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Em 'All Born Screaming', St. Vincent reafirma sua habilidade de explorar novos territórios criativos, mantendo sua essência

'All Born Screaming' solidifica Annie Clark como uma das artistas mais inovadoras da música contemporânea

St. Vincent
Crédito: Alex Da Corte


St. Vincent, ou se preferir Annie Clark, é uma artista multifacetada que, no decorrer de sua carreira artística, se transformou inúmeras vezes. Ela conseguiu transitar de uma cantora tímida a uma estrela do rock, passando de uma visionária amplamente conceitual para uma autêntica diva pop. Para entender melhor essa linha de raciocínio, é como se cada novo disco marcasse uma completa reinvenção pessoal e criativa, com Vincent expandindo incansavelmente sua identidade musical e explorando novos territórios sem amarras e sem medo de experimentar novas sonoridades.


E este conceito, ou melhor dizendo, padrão, se mantém poderosamente em 'All Born Screaming' (2024), seu primeiro trabalho produzido totalmente por ela mesma, livre da parceria com Jack Antonoff, que atuou em seus discos anteriores. Aqui, ela encontra o equilíbrio perfeito entre o experimentalismo já conhecido em sua trajetória desde o álbum homônimo de 2014 e uma busca por uma sonoridade mais pop e acessível, processo que se estabeleceu na música de Clark a partir de 'Masseduction' (2017).



O resultado dessa jornada surge em dez canções que capturam a essência e o melhor do processo criativo de Vincent. 'All Born Screaming' é recheado de serenidade, suavidade, caos e elementos estranhos. Sabe aquelas obras que te puxam para uma viagem complexa e profunda? Annie Clark faz isso aqui com primor, e essa sensação se expande até os momentos finais do disco.


Contrastes que são bem pontuais na faixa "Broken Man", que foi a primeira canção escolhida para apresentar o novo trabalho ao público. Uma mistura agridoce de versos poéticos inquietantes com uma sonoridade repleta de reviravoltas. A música possui um ritmo convidativo para se entregar de vez ao processo de St. Vincent e aonde ela quer nos levar nessa viagem repleta de surpresas. O que não falta em 'All Born Screaming' são momentos catárticos com aquela pegada visceral do rock industrial feito pelo Nine Inch Nails, é justamente o que se torna atraente e sedutor no disco e sublinha a força da artista.



Em "Flea", mesmo, ela consegue explorar ao máximo suas limitações criativas e processo experimentalista sem comprometer a coesão e pegada rítmica contínua da canção. A música ainda traz uma letra provocativa e destaque para a bateria tocada por Dave Grohl. Esse é o momento do álbum onde ela te leva por uma paleta sonora que causa uma das reviravoltas mais significativas do álbum. A faixa possui uma pegada mais para um rock agressivo que logo se vai para deixar entrar o deslumbrante funk industrial de "Big Time Nothing", algo entre Trent Reznor e o brilho e magia de Prince.



Esse é o ponto fascinante de um disco de Vincent: ela é dona dessa capacidade de se auto desafiar e transformar sua identidade sonora. Não seria um exagero dizer que ela pode muito bem ser a versão feminina de David Bowie. "Sweetest Fruit" é outra baita surpresa no bloco final do álbum, uma canção pop atmosférica que acaba criando uma imagem onírica na mente do ouvinte. A canção é uma homenagem a todos os artistas queer. Nessa parte final do disco, ela se permite transitar pelo reggae na ótima "So Many Planets", uma paisagem um pouco mais descontraída para equilibrar a viagem do ouvinte. Minutos depois, na faixa-título, uma colaboração com Cate Le Bon, a direção musical muda novamente, demonstrando a versatilidade da artista.



'All Born Screaming' solidifica Annie Clark como uma das artistas mais inovadoras da música contemporânea, entregando um álbum que é ao mesmo tempo inquietante e cativante, reafirmando sua habilidade de explorar novos territórios criativos sem perder a essência que define sua obra.

 

All Born Screaming

St. Vincent


Ano: 2024

Gênero: Rock, Indie, Alternativo

Ouça: "Broken Man", "Sweetest Fruit",  "Big Time Nothing"

Humor: Elegante, Sensual, Agridoce

Pra quem curte: Angel Olsen, Fiona Apple


 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 







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