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Foto do escritorTiago Meneses

Em 'Faire ça', Meril Wubslin oferece um som folk com toques vanguardistas e grooves hipnóticos

As incursões vanguardistas trazem produção moderna e estruturas não convencionais, enquanto grooves hipnóticos oferecem ritmos cativantes

Meril Wubslin
Foto: Bandcamp


Já se passaram quatro meses desde o lançamento de Faire ça, o mais novo disco do trio suíço Meril Wubslin. No entanto, quando o ouvi pela primeira vez, desconhecia por completo seus três discos anteriores. Fazer uma resenha sem ter qualquer referência do que a banda já havia produzido até então poderia me levar a criar um texto cheio de equívocos. Para abordar o álbum de maneira justa e informada, precisei mergulhar nos trabalhos anteriores da banda, pois isso me permitiu compreender melhor a evolução do som e da identidade musical do grupo.


No início, essa abordagem acústica tinha como característica uma sonoridade simples e intimista, além de arranjos minimalistas que incursionavam uma pureza em suas melodias e harmonias, porém, à medida que a banda cresceu e se desenvolveu sonoramente, começaram a experimentar novas técnicas de produção e influências. A inclusão dessas novas texturas ampliou o alcance emocional e a profundidade de suas composições, dando ao som da banda uma fusão de suas raízes acústicas com essas novas influências e experimentações.


Falando grosso modo, hoje a Meril Wubslin tem um estilo que pode ser descrito como folk psicodélico/folk de vanguarda. Sua abordagem mistura elementos tradicionais do folk com influências modernas e psicodélicas, resultando em uma sonoridade intrigante. A banda é frequentemente comparada a nomes como The Velvet Underground e Leonard Cohen, mas com uma sensibilidade contemporânea que lhes dão um aspecto singular.



Faire ça oferece um som que passa pelo folk com incursões vanguardistas e alguns grooves hipnóticos. As incursões vanguardistas incorporam técnicas de produção modernas e estruturas musicais não convencionais, enquanto isso, grooves hipnóticos fornecem ritmos envolventes e padrões rítmicos cativantes que mantêm o ouvinte imerso, proporcionando uma sensação de movimento constante e fluidez do começo ao fim do disco.


Un Calme inicia o disco por meio de sua batida envolvente, vocais cristalinos que adicionam uma camada de pureza, clareza e tons de intensidade e emoção, enquanto isso, a guitarra cria uma melodia simples e acessível, porém, memorável. Tout est Curieux é uma peça que possui alguns tons góticos atmosféricos que criam um clima de mistério e intriga, enquanto se destaca pela sua capacidade de evocar imagens sombrias e enigmáticas.


Grand Espaces possui uma batida lenta que estabelece um ritmo cadenciado e contemplativo, enquanto isso, a guitarra com seus acordes repetitivos e hipnóticos cria uma sensação de continuidade e fluxo constante. Os vocais femininos melodiosos também desempenham um papel central. La Main segue o fluxo onírico do disco, agora com uma combinação belíssima de vocais feminino e masculino sobre uma instrumentação evocativa que convida o ouvinte a mergulhar em um estado de reflexão profunda.


Les Pensées apresenta um dedilhado encantador que serve de base para vocais cintilantes, destacando-se pela sua simplicidade melódica e pela delicadeza dos arranjos, criando uma atmosfera serena e introspectiva. Tout Passe possui um tom dramático sustentado por uma linha contínua de violão de aço, se destacando pela sua intensidade emocional que evoca sentimentos profundos. Famille Phare traz uma batida tribal envolvente que adiciona uma dimensão pulsante e energética à música, onde a faixa se evidencia principalmente pela sua percussão marcante e ritmada.


Pas Là tem alguns ganchos hipnóticos que evocam uma sensação simultânea de conforto e perturbação. Seus elementos sonoros são tecidos muito bem ao longo da música para criar uma atmosfera intrigante. L'eau Monte encerra o disco por meio de batidas eletrônicas constantes que de certa forma marcam uma mudança no tom e atmosfera geral do álbum, afinal, sua forma dinâmica e enérgica, contrasta facilmente com a contemplação e introspecção encontrada na grande maioria do disco.


Devido ao seu pulso melancólico e sombrio, Faire ça pode não ser um disco que captura imediatamente o ouvinte na primeira audição, podendo requerer um pouco mais de tempo para ser apreciado de maneira plena, sendo daquele tipo de álbum daqueles que muitas vezes frusta a expectativa de quem quer imediatismo, pois sua profundidade emocional e complexidade podem se revelar apenas gradualmente ao longo do tempo.



Agora, para aqueles dispostos a investir tempo e atenção, o disco certamente pode se revelar uma obra profundamente gratificante, oferecendo uma jornada musical que vai além das expectativas imediatas, recompensando a paciência e revelando suas riquezas emocionais e artísticas com cada nova audição.

 

Faire ça

Meril Wubslin 


Ano: 2024

Gênero: Folk Psicodélico, Folk de Vanguarda, Slowcore

Ouça: "Un Calme", "Grand Espaces",  "L'eau Monte"

Pra quem curte: Evelinn Trouble, Toboggan, Pierre Omer



 

NOTA DO CRÍTICO: 7,5

 

Ouça, "Grand Espaces"



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