quando assistir). E antes que eu me esqueça o Batmóvel é outro elemento atrativo do filme com uma característica totalmente retro, e segundo Matt Reeves, o carro foi inspirado no clássico filme ‘Operação França’ de 1971.
The Batman é um filme bem mais perturbador do que você pode esperar, Matt Reeves conseguiu canalizar todos os medos e desapontamentos do nosso atual cenário político, com elementos de sobra de filmes clássicos de gângster com uma contextualização que enfrenta os desafios do mundo moderno. Isso tudo pode parecer exagerado,pop, questionador e reflexivo, mas toda vez que ele surge das sombras diz algo sobre nós mesmos.
Ficha Técnica:
Batman (2022)
The Batman
Ano: 2022
País: EUA
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves, Peter Craig e Mattson Tomlin
Duração: 175 min
Elenco: Robert Pattinson, Zoë Kravitz, Jeffrey Wright, Colin Farrell, Paul Dano
Avaliações: Rotten Tomatoes/IMDB
NOTA DO CRÍTICO: 8,5
Assista ao trailer abaixo:
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